Diante do potencial de demanda de financiamento para os projetos de infraestrutura, que estima-se que devem requerer mais de R$ 1 trilhão em investimentos até 2016, os gestores de “private equity” estão preparando o lançamento de carteiras com foco nesse setor. Estão em captação no mercado 12 fundos, que pretendem levantar pelo menos R$ 9,5 bilhões voltados para a aquisição de participação em empresas ou em projetos dos mais variados setores de infraestrutura, que incluem logística, energia, transportes e portos.
A Caixa está captando dois fundos de investimento em participação (FIPs) voltados para o setor de infraestrutura, sendo uma carteira lançada em parceria com o Banco Espírito Santo (BES), que prevê levantar R$ 500 milhões com investidores locais, e outro fundo de US$ 1 bilhão, que contará com distribuição para estrangeiros.
Outros bancos, como BTG Pactual e Santander, e gestoras tradicionais no setor de infraestrutura, caso de Angra, a americana Darby Overseas e a BRZ Investimentos, também estão estruturando fundos voltados para o setor. O BTG, por exemplo, pretende levantar R$ 1,5 bilhão com um novo fundo de private equity.
Só o pacote de concessões de ferrovias e rodovias de R$ 133 bilhões, anunciado pelo governo federal no ano passado, demandará investimento de R$ 79,5 bilhões nos próximos cinco anos. Ainda estão previstos para este ano a licitação de concessões importantes na área de aeroportos, como no caso dos terminais de Confins, em Minas Gerais, e do Galeão, no Rio de Janeiro, além da primeira etapa do projeto do trem-bala, que deve demandar no total R$ 35 bilhões.
A Mantiq Investimentos, gestora de private equity do Santander, pretende captar um segundo portfólio voltado para o setor de infraestrutura. “Diante dos tíquetes mais elevados que serão exigidos pelos novos projetos, o fundo terá que ter um patrimônio de pelo menos R$ 1 bilhão”, diz Marcos Matioli, diretor-executivo da Mantiq. O portfólio terá flexibilidade para entrar tanto no capital dos projetos como no suporte de crédito por meio da compra de títulos de dívida.
O primeiro fundo da gestora, o InfraBrasil, lançado em 2004, possui R$ 1,2 bilhão de patrimônio e já está todo investido. A Mantiq tem interesse em participar de alguns projetos de mobilidade urbana. No setor de energia, a preferência é por projetos de biomassa e termoelétricas. “Não queremos entrar em grandes obras como Jirau e Belo Monte, que têm prazos muito longos de desenvolvimento”, diz Matioli.
A gestora JG Capital, especializada em produtos estruturados, também pretende lançar um FIP voltado para o setor de infraestrutura neste mês. A ideia é captar R$ 400 milhões para investir em empresas da cadeia de produção, com faturamento entre R$ 50 milhões e R$ 400 milhões. “As grandes companhias do setor de infraestrutura já estão muito caras e, por isso, optamos por focar na cadeia de fornecedores”, afirma Ricardo Ribas Lima, responsável pela gestora.
A JG Capital tem identificado oportunidades no segmento de portos e ferrovias. “Estamos analisando alguns investimentos ligados ao escoamento da produção de grãos no Centro-Oeste, Norte e Nordeste”, afirma Lima.
Já na área de portos, o foco é em prestadores de serviços ligados a investimentos nas vias de acesso aos terminais portuários.
O governo anunciou no fim de 2012 investimentos de R$ 54,2 bilhões no setor portuário até 2017.
A revitalização da área do porto Cais Mauá, em Porto Alegre, por exemplo, deve ser financiada por fundos. A gestora carioca NSG Capital, que faz parte do consórcio responsável pela obra, formado pela espanhola GSS e a Contern, do grupo Bertin, está estruturando dois portfólios para a construção do empreendimento, que deve demandar R$ 560 milhões.
A ideia é levantar R$ 450 milhões por meio do lançamento de um fundo imobiliário (FII) e de um fundo de participação no capital da holding. “Já estamos em fase de estruturação do fundo imobiliário, de cerca de R$ 200 milhões, que serão investidos na construção do complexo com um hotel e duas torres comerciais”, afirma Paulo Lima, diretor comercial da NSG.
A conclusão da primeira etapa do projeto está prevista para 2014 e envolve a revitalização da parte portuária à margem do rio Guaíba, semelhante ao modelo desenvolvido na região de Puerto Madero, em Buenos Aires. O projeto inclui ainda um shopping center, que será construído por operador privado, e uma área de entretenimento, que será operada pela Coca-Cola.
A BRZ Investimentos também planeja participar dos novos projetos nas áreas de portos por meio da empresa LogZ, criada em 2010 para gerir os investimentos da gestora no setor de logística.
O primeiro fundo, o Brasil Logística FIP, de R$ 500 milhões, já está todo investido, e a BRZ está captando um segundo portfólio, cuja previsão é chegar a R$ 900 milhões segundo prospecto registrado na Comissão de Valores Mobiliários.
Atualmente, a LogZ detém participações em quatro empresas do setor portuário localizadas em Santa Catarina. “Vemos oportunidades nos setores de logística voltada para o transporte de cargas, ferroviário, portos e armazenagem”, afirma Nelson Rozental, sócio-diretor da BRZ.
A gestora prefere investir em empresas responsáveis pelos investimentos no setor, como fez com a ALL em ferrovias, do que entrar diretamente em projetos. “Isso torna mais fácil o desinvestimento”, diz Rozental.
A Darby também está captando um segundo fundo mezanino, que investe na compra de debêntures que podem ser convertidas em ações, com previsão de levantar R$ 450 milhões segundo apurou o Valor. O primeiro fundo, lançado em 2008 pela Darby Stratus, de R$ 387 milhões, está com 70% da carteira comprometidos, tendo investido em quatro empresas. “O fundo mezanino se provou interessante porque a saída do investimento se dá pela amortização dos papéis”, diz Eduardo Farhat, diretor da Darby Private Equity. O alvo da Darby são empresas com faturamento entre R$ 100 milhões e R$ 150 milhões.
A Rio Bravo Investimentos também pretende lançar uma carteira de renda fixa que pode chegar a R$ 600 milhões para financiar diretamente projetos nas áreas de portos, aeroportos, rodovias e ferrovias, incluindo a parte de transporte urbano, afirma Fábio Okamoto, sócio-diretor da Rio Bravo. A gestora também avalia a possibilidade de montar um FIP, de R$ 400 milhões a R$ 500 milhões, para investir nesses projetos.
Fonte: Valor Econômico, Por Rosana Rosa
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