Azul, Trip e Avianca transportaram um terço dos passageiros que viajaram no País em janeiro.
Nessas férias de janeiro, uma em cada três pessoas que viajou de avião pelo Brasil foi levada pelas empresas “menores” do setor aéreo – Trip, Azul e Avianca. Por conseguirem atuar de forma rentável em cidades pequenas e médias, elas ganharam participação no mercado doméstico, ainda bastante concentrado nas mãos de TAM e Gol. Agora, buscam espaço também no aeroporto de Congonhas, na maior metrópole do País.
Em janeiro de 2011, TAM e Gol dominavam 86,5% do mercado nacional, enquanto as três menores detinham uma participação total de 13,5%. De lá para cá, as caçulas conquistaram terreno de forma mais ou menos constante.
No mês passado, a mudança no cenário já podia ser notada: TAM e Gol somavam 77,2%, e Trip, Azul e Avianca chegaram a 22,8% do chamado “market share” das aéreas. Ou seja, em dois anos, 10% do mercado brasileiro mudou de mãos.
Na semana passada, uma reunião da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear) para divulgar dados do setor mostrou que essa transformação está em pleno curso. O relatório apresentado apontava que, na comparação entre janeiro e dezembro, a Trip foi a empresa que mais aumentou a oferta de assentos (13,13%), a que mais se aproveitou do aumento da demanda de passageiros (24,75%) e a que teve maior ganho de aproveitamento na ocupação dos voos (7,15%).
A explicação, segundo especialistas, é que a aviação brasileira “cresceu para o interior” nos tempos recentes. “TAM e Gol usam aviões grandes, e não é toda cidade que elas conseguem operar com esses aviões cheios”, diz Adalberto Febeliano, consultor técnico da Abear e ex-diretor da Azul. “As empresas ‘menores’ aproveitaram que Gol e TAM saíram dessas rotas menos rentáveis para ganhar participação”, diz Cláudia Oshiro, economista que acompanha o setor na consultoria Tendências.
As cidades médias veem de perto a transformação. Naquelas que têm movimento suficiente para atrair TAM e Gol, a concorrência é forte. Maringá (PR) tem 18 voos diários, divididos por Azul, Trip e Gol. Londrina (PR) tem 12, operados por TAM, Gol, Azul e Trip.
As quatro empresas também disputam os passageiros de Uberlândia (MG), uma cidade com 620 mil habitantes e que possui nada menos que 29 voos diários. “Num lugar como esse, as tarifas normalmente são menores, porque existem mais opções”, diz Febeliano.
Em outros casos, as companhias brigam em mercados distintos. A Azul/Trip – as empresas se uniram em maio do ano passado – terá, por exemplo, voos diários em Pelotas (RS), mas será a única a operar diariamente no município, que tem 320 mil habitantes.
“As ‘menores’ ganharem participação não significa que a concorrência aumentou, porque elas disputam mercados diferentes. Na verdade, a TAM e a Gol também cresceram nos últimos anos, mas as outras cresceram mais”, explica Febeliano.
Esses mercados, contudo, podem se sobrepor – e não apenas em cidades “médias” como Londrina e Uberlândia. Nas últimas semanas, o setor trava um debate sobre o uso do aeroporto de Congonhas, em São Paulo.
A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) divulgou que irá rever a norma que regulamenta o uso de aeroportos no País. A Secretaria de Aviação Civil (SAC), então, propôs um texto específico para mudanças em Congonhas.
No projeto, as empresas que mais usam o aeroporto, TAM e Gol, perderiam espaço de operação para Azul e Trip. “Congonhas é uma exceção, porque ainda é muito concentrado em Gol e TAM”, diz Febeliano.
Para resolver a questão, a Abear propõe que se aumente o número de voos em Congonhas . Assim, o bolo que Azul e Trip agora cobiçam ficaria maior – e mais fácil de ser dividido. Mas fontes afirmaram que o governo descarta aumentar a frequência de voos no terminal.
O bolo das aéreas
Participação das principais companhias no mercado doméstico
Se a Azul/Trip cresceu ao aumentar a presença no interior do País, o caso da Avianca é diferente. A companhia dos irmãos José e Germán Efromovich pulou de 2,72% para 6,3% de participação no mercado nacional em dois anos, praticamente sem expandir o número de rotas. Mas a compra de 18 aviões da Airbus nesse período fez a capacidade pular de 240 mil para 615 mil assentos-quilômetro (índice que o setor usa para medir a oferta das companhias).
“Em 2013, planejamos ampliar nossa oferta em 22%”, afirma Tarcisio Gargioni, vice-presidente comercial e de marketing da companhia. Em maio, a Avianca começa a receber os cinco Airbus 318 programados para chegarem neste ano. “Estamos estudando a possibilidade de trazer mais, que seriam outros modelos Airbus”, diz o executivo. No processo, alguns Fokker 100 da empresa serão aposentados – são 12 em operação, que estão sendo tirados de uso aos poucos.
O resultado é que a Avianca teve o primeiro lucro da história em 2012, como adiantou o iG , ano em que as principais aéreas do país registraram fortes prejuízos.
Nos EUA, fusões
Se no Brasil a concorrência parece aumentar, nos EUA uma série de fusões têm reduzido o número de empresas aéreas no país. Neste mês, a US Airways e a American Airlines anunciaram u ma união que criou a maior companhia do mundo no setor.
Foi a quarta grande operação do tipo na indústria aérea norte-americana desde 2008, quando a Delta Air Lines comprou a Northwest. United e Continental se uniram em 2010, e a Southwest Airlines comprou a rival AirTran Holdings em 2011.
“Nos EUA, a busca da solução (para os balanços ruins das companhias) tem sido apostar na consolidação”, disse Eduardo Sanovicz, presidente da Abear, numa recente coletiva de imprensa.
“É complicado prever qual será o impacto dessa maior concorrência nos balanços das companhias brasileiras, o cenário está indefinido uma vez que o mercado espera uma recomposição nos preços das passagens para este ano”, afirma Oshiro, da Tendências.
Fonte: IG, Por Pedro Carvalho
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