Enquanto acumulam crescimento na movimentação de cargas em 2012 – o Porto de Santos (SP), por exemplo, registrou aumento de 7,6% em relação a 2011 -, os terminais brasileiros enfrentam um desafio para continuar em expansão.
A falta de uma infraestrutura adequada de transporte, principalmente em relação a acessos rodoviários e ferroviários, prejudica e atrasa o desenvolvimento do setor portuário.
A Pesquisa CNT do Transporte Marítimo 2012, divulgada em dezembro passado, confirma o quadro. Os agentes marítimos entrevistados em 15 estados do país indicaram o item ‘Acesso Terrestre Deficiente’ como uma das principais dificuldades enfrentadas pelo setor. Para 73,1% dos que responderam ao questionário, a situação é muito grave ou grave neste quesito.
No caso dos acessos rodoviários aos terminais portuários, o levantamento classifica 61,3% como inadequados – os principais gargalos são travessia por área urbana, engarrafamento de veículos de carga, vias em precário estado de conservação, falta de segurança e roubos de carga.
Em relação às ferrovias, a pesquisa classificou 29,3% dos acessos como impróprios. Os maiores entraves são falta de infraestrutura ferroviária e portuária para embarque e desembarque de cargas, portas de entrada em péssimo estado de conservação e travessia por área urbana. A CNT também indicou que 44,3% dos agentes entrevistados não utilizam este tipo de modal.
Diante deste quadro, os acessos terrestres são o grande desafio no futuro para melhorar a eficiência dos complexos portuários.
É o que afirma o presidente da Federação Nacional das Agências de Navegação Marítima (Fenamar), Glen Gordon Findlay. “Isso é essencial para aumentar os terminais e a movimentação portuária, a entrada e saída das cargas”, destaca.
As melhorias trariam benefícios ao mercado brasileiro. “A balança comercial se faz por meio dos portos e navios. É fundamental para o país a existência de canais de acesso, internos e externos, para facilitar a exportação brasileira”, destaca à Agência CNT de Notícias o presidente da Federação Nacional das Empresas de Navegação Marítima, Fluvial, Lacustre e de Tráfego Portuário (Fenavega), Meton Soares.
Meton afirma que os gargalos são responsáveis por diminuir a eficiência das operações portuárias. “É preciso ter meios de acesso rápido à carga dentro dos portos, para economizar tempo e ter eficiência. Não é o navio que espera pela carga, é a carga que espera pelo navio. É preciso melhorar os acessos rodoviários, ferroviários e hidroviários”, reivindica.
De acordo com Meton, que também é vice-presidente da Confederação Nacional do Transporte (CNT), os problemas serão solucionados quando o transporte começar a ser pensado de forma integrada, e não apenas sob a ótica do porto.
“É preciso ter objetividade e ir ao encontro daquilo que o Brasil necessita, uma balança comercial eficiente, para exportar mais barato e ser mais competitivo”, pontua Meton.
Meton traça uma comparação com a soja produzida na região central dos Estados Unidos e a do cerrado brasileiro. “O produto norte-americano chega muito mais barato no mercado que o brasileiro, justamente por causa destas dificuldades de transporte. Falta espaço para armazenamento [silagem] nos portos e no destino final. Tudo isso aumenta o custo operacional”, alerta.
Agricultura
A ineficiência da infraestrutura de transportes também prejudica a produção de grãos. O consultor técnico para assuntos de Logística e Infraestrutura da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), Luiz Antônio Fayet, alerta que o Brasil, por causa dos gargalos portuários, deixou de produzir três toneladas na safra do ano passado.
Mas existe potencial para crescer e evitar os desperdícios. De acordo com Fayet, 80% e 70% dos mercados mundiais de soja e milho, respectivamente, são abastecidos por Brasil, Estados Unidos e Argentina.
“Ao contrário do Brasil, os outros dois países estão no limite das áreas de incorporação ao agronegócio. Não há para onde crescer, mas o Brasil pode multiplicar”, explica à Agência CNT.
Fayet manifesta preocupação com a falta de infraestrutura para suportar o aumento da produção brasileira. “Em 2013, devemos ter 15 milhões de toneladas a mais de grãos para exportar. É um volume brutal, o equivalente a toda movimentação do Porto de Paranaguá (PR) em 2012. Não podemos assistir a este apagão portuário”, critica.
Uma das soluções, indica o consultor da CNA, é o pacote de incentivo aos portos, lançado pelo governo federal no final de 2012.
“Estamos esperançosos com o pacote. Quando racionalizarmos os custos logísticos, vamos aumentar o poder competitivo da soja, milho e outros setores como carne, celulose e cana. Vamos multiplicar as oportunidades econômicas”, diz Fayet.
Ele pontua outro problema que encarece os produtos brasileiros e pode ser sanado com o programa do governo. “Como temos uma infraestrutura ainda mais precária no Norte [portos, rodovias e ferrovias], temos que descer com as mercadorias para escoá-las, rodando entre 500 e 1000 km a mais. À medida que nos afastamos da tradicional infraestrutura portuária, gastamos mais com logística”, explica.
Mas em relação ao pacote de portos, Meton e Glen, dirigentes da Fenavega e Fenamar, fazem um alerta. Eles reconhecem a intenção da presidente Dilma em contribuir com o setor empresarial e torná-lo mais competitivo. No entanto, afirmam que a análise da Medida Provisória 595, que regulamentou o assunto, é prematura e exige cautela.
Porto de Santos
Acessibilidade. Esta é uma das principais preocupações da autoridade Portuária de Santos, o maior terminal do país e um dos maiores da América Latina. Em 2012, os destaques na movimentação de cargas do terminal foram a soja, milho, álcool e cargas conteinerizadas.
Desde 2010, a empresa realiza estudos para identificar gargalos nos acessos à região portuária e propor soluções para atender com eficiência a crescente demanda da movimentação de cargas no complexo santista.
“Além da implantação das avenidas perimetrais em Santos e no Guarujá, ampliando o número de pistas, melhorando acessos aos terminais e criando faixas de estacionamento dinâmico, o projeto prevê instalação de viadutos com a finalidade de eliminar os conflitos entre os modais rodoviário e ferroviário”, explica o diretor presidente das Companhia Docas do Estado de São Paulo, Renato Barco.
Barco informa que a meta é buscar maior equilíbrio e ampliar de 24% para 35% o total de cargas escoadas pelo modal ferroviário.
Ele destaca que, para alterar a configuração da matriz de transporte, é necessária uma série de medidas além dos limites do porto. “São obras com caráter de urgência para melhorar a acessibilidade do transporte de cargas”, finaliza.
Fonte: CNT, Por Rosalvo Streit
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