quinta-feira, 18 de abril de 2013

Sindicato dos Trabalhadores de Empresas Ferroviários da Zona da Sorocabana





A história da existência de Entidade defensora dos interesses dos ferroviários da Sorocabana tem início por volta de 1914.
Com a criação da Estrada de Ferro Sorocabana em 10 de Julho de 1875 seu funcionamento e expansão contínua até 1937, aconteceu um forte impulso para o início do crescimento fabril de Sorocaba, para o incremento do povoamento da chamada Zona da Alta Sorocabana e de sua produção agropecuária visando o consumo regional e da capital do estado. Embora a ferrovia tenha nascido para viabilizar a exportação de algodão da região em que Sorocaba se destacava como cidade comercial tradicional, essa função pouco pôde ser levada adiante devido à crise que a forte concorrência norte americana trouxe para a exportação algodoeira regional, fato bastante destacado na historiografia sobre o assunto. Há algum tempo, a história daqueles que instalaram os trilhos e os mantiveram transitáveis, que fizeram as máquinas funcionarem, deram manutenção, fazendo os trens percorrerem as linhas, começou a ser contada. São histórias fragmentadas, contando a vida cotidiana de trabalhadores cientes de sua importância no desempenho de funções que fizeram a grandeza da empresa e colaboraram com a criação de riquezas, realizando seu transporte. Com base no que indicam os documentos preservados no Museu da Sorocabana e no Museu Histórico Sorocabano, desde o início da construção e da operação da ferrovia, a maior parte dos ferroviários era formada por brasileiros, especialmente por trabalhadores ferroviários provenientes dos municípios atendidos pela ferrovia. Brasileiros ou estrangeiros, vindos do interior paulista e de vários outros estados brasileiros, os ferroviários sempre demonstraram orgulho profissional elevado. Tinham consciência de sua importância econômica regional, estadual e mesmo, nacional. Sabiam que a economia brasileira era dependente da exportação de produtos como o café e da importação de grande quantidade de produtos industrializados. O transporte desses produtos para os portos ou deles para o interior do país, só poderia ser feito com maior eficiência, através da ferrovia. Nessa época já era forte a exploração do trabalhador por parte da empresa.
Desde o ano de 1897, os ferroviários da Sorocabana começaram a criar Entidades destinadas ao seu auxílio. Inicialmente, eram Entidades de ajuda ou socorro mútuo que tinham a função de servir como seguro saúde já que mantinham médicos, de auxílio educacional vez que mantinham professores alfabetizadores, de auxílio funeral para seus sócios e, ainda, principalmente, de previdência coletiva. Isso se dava porque não existia qualquer sistema social de saúde ou de previdência social destinado aos trabalhadores até o início dos anos 1920 e a educação pública era limitadíssima, mal atingindo uma parcela da população. Foram criadas várias Entidades, que sempre tiveram enormes dificuldades financeiras para cumprir suas missões.
Muito embora a remuneração dos ferroviários pudesse ser considerada uma das melhores dentro da classe trabalhadora de forma geral, as condições de trabalho e a exploração sofrida pelos ferroviários também foi grande. Entre os anos de 1914 à 1919, viveram às voltas com extensas jornadas de trabalho que entre os maquinistas chegava a 16 horas diárias; com defasagem salarial e insegurança no trabalho, com freqüentes acidentes, alguns fatais, como contam os jornais da época.
A partir daí, para fazer frente a esses problemas, precisaram organizar outros tipos de Entidades que teriam então, funções diversas das mutualistas já existentes. Seriam as Uniões operárias e sociedades de resistência que tinham como objetivo a representação e a defesa dos interesses coletivos de seus associados, organizando manifestações e até greves parciais. Deveriam buscar acordos ou pressionar a Administração da empresa para que os fizessem. Para isso, denunciavam na imprensa operária e local seus problemas, buscando inclusive a intermediação de políticos e de autoridades, especialmente de delegados de polícia. No início do século XX, os delegados de polícia, além de exercerem suas funções de segurança pública, muitas vezes eram requisitados para resolverem ou ajudarem a encontrar soluções para questões sociais e trabalhistas, entre outras.
Como nem sempre essas denúncias e intermediações eram suficientes para a resolução satisfatória de seus problemas, as Entidades representativas dos ferroviários apelavam para a luta, organizando manifestações e deflagrando greves. Evidentemente, essas eram atitudes de risco, pois não havia qualquer direito de greve regulamentado e corriam por isso mesmo, o risco de severas punições e de repressão policial resultando muitas vezes em prisões e demissões de trabalhadores. Algumas vezes, esses conflitos chegaram a produzir feridos.
As primeiras greves de vulto dos ferroviários da Sorocabana, envolvendo trabalhadores de Sorocaba, Mairinque, Piracicaba e Botucatu, foram as de 1914 e 1919. Ambas terminaram vitoriosas, sendo que pouco depois do encerramento da última, o Governo do Estado de São Paulo rompeu o contrato de arrendamento da Sorocabana com o consórcio internacional Sorocabana Railway, encampando-a até a criação da FEPASA, em 10 de Novembro de 1971. Sob administração estatal desde o final de 1919, a Estrada de Ferro Sorocabana, como passou a denominar-se, teve um de seus períodos mais prósperos.
As Entidades de resistência como a União Geral dos Ferroviários, da qual encontramos notícias nas greves de 1914 e 1919, não duraram muito. Em 1920 surgiam muitos apelos para sua reorganização, sendo que os anarquistas eram os principais militantes operários e os principais ativistas na imprensa proletária e organizadores das Uniões e das Ligas operárias de resistência; eles desprezavam os políticos em geral.
Depois da Revolução de 1930, com o decreto nº 19.770 que regulamentava a sindicalização no Brasil durante a Era Vargas, surgiu em Abril de 1931 no Estado, o Sindicato dos Ferroviários de São Paulo que dissolveu-se em meados de 1932, dando origem aos Sindicatos por empresas.
Após a chamada Revolução Constitucionalista de 1932, aos 26 de dezembro desse ano, foi oficialmente criado o Sindicato dos Ferroviários da Estrada de Ferro Sorocabana, sendo reconhecido pelo Ministério do Trabalho em 14/06/1933. Durante os oito anos de existência desse Sindicato ele se tornou um dos maiores sindicatos da América do Sul em número de associados, cerca de onze mil trabalhadores sindicalizados.
O Sindicato dos Ferroviários da Estrada de Ferro Sorocabana conquistou uma grande força social, demonstrada na grande greve de 1934, a qual por quatro dias, paralisou grande parte do tráfego da ferrovia em Sorocaba, São Paulo, Assis, Botucatu, Itapetininga e Mairinque. Estiveram envolvidos nessa greve alguns milhares de trabalhadores. A greve acabou com a vitória nominal dos ferroviários que tiveram suas reivindicações aceitas pela empresa e pelo governo do estado, mas não cumpridas até 1937, quando uma greve branca de mais de um mês semi paralisou as oficinas de Sorocaba, forçando finalmente o atendimento das reivindicações operárias pela empresa.
Essa força social do Sindicato dos Ferroviários da Estrada de Ferro Sorocabana acabou por se traduzir também em força política pois, para a Constituinte de 1934 os ferroviários elegeram o Secretário de seu Sindicato, o jovem Armando Avellanal Laydner como seu representante. Em seguida, Laydner foi eleito Presidente do Sindicato.
Nesses anos da década de 1930, houve intensa disputa de força entre os sindicalistas e a Administração da EFS, especialmente no período em que Gaspar Ricardo Jr. foi Diretor da estrada. Essa disputa aconteceu entre os sindicalistas e trabalhadores ligados politicamente com a Administração e partidos políticos representantes dos empresários e latifundiários cafeicultores. A disputa se traduzia na concorrência por sócios entre o Sindicato dos Ferroviários da Estrada de Ferro Sorocabana – SFEFS – e Entidades favoráveis à empresa, como o Centro Ideal Ferroviário, Centro dos Telegrafistas da Sorocabana e a Associação Profissional dos Empregados da Sorocabana.
Mesmo entre os sindicalistas, houve pesada disputa pela direção do Sindicato dos Ferroviários da Estrada de Ferro Sorocabana – SFEFS. Os socialistas de influência tenentista de esquerda, os comunistas e os getulistas disputaram agressivamente entre si a direção do poderoso e rico Sindicato. Cada grupo queria influenciar o enorme conjunto de trabalhadores conforme suas orientações políticas e ideológicas, alguns contra o Governo Vargas e o integralismo, levando-os a participar da Aliança Nacional Libertadora e do PCB até 1935, outros os apoiadores de Vargas. Os getulistas acabaram vencedores com a prisão e esfacelamento de seus opositores entre 1935 e 1937, início do Estado Novo.
O conjunto dos ferroviários influenciou a política de vários municípios onde ele era socialmente importante. Alguns foram eleitos vereadores e em Sorocaba, contou com o apoio da forte e numerosa classe operária da cidade.
O Sindicato foi fechado por ordem do Governo Vargas em 1940. Em 17/11/1940 aconteceu a Assembléia de dissolução do Sindicato, autorizando a transferência de todo o patrimônio da Entidade para a Cooperativa de Consumo dos Ferroviários da Sorocabana.
Posteriormente, em 1951, foi criada a União dos Ferroviários da Estrada de Ferro Sorocabana; em 16 de Janeiro de 1971 foi fundada a Associação Profissional dos Trabalhadores em Empresas Ferroviárias da Zona Sorocabana, única Entidade registrada, em 09/09/1971, na Delegacia Regional do Trabalho do Estado de São Paulo no livro 05, página 153 e, finalmente em 22 de Março de 1974, depois de mais de três anos de lutas, foi reconhecido pelo M.T.P.S. sob nº 300.304/73, o Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Ferroviárias da Zona Sorocabana que é o atual representante da categoria na base Sorocabana.
Hoje, passadas tantas décadas do início de sua luta por nossos direitos e por uma sociedade mais justa, onde muito de nossa luta virou história, nós do Sindicato dos Ferroviários da Sorocabana ainda continuamos nessa luta descontínua e nem sempre conexa, por novas conquistas e também pela preservação dos direitos trabalhistas conquistados pelos ferroviários.
Nossa luta não tem prazo para acabar; ela sempre existirá!!!
S.T.E.F.Z.S.

Comentário Setorial 

Pelas informações disponíveis o STEFZS não está filiado a nenhuma central de trabalhadores


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