quarta-feira, 24 de abril de 2013

Dilma leva “agenda positiva” à Argentina


Cristina e Dilma: atenção a negócios que podem ter apoio dos dois governos. Foto: Roberto Stuckert Filho/PR
A presidente Dilma Rousseff deve oferecer ao governo argentino um financiamento em torno de US$ 1,5 bilhão, para obras na linha férrea de Sarmiento, uma das principais obras de infra-estrutura em planejamento na Argentina, com participação da brasileira Odebrecht.
O financiamento é uma das demandas do governo de Cristina Kirchner, com quem Dilma se encontra nesta quinta-feira, em Buenos Aires. Os argentinos querem, ainda, crédito do BNDES para construção de duas usinas interligadas, um investimento de US$ 5 bilhões para o qual Andrade Gutierrez, Odebrecht, OAS e Camargo Correa já mostraram interesse, formalmente, competindo com empresas russas e chinesas.
Dilma pretende elevar o perfil do encontro com Cristina enfatizando uma “agenda positiva”, que inclui negociações para eliminar atritos comerciais entre os dois países e a abertura de uma cota de importação de camarões argentinos (inicialmente de cinco mil toneladas, com previsão de aumento até 20 mil).
O governo brasileiro não vê, porém, condições de levar a Buenos Aires notícias positivas sobre o tema de maior interesse por parte dos argentinos, que é o cancelamento da decisão da Vale de suspender um projeto de exploração de fosfato na região de Mendoza, estimado em US$ 11 bilhões.
Na avaliação de uma autoridade brasileira, só a apresentação de um pacote de benefícios do governo argentino capaz de viabilizar o projeto nos moldes sugeridos pela Vale seria capaz de fazer a empresa reverter a decisão de interromper as atividades na mina.
Dilma se recusa a intervir; o governo argentino vê na decisão da Vale a consequência de decisões equivocadas de investimento prejudicadas pela queda no preço do minério de ferro e acredita que o governo brasileiro poderia apoiar alguma engenharia financeira para manter a viabilidade do empreendimento. A Vale se queixa de excessiva interferência do governo federal e governos locais, que acabaram aumentando custos do projeto.
Sem resposta para o principal problema bilateral, devido às expectativas do governo argentino com a Vale, Dilma deve buscar do governo argentino garantias de que não haverá retaliação contra a empresa brasileira, como multas excessivas ou retomada da mina de potássio sem indenização. Sem apresentar a iniciativa como uma barganha, o governo brasileiro pretende chamar atenção para os negócios que podem receber apoio dos dois governos. O ânimo da reunião “não é de conflito, pelo contrário”, diz um assessor de Dilma.
No começo do ano, os argentinos, que já têm contratos para obras de infraestrutura com financiamento garantido do BNDES de quase US$ 7 bilhões, receberam um pedido do governo brasileiro para destacar, da lista de projetos, aqueles que não são prioridade ou não precisarão de apoio financeiro do Brasil, de modo a abrir espaço financeiro para os novos projetos de interesse do governo Kirchner.
Em outubro, o poderoso secretário do Planejamento argentino, Julio de Vido, esteve no Brasil e conversou no BNDES sobre as hidrelétricas. A exigência de autofinanciamento de 50% para o projeto dificulta a participação oficial brasileira, porém.
O Brasil chegou a elevar, neste ano, o limite informal de créditos dos bancos públicos brasileiros para o governo da Argentina, de US$ 6,5 bilhões para US$ 7 bilhões, para permitir o financiamento da obra ferroviária, que eliminará gargalos e riscos numa das principais ferrovias do país, vítima de um acidente com centenas de mortos em 2011.
Na lista brasileira de reivindicações estão o fim da exigência, para o comércio entre sócios do Mercosul da Declaração Juramentada de Importações (Djai), documento que tem servido de entrave burocrático às importações no mercado argentino.
Já os argentinos querem mudanças no regime automotivo brasileiro, para estimular a instalação de fábricas de autopeças também no país vizinho e não só em território brasileiro. O regime, chamado Inovar-Auto, exige que sejam realizadas no Brasil pelo menos oito, de 12 etapas da produção de automóveis.
 Fonte: Valor Econômico, Por Sergio Leo

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