Há duas semanas, o governo do Distrito Federal anunciou a retomada do processo de licitação do veículo leve sobre trilhos (VLT). Um edital de pré-qualificação vai escolher empresas que ficarão responsáveis pela elaboração dos projetos básico e executivo de engenharia do projeto.
O Valor procurou o Metrô do Distrito Federal para comentar o assunto. Por meio de nota, o Metrô-DF informou que “está concluindo o anteprojeto que dará suporte à licitação do projeto e das obras” e que essa concorrência deverá ocorrer ainda neste primeiro semestre.
Dessa vez, o traçado do projeto é menos ambicioso. Em vez de ligar o aeroporto até o fim da Asa Norte, o VLT “deverá dar prioridade à construção do trecho que liga o aeroporto internacional de Brasília ao terminal Asa Sul”, informou a estatal. Perguntado sobre o custo do empreendimento, o Metrô-DF informou que não pode divulgar previamente um preço de referência, uma vez que a licitação será realizada pelo Regime Diferenciado de Contratação (RDC).
“Consciente de que o Distrito Federal não pode mais prescindir de um modal de transporte moderno e adequado para a avenida W3 como o VLT, o atual governo incluiu a obra no PAC Mobilidade Grandes Cidades”, informou o GDF.
“Com isso, iniciou a elaboração de um novo projeto e preparou a abertura de um novo edital de licitação que cumprisse todas as exigências legais e não desse margem para novos entraves jurídicos.” Segundo o Metrô-DF, o licenciamento ambiental prévio será renovado e o primeiro trecho do VLT estará concluído até 2015.
Fonte: Valor Econômico
VLT de Brasília foi engolido pelo mato
O prometido veículo leve sobre trilhos (VLT) de Brasília deveria ser um dos cartões-postais da capital federal para receber a Copa do Mundo de futebol de 2014. Tornou-se o oposto disso. Quatro anos depois de ter as obras iniciadas, o pouco do projeto que conseguiu sair do papel transformou-se em um verdadeiro monumento à corrupção, à burocracia e ao descaso com o dinheiro público.
Estimado em R$ 1,55 bilhão, o VLT previa a ligação do aeroporto internacional Juscelino Kubitschek até o fim da Asa Norte, cortando o Plano Piloto de Brasília em um percurso de 22,6 quilômetros e 25 estações. Mais de R$ 22 milhões foram enterrados no empreendimento. O que restou do projeto é um canteiro de obras abandonado, com uma cerca de madeira destruída.
O local foi engolido pelo mato, virou banheiro de mendigos e moradia de ratos. Na base das três colunas de concreto que foram erguidas para sustentar uma futura passagem do trem, formou-se uma piscina com águas da chuva, cenário ideal para a proliferação dos mosquitos da dengue.
Desde 2009, bloqueios e desvios de trânsito provocados pela obra travam o acesso a um dos maiores centros hospitalares do Distrito Federal. Comerciantes locais estão indignados e reclamam do tumulto diário. “O trânsito ficou caótico. Em dias de chuva, isso aqui vira um colapso total”, diz Francisco Ferraz, proprietário da empresa Ferraz Consórcios, instalada de frente para o canteiro do VLT. “O entulho fechou muitas entradas de esgotos. Se chove muito, as lojas ficam alagadas”, comenta.
A anulação do contrato de obras do VLT vai fazer dois anos de aniversário. Em abril de 2011, a 7ª Vara de Fazenda Pública do Distrito Federal decidiu pôr um fim na história, depois de o empreendimento ter se transformado em um poço de problemas.
O projeto teve início em 2009, durante a gestão do ex-governador José Roberto Arruda (DEM), que foi flagrado em vídeos recebendo dinheiro, e preso sob a acusação de ter participado de uma tentativa de suborno a uma testemunha da Polícia Federal, durante investigações da Operação Caixa de Pandora, escândalo que ficou conhecido como “mensalão do DEM”.
À época, o VLT já acumulava diversos pedidos da Justiça para suspensão de suas obras, por causa de problemas encontrados nos estudos do projeto e indícios de fraude durante seu processo de licitação.
Paralelamente, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) acionou o governo na Justiça, devido a restrições verificadas no relatório de impacto ambiental do empreendimento. O golpe de misericórdia veio em 2011, quando o Tribunal de Justiça do DF decidiu, por unanimidade, cancelar as obras, por conta de fraudes encontradas na licitação.
Quando assumiu o governo do Distrito Federal, em 2011, o petista Agnelo Queiroz prometeu que faria uma nova licitação da obra ainda naquele ano e que o VLT estaria pronto até 2014.
Não aconteceu. Em setembro do ano passado, o projeto foi o primeiro do país a ser excluído da matriz de responsabilidades da Copa do Mundo, porque não havia mais possibilidade de ele ficar pronto dentro do prazo assumido com a Fifa.
Os estudos do VLT previam que cerca de 12 mil pessoas usassem o transporte diariamente. A obra também tinha a missão de resgatar a chamada W3 Sul e Norte, avenida que já foi o principal centro comercial de Brasília, mas que, atualmente, está deteriorada. O veículo leve sobre trilhos também seria uma segunda opção de transporte público em relação às linhas de ônibus, que também são prejudicadas por uma frota que está sucateada.
A poucos quilômetros do canteiro abandonado, Brasília está construindo o estádio de futebol mais caro do país. Com estrutura para receber 70 mil torcedores, o novo estádio Mané Garrincha está com suas obras em reta final.
Sua entrega está prevista para 21 de abril, dia em que a capital federal faz aniversário de 53 anos. O local sediará a abertura da Copa das Confederações, programada para o dia 15 de junho, com o jogo entre Brasil e Japão. Os investimentos chegam a R$ 1,015 bilhão. Inicialmente, previa-se algo em torno de R$ 680 milhões. A fatura está sendo paga com a venda de terrenos públicos pela Terracap, controlada pelo governo do Distrito Federal.
Fonte: Valor Econômico, Por André Borges
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