O governo promete concluir em seis meses aquilo que não ficou pronto em 30 anos. A partir de maio, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), responsável pelas obras da BR-163, retoma o trabalho de pavimentação e revestimento da rodovia.
As obras se concentrarão no trecho paraense da estrada, nos 1,1 mil km de extensão entre a divisa com o Estado do Mato Grosso e Santarém. Como constatou o Valor, há cerca de 560 quilômetros de estradas de terra à espera do asfalto.
Algumas pontes ainda precisam ser instaladas. Em muitos trechos, há problemas graves de erosão e presença de minas d’água, situação que exigirá intervenções pesadas de drenagem.
Dado que o prazo de trabalho na região se resume a basicamente seis meses por ano, por causa dos períodos de chuva, o que o governo está se comprometendo a fazer, basicamente, é entregar mais de 3 quilômetros de estrada asfaltada a cada dia.
Apesar de todas as dificuldades e do longo trecho de construção, o Dnit informa, por meio de nota, que monitora o prazo de execução das obras e que será investido R$ 1,2 bilhão na estrada.
“Já foi realizada reunião em Brasília com todos os consórcios responsáveis pela BR-163 para planejar a retomada após o inverno amazônico”, sustenta o Dnit. No encontro feito com as empresas e com o batalhão de engenharia do Exército, o governo listou “várias providências para as empresas em termos de mobilização de equipamentos e de pessoal”, para que o cronograma seja cumprido.
Representantes de produtores rurais, tradings e empresas de logística comemoram o entusiasmo, mas preferem contar com menos. “Nossa expectativa é de que fiquem faltando apenas uns 15% para ser asfaltado no trecho [de 1,3 mil km] entre a divisa dos Estados e Miritituba. A previsão é de que tudo seja realmente entregue até o fim de 2014″, diz Edeon Vaz Ferreira, diretor-executivo do Movimento Pró-Logística do Mato Grosso.
Após a reportagem do Valor viajar de caminhonete por 1,5 mil km, entre Lucas do Rio Verde (MT) e Santarém (PA), o que se constata é que a conclusão da estrada não terá capacidade de ser a solução definitiva para o escoamento de grãos do país. O volume de carga é extremamente alto e sua tendência é de crescimento. A via, no entanto, terá papel fundamental, porque será outra rota de saída.
Outros projetos tão relevantes quanto a BR-163 ainda estão guardados nos escaninhos de Brasília. A cidade de Lucas do Rio Verde, por exemplo, aguarda há anos uma estação da prometida Ferrovia de Integração do Centro-Oeste (Fico), empreendimento que já chegou até a ganhar o apelido de “ferrovia da soja”.
Em junho do ano passado, a estatal Valec chegou a publicar o edital para contratação do projeto executivo da ferrovia. Previa-se o desembolso de R$ 70 milhões para bancar os estudos.
O valor da obra era calculado em R$ 6 bilhões. As ambições testavam seus limites. A partir de Lucas do Rio Verde, a ferrovia alcançaria a Norte-Sul, espinha dorsal ferroviária do país, mas também seguiria sentido oeste, chegando ao município de Vilhena (RO), com mais 598 quilômetros de trilhos.
Dali em diante, teria que ser rebatizada para “Ferrovia Transcontinental”, porque chegaria a 4.400 km de extensão em solo brasileiro e rumaria pela América Latina, ligando os oceanos Atlântico e Pacífico por barras de aço. Nada ocorreu. Hoje, para tentar desengavetar uma primeira parte do projeto, o governo incluiu a malha no pacote de concessões de ferrovias.
Hoje, a única opção ferroviária do Mato Grosso para acesso aos portos de Santos (SP) ou Paranaguá (PR) se dá pela Ferronorte, malha controlada pela América Latina Logística (ALL). Os produtores reclamam que a empresa cobra um frete muito caro, próximo ao valor cobrado pelos caminhões. A ALL nega. O governo promete acabar com o monopólio de operações nas ferrovias, para incentivar a competição e reduzir o custo do transporte no Brasil.
Fonte: Valor Econômico, Por André Borges
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