Em um recente dia frio numa estação de trem aqui nessa planície americana, um trem-tanque gigantesco se alongava como uma serpente até onde a vista alcançava. Depois de carregado, ele partiria em breve levando petróleo leve para uma refinaria de Puget Sound. Outro trem viria logo atrás, e depois mais outro.
Cenas como esta estão se repetindo cada vez mais em todos os Estados Unidos. Trens de carga a serviço de clientes de alta prioridade, como a empresa de entregas expressas United Parcel Service Inc., cruzam o país transportando desde microondas até tênis e pacotes da Amazon.com. A FedEx Corp., conhecida por sua enorme frota de aviões, também está utilizando mais trens.
Bem-vindo ao renascimento da Era das Ferrovias. Grandes empresas ferroviárias estão vivendo um boom de demanda só visto no auge industrial da Era Dourada dos EUA, no século XIX – só este ano, elas estão investindo US$ 14 bilhões em pátios ferroviários, estações de reabastecimento e novos trilhos. Hoje, mais veloz e eficiente, o transporte ferroviário está rapidamente se tornando dominante no sistema americano de transporte comercial e uma peça vital da recuperação econômica do país.
Desta vez, porém, a expansão não é tanto geográfica. É, na verdade, uma corrida para tornar as linhas ferroviárias existentes mais eficientes e capazes de transportar uma quantidade maior e mais variada de carga.
Algumas das empresas ferroviárias estão construindo enormes terminais que se assemelham a verdadeiros portos em terra. Elas adicionam trilhos para aproveitar o máximo possível a demanda americana por frete, projetada para crescer em 50%, para US$ 27,5 bilhões, até 2040, segundo o Departamento de Transportes do país.
Em alguns casos, as ferrovias estão aumentando a altura de túneis e elevando pontes para acomodar dois andares de contêineres. No total, 2013 se encaminha para ser o terceiro ano consecutivo de recordes em investimentos no setor, mais que o dobro da média de gastos anuais de US$ 5,9 bilhões de dez anos atrás.
E, numa virada que poucos poderiam prever há algumas décadas, o transporte ferroviário está roubando mercado de outros tipos de transporte comercial, mais notavelmente o rodoviário, que tem sido prejudicado por preços elevados de combustíveis, estradas sobrecarregadas, escassez de motoristas e novos regulamentos que elevam os custos.
O transporte ferroviário também é relativamente barato. Embora esteja em alta, o valor do frete ferroviário americano é hoje quase 50% menor que há trinta anos, segundo a Associação das Ferrovias do país. E esses preços baixos estão ajudando a tornar a atividade manufatureira norte-americana novamente rentável.
“Não teríamos tantas empresas pensando em voltar a produzir nos EUA ou num país vizinho”, como o México, se não fosse pelo transporte ferroviário, diz Yossi Sheffi, professor de sistemas de engenharia do MIT, o Instituto Tecnológico de Massachusetts, e diretor do seu Centro para Transporte e Logística. “Boa parte disso é a energia mais barata. Mas não poderíamos estar transportando petróleo sem os trilhos.”
Uma confluência de outros fatores está dando força à tendência. O boom de energia, por exemplo, está revivendo setores como o siderúrgico e de produtos químicos. E os custos mais altos da mão de obra e de transporte em partes da Ásia estão provocando um aumento na terceirização mais próxima de casa.
“Tudo isso tem colocado as ferrovias em um ótimo ponto estratégico para o futuro da economia”, diz Matthew K. Rose, diretor-presidente da BNSF Railway. “Ninguém quer ficar de fora.”
A BNSF, que foi comprada em 2010 pela Berkshire Hathaway Inc., do investidor Warren Buffet, está investindo US$ 4,1 bilhões em uma lista de coisas que inclui locomotivas, vagões de carga, um terminal gigante em Kansas City e novos trilhos e equipamentos para a unidade que transporta o petróleo da formação de xisto de Bakken, nos Estados de Dakota do Norte e Montana.
A Union Pacific Corp. está investindo US$ 3,6 bilhões em um terminal enorme no Estado de Minnesota e projetando uma ponte de até US$ 500 milhões sobre o rio Mississippi, no Estado de Iowa, para substituir uma ponte levadiça antiga que costuma atrasar os trens por horas. A empresa também vai duplicar trilhos na Louisiana e no Texas e expandir pátios ferroviários para dar mais capacidade para clientes do setor químico, como a Dow Chemical Co. e a Exxon Mobil Corp.
Outras empresas ferroviárias, como a CSX Corp. e a Kansas City Southern Railway Co. também planejam investir pesado na ampliação de suas operações.
Nas longas distâncias, os trens têm sido mais baratos do que os caminhões por décadas. Eles podem transportar uma tonelada por mais de 200 quilômetros com um litro de combustível, o que os torna três a quatro vezes mais eficientes no consumo. No entanto, eles eram notoriamente pouco confiáveis. Na área de logística, caminhões e aviões normalmente chegam no prazo determinado. Mas os trens eram conhecidos como “o buraco negro do transporte”, diz Sheffi.
Curtis Whalen, diretor executivo da Associação de Transporte de Caminhões dos EUA, diz que os caminhões ainda têm algumas vantagens. “Nossos [dados] mostram que os números do transporte rodoviário não serão reduzidos pelos trens em nenhum período de tempo.”
Nos últimos dez anos, porém, sob pressão de clientes como a UPS, os trens se tornaram mais confiáveis. A UPS “nos ensinou o que significa ter um desempenho condizente com seus altos padrões”, diz Rose, da BNSF.
Ken Buenker, diretor do Corporate Transportation Group, uma unidade da UPS, diz que a meta da empresa é uma taxa de cumprimento de prazo de 99,5%. “Então, imagine o tamanho do risco que corremos com um trem.” Um trem quebrado poderia atrasar muitas entregas.
As empresas ferroviárias estão utilizando tecnologia e estratégia para enfrentar esse tipo de problema. Elas usam sensores para detectar falhas mecânicas antes que causem atrasos. E desenvolveram centrais que organizam embarques por entregas que vão ao mesmo destino.
A medida eliminou o desperdício de tempo e o trabalho de desconectar vagões e redefinir suas rotas. Isso também possibilitou itinerários mais longos e mais rápidos. As empresas ferroviárias agora “pensam sempre em eficiência e rapidez”, diz Buenker. “A velocidade da rede é realmente importante para eles.”
Fonte: The Wall Street Journal, Por Betsy Morris
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