domingo, 30 de junho de 2013

'Fui o único que disse ser preciso financiar a redução das tarifas', diz Haddad

Petista diz que não errou nas negociações, prega redução da taxa paga a empresários e nega haver mal-estar com Planalto

FERNANDO GALLO, MALU DELGADO E SONIA RACY - O Estado de S.Paulo
Fernando Haddad afirma que não faz cálculos políticos ao tomar decisões administrativas. Em entrevista ao Estado, na última quinta-feira, em seu gabinete, ele relatou fatos que o obrigaram a reduzir as tarifas de ônibus, como o aviso do prefeito do Rio, Eduardo Paes, de que adotaria a medida. Mas pesaram muito os informes que recebeu sobre segurança pública e os riscos de violência. Ele elogia a parceria com o governador Geraldo Alckmin, e garante não ter sido abandonado pelo PT ou pelo Palácio do Planalto. Fala abertamente que é a favor de uma taxa de retorno menor aos empresários do setor de transporte, hoje em torno de 13%.
O sr. condenou atos de violência e depois disse que não havia espaço para reduzir tarifas. Cometeu erro de avaliação política?
Divergimos em relação aos fatos. Nas duas primeiras manifestações eu estava em São Paulo, me dispus ao diálogo, a receber o movimento. Condenei os atos de violência, não condenei a manifestação. Estava disposto a recebê-los. Não fui atendido. Quem depois mudou de posição foi o movimento. Quando estava em Paris, houve pedido de audiência.
Num segundo momento, o sr. foi intransigente em relação ao pedido de redução da tarifa.A pedido do governo federal adiamos para junho o aumento da tarifa, em acordo pelo qual, como contrapartida, haveria desoneração dos transportes para que o aumento da tarifa fosse bem abaixo da inflação, o que ocorreu. A inflação acumulada gira em torno de 15% e o reajuste que foi dado para R$ 3,20 é da ordem de 6%. Foi feita uma pactuação com o governo federal.
E por que o sr. recuou e decidiu revogar a tarifa?A Prefeitura se encontra com muita dificuldade para retomar investimentos. Investe menos do que o Rio em termos per capita. Minha campanha foi baseada na retomada dos investimentos, inclusive para transporte. Foi correto dizer que isso terá consequências para as finanças municipais. Eu repetiria aquele gesto.
Então por que voltou atrás?Em função de uma série de ocorrências. Os informes que recebi sobre a segurança pública na cidade de São Paulo, que apontava fragilidades enormes, a informação que recebi de que não haveria votação do Reitup (projeto de lei que cria o Regime Especial de Incentivos, com desonerações sobre óleo diesel) e o informe que recebi do prefeito do Rio, Eduardo Paes, de que faria o anúncio da redução.
O sr. não tinha saída?É isso. Mas meu posicionamento, que foi feito, está mantido.
O sr. não acha que cometeu nenhum equívoco político?A cidade tem de ser minimamente informada das consequências. Uma coisa é a sociedade, de forma organizada, pautar o debate que considero absolutamente legítimo sobre gratuidade, modicidade tarifária - aliás, teses que defendo desde sempre. Talvez o único político que lançou a tese de que era preciso encontrar fontes de financiamento em proveito da modicidade tarifária do transporte público fui eu.
O sr. se sentiu abandonado pelo governo federal? Não. Mas deixei claro que isso terá consequências para hoje e para o futuro.
O sr. conversou com a presidente Dilma quando tomou a decisão de reduzir a tarifa?Eu liguei para ela informando.
O sr. foi aconselhado, para não dizer pressionado, por Dilma e Lula para reduzir a tarifa?É falso. Absolutamente falso. Eu estava rigorosamente seguindo o roteiro estabelecido e explicando que, ao contrário das cidades que tinham aumentado a tarifa em janeiro e tinham espaço para reduzir em função da desoneração, o mesmo raciocínio não cabia para São Paulo, que não reajustou a tarifa e que tinha assumido o compromisso de reajustar bem menos do que a inflação. Efetivamente as finanças públicas da cidade são as piores do País. Não posso deixar de comunicar isso para a cidade.
Alguns petistas acham que demorou demais a reduzir a tarifa.Não comento declarações anônimas.
Há dois anos subsídios (para o setor de transportes) eram de R$ 600 milhões. Depois R$ 900 mi e passarão para R$ 1,2 bi. A inflação do período foi 15%... 
O sistema custa em torno de R$ 5,5 bilhões. Para cada 6% de inflação que não repasso para a tarifa, dá quase R$ 300 milhões. É isso o que custa não aumentar a tarifa todo ano. Os 6% não são sobre o subsídio, mas sobre o volume de recursos arrecadados pelo sistema.
Qual a taxa de retorno dos empresários do setor?Segundo a SPTrans, gira em torno de 13% a 14%, o que dá mais ou menos 6% da tarifa.

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