Um dos três portos mais importantes do Brasil, o Porto do Rio planeja aumentar, até 2016, o movimento de contêineres para mais 3 milhões ao ano – quase seis vezes os 508 mil movimentados no ano passado. As dificuldades de acesso ao porto – tanto por terra quanto por mar –, no entanto, podem ser entraves ao esperado crescimento.
“O Porto do Rio é uma Ferrari, mas, no momento, com motor de enceradeira”, diz Riley Rodrigues de Oliveira, especialista da Gerência de Competitividade Industrial e Investimentos do Sistema Firjan. O motor de enceradeira que emperra a alta velocidade da Ferrari, segundo Riley, é o acesso ao Porto do Rio.
“O problema do Porto do Rio não está no porto, está em seus acessos. O acesso marítimo tem uma capacidade de 15 metros de profundidade, podendo a chegar a 18 metros, que não suporta grandes navios como um Valemax (o supernavio da Vale)”, diz ele, ressaltando que, além das dragagens, a geografia marítima do local não permite que se aprofunde esse acesso, capaz de permitir a atracação de um Super Post Panamax, de 300 metros a 347 metros de comprimento, com capacidade acima de 8 mil contêineres.
Na parte terrestre, segundo estimativas da Companhia Docas do Rio de Janeiro, circulam cerca de 200 mil veículos por ano no Porto do Rio. A estimativa é que sejam 300 mil por ano em 2015 (ou 820 por dia), a maioria carretas de grande porte.
Mas os constantes engarrafamentos na área do bairro do Caju, na Zona Portuária, a falta de áreas de estacionamento para caminhões e a localização e funcionamento de portões que serão impactados pelas obras do Porto Maravilha, de revitalização da Zona Portuária, são considerados fatores de alto risco para o Porto do Rio.
Em relação ao acesso terrestre, há obras em andamento, como a conclusão da Avenida Alternativa – cuja construção teve início há quatro anos. “Já foi inaugurado um trecho dela, que vai da Avenida Brasil, passa sob a Linha Vermelha, vai para o Caju até o portão 32 do porto. É preciso na Avenida Brasil construir um viaduto que vai ligá-la à Avenida Alternativa. Hoje, a alternativa é passar pelo viaduto de Benfica”, explica Riley.
Com as obras do Porto Maravilha, os acessos ao Porto do Rio ficarão restritos, diz, ressaltando que os portões de 8 a 18 deverão ser desativados. “O portão principal de acesso ao porto, o 24, em frente ao Instituto de Traumato-Ortopedia (Into) é o que hoje recebe grande parte da carga, e vai acabar recebendo mais de 90% da carga do Rio.”
O acesso pelo Caju é muito ruim, ressalta Riley, pois o bairro tem ruas estreitas, domadas por oficinas, o que torna o tráfego de caminhões difícil. “Tem que fazer algumas desapropriações, fazer um píer de acesso e construir o resto da Avenida Alternativa”, diz.
Outra obra prevista para facilitar o acesso de caminhões ao porto é a Avenida Portuária, que vai da Avenida Brasil acompanhando o ramal da MRS Logística, concessionária que opera a malha ferroviária do Sudeste do estado, até o portão principal do porto.
“O problema não é no porto, mas nos acessos. Tem que melhorar o acesso terrestre, alargando as vias, e melhorar e integrar a malha ferroviária”, concorda Sérgio Giannetto, presidente do Sindicato dos Portuários.
Ele não concorda com a desativação de portões e armazéns em função da revitalização da área pelo projeto Porto Maravilha. “O Porto do Rio é um porto vivo. Não tem cabimento transformar armazéns em museus”, afirma.
Demora na liberação de carga
Além do acesso deficiente, que faz formar filas de caminhões à espera de entrar no porto, para Riley hoje os portos no Brasil viraram “hotéis”.
“Porto é passagem, não se pode ver o porto como uma estrutura monolítica. Mas infelizmente no Brasil porto virou hotel. A carga fica hospedada. O navio, ao atracar, tem sua carga retirada imediatamente. Mas o processo de liberação da carga pelos órgãos envolvidos demora em média 5,5 dias, enquanto a média mundial é de 3 dias.A falta de espaço para a carga ficar hospedada também forma filas de caminhões que chegam para entregar mais carga para embarcar. A cada dia são mais custos e tarifas, que vão impactar o preço final do produto”, explica.
Com a demora na liberação de cargas, o Brasil é o 106º entre 118 países avaliados pelo Índice de Performance Logística do Banco Mundial, segundo Riley.
Investimentos
O Porto do Rio já tem previsão de investimentos estimados em R$ 3 bilhões, para aumentar a capacidade e a produtividade do porto, prevendo, principalmente, a melhoria dos acessos terrestres.
No aumento do pátio, a previsão é de investimentos privados de R$ 1 bilhão. O aporte da Libra e da Multiterminais, concessionárias de terminais no porto, integra o projeto Porto do Rio Século XXI, anunciado no segundo semestre de 2012 pela Secretaria de Estado de Transportes.
Jorge Luiz de Mello, presidente da Companhia Docas do Rio de Janeiro, a autoridade portuária, prevê para 2016 o aumento do volume de carga portuária para 12 milhões de toneladas e da receita bruta de exportação e importação de US$ 19,6 bilhões para US$ 37 bilhões ao ano.
Oscilando entre a segunda e terceira posição no ranking de movimentação de cargas por tonelada (US$ 1.278,20 por tonelada), segundo Jorge Luiz de Mello, o Porto do Rio é, no entanto, líder em carga de maior valor agregado entre os portos brasileiros. Em valores exportados, figura na sétima posição no país, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
“É o principal local de arrecadação de ICMS do estado, na ordem de quase R$ 2 bilhões anuais, gerando dez mil empregos diretos e 25 mil indiretos, com salários médios de R$ 2.100 por mês”, afirma.
Segundo a Secretaria de Estado de Transportes, o valor agregado da carga no Porto do Rio fica em US$ 2.063 por tonelada, bem acima da média nacional de US$ 593. De acordo com a secretaria, o estado do Rio é o segundo maior importador do país, com R$ 19 bilhões em 2011. Desse total, US$ 10,9 bilhões chegam ao país pelo Porto do Rio, dos quais US$ 6 bilhões são processados pela economia fluminense e US$ 4,9 bilhões são destinados a outros estados.
“Tamanha importância econômica levou ao desenvolvimento, com outros parceiros públicos e privados, de um grande projeto de revitalização de seus acessos, rodoviários, ferroviários e marítimos: o Porto do Rio Século XXI”, diz.
PIB do porto
A Pesquisa do Transporte Marítimo da Confederação Nacional do Transporte, apresentada em dezembro de 2012 por Bruno Batista, diretor-executivo da CNT, mostra que, em 2009, citando dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o PIB do Estado do Rio atingiu R$ 353,9 bilhões, correspondente a 10,9% do PIB nacional.
Já os outros estados da área de influência do porto possuem juntos um PIB de R$ 1,7 trilhão – 51,3% do PIB nacional. “Logo, a área de influência primária do porto representa 62,2% do PIB brasileiro”, diz o estudo.
O especialista da Firjan lembra que o Porto do Rio ainda tem áreas a serem licitadas e que a Petrobras acabou de implantar uma base de apoio offshore, num acordo com a Companhia Docas. “Por causa da atividade offshore, o Porto do Rio acaba tendo uma movimentação maior que a do Porto de Santos”, explica.
Fonte: G1, Por Lilian Quaino
Nenhum comentário:
Postar um comentário