Evaristo Almeida *
No dia 1° de junho houve aumento das tarifas públicas dos
transportes em São Paulo, nos trens, metrô e ônibus o que desencadeou uma série
de protestos.
Outras manifestações do mesmo cunho já tinham ocorrido em
cidades como Florianópolis, Porto Alegre e está acontecendo também na cidade do
Rio de Janeiro.
Os protestos são organizados pelo Movimento Passe Livre -
MPL que defende a tarifa zero nos transportes públicos. Ele foi criado em 2005
em Porto Alegre, mas já existia a Campanha pelo Passe Livre. Em 2003 houve a
Revolta do Buzu, em Salvador e a Revolta das Catracas em Florianópolis em 2004
e 2005.
A pauta principal do MPL, segundo consta no sítio do
movimento, é que os transportes sejam pagos por impostos progressivos, através
de uma reforma tributária feita pela Prefeitura, de forma que pague menos quem
tem menos e quem não tem nada, não pague. E uma parte dos recursos advindos
dessa reforma sejam canalizados para custear o transporte público.
Já o MDT, Movimento
Nacional pelo Direito ao Transporte Público de Qualidade para Todos,foi criado
em setembro/2003 como um movimento suprapartidário apoiado por cerca de 450
entidades dos mais diversos setores da sociedade (movimentos sociais, populares
e sindicais, empresários, universidades, poder público, profissionais liberais,
entre outros). Seu objetivo é inserir na agenda social e econômica do país o
transporte público como um direito para todos. Um dos objetivos do MDT é o
barateamento do transporte público urbano.
Não há nenhum grande sistema de transporte público
gratuito no mundo. Os países mais ricos subsidiam as tarifas, mas foi um
movimento realizado paulatinamente ao longo de mais de 40 anos.
Na França os usuários pagam o equivalente a 30% do valor
da tarifa de transporte, os outros 70% são subsidiados pelo poder público.
No primeiro momento a imprensa tratou o protesto em São
Paulo como se ele fosse somente dirigido ao transporte municipal de São Paulo.
Inclusive o governador Geraldo Alckmin equivocadamente num primeiro momento
disse que era um problema da prefeitura.
Mas o movimento é claro e abrange também o Metrô, a CPTM
e a EMTU sob gestão do governo paulista.
A tarifa do ônibus municipal de São Paulo tinha sido
reajustada pela penúltima vez em 1° de janeiro de 2011, passou de R$ 2,70 para
R$ 3,00, 11,11% de aumento. Até o dia 1° de junho de 2013, a inflação variou
15,96%. Dessa forma a tarifa deveria ir para R$ 3,47.
O governo municipal com o auxílio do governo federal, que
abriu mão do PIS e COFINS das operadoras de transportes públicos terrestres,
reajustou em 6,6%. A passagem foi para R$ 3,20.
Em São Paulo há um subsídio de R$ 1,25 bilhão para
completar o transporte municipal. A tarifa técnica, que é o custo real da
passagem, atual é de R$ 4,13, ou seja, o passageiro ao passar pela catraca
deixa de pagar R$ 0,93, que é coberto pelos cofres públicos.
O valor subsidiado atual do sistema é de 23% o que
projeta um custo anual para o transporte municipal de R$ 5,5 bilhões. É esse
valor que deveria sair dos cofres públicos municipais para pagar o sistema
integralmente.
O orçamento municipal de São Paulo para 2013 é de R$
42,04 bilhões, sendo a receita tributária desse montante de R$ 17,80 bilhões.
Dado que os recursos já têm previsão de gastos, teria de haver um aumento de R$
4,25 bilhões nos impostos para que o transporte público seja gratuito para
todos.
A estimativa para a arrecadação do IPTU para o ano de
2013 é de R$ 5,3 bilhões na cidade. Dessa forma, se o financiamento da tarifa
zero no município viesse unicamente desse imposto ele deveria ser aumentado em 80%.
Há de se ressaltar que uma parte da população já tem a
tarifa zero, que são os idosos (homens com mais de 65 anos e mulheres com mais
de 60 anos) e os passageiros especiais (pessoas com deficiência física,
auditiva ou visual). Além dos estudantes que pagam meia passagem.
E o sistema estadual, composto pelo Metrô, CPTM e EMTU, sob
gestão do governo paulista?
O Metrô e a CPTM tinham corrigido a tarifa em fevereiro
de 2012, passou de R$ 2,90 para R$ 3,00. A variação do IPCA desde início de
junho de 2013 foi de 8,8%, ou seja, a tarifa deveria ser ajustada para R$ 3,26,
ao invés de R$ 3,20.
Segundo planilha enviada pelo governo do Estado de São
Paulo à Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo - ALESP, o custo mensal da
Companhia do Metropolitano de São Paulo - Metrô é de R$ 181,35 milhões e as
receitas líquidas (tarifa, outras receitas, ressarcimento das gratuidades e
pagamento de impostos) de R$ 169,76 milhões, havendo um déficit de R$
11,59 milhões cobertos pelo governo
estadual. A cobertura pelas receitas na CMSP é de 93,6%.
A estimativa para o custo anual do Metrô é de R$ 2,176
bilhões. O governo junto com o custeio das gratuidades pelas planilhas
apresentadas gastará R$ 427,84 milhões. A previsão é que o governo estadual
deveria aportar mais R$ 1,748 bilhão para que o sistema seja gratuito.
Na Companhia Paulista de Trens Metropolitanos - CPTM o
custo mensal é de R$ 160,03 milhões, enquanto as receitas líquidas são de R$
105,68 milhões, havendo um déficit de R$ 54,35 milhões. A receita líquida cobre
66,04% dos custos, havendo um complemento de 33,96% pelo governo estadual.
O custo estimado anual da CPTM anual é de R$ 1,92 bilhão,
dessa forma caberia o aporte de mais R$ 1,267 bilhão para a tarifa zero nos
trens.
A Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos – EMTU
aumentou em 7,5% o preço das passagens na Região Metropolitana de São Paulo e
na Região Metropolitana da Baixada Santista. A Região Metropolitana de Campinas
não teve reajuste por conta da licitação. O corredor ABD (São Mateus-jabaquara)
teve aumento de 9,68% e o preço passou de R$ 3,10 para R$ 3,40.
A cobertura custo pela receita da EMTU é de 100,51%. Isso
indica a passagem paga pelo usuário é acima do que custa o sistema.
Para cobrir os custos da EMTU na RMSP, a estimativa é que
seja gasto algo em torno de R$ 1,5 bilhão anualmente. Na RMBS, o serviço comum
custa R$ 252,39 milhões.
Já o sistema sob gestão da ARTESP, aumentou o serviço
classificado como suburbano em 5,06% em 23 de fevereiro. Esse sistema
intermunicipal atende as cidades do Estado de São Paulo que não estão em
regiões metropolitanas.
Os sistemas de transportes intermunicipais da EMTU e
ARTESP atendem a população mais pobre do Estado de São Paulo e apresentam as
passagens mais caras pelo governo do Estado de São Paulo não entrar com nenhum
subsídio. Na RMSP, a média do preço das passagens é de R$ 3,62 e na RMBS, de R$
3,81. É comum em muitas viagens o passageiro pagar valores acima de R$ 4,00.
Dessa forma para garantir a tarifa zero nos sistemas de
responsabilidade do governo estadual na RMSP e RMBS, de acordo com os dados
apresentados na planilha enviada à ALESP, o aporte de recursos seria de em
torno de R$ 5 bilhões anualmente.
A receita orçamentária do governo estadual prevista para
2013 é de R$ 173,448 bilhões, sendo R$ 95,86 bilhões de receitas tributárias
(R$ 6,025 bilhões de IPVA, R$ 4,469 bilhões de outras receitas e R$ 85,368 de
ICMS).
Nos últimos anos muita coisa tem sido feita na esfera da
mobilidade urbana. O PAC mobilidade urbana prevê mais de R$ 60 bilhões de
investimentos nos transportes públicos do país. São 15 obras de BRTs em
andamento, 13 de corredores de ônibus, quatro metrôs, dois monotrilhos, um trem
urbano e dois VLTS que beneficiarão capitais e grandes cidades brasileiras
como Belo Horizonte, Belém, Brasília, Cuiabá, Curitiba, Fortaleza, Manaus,
Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo. Outras obras ainda
estão em processo de preparação em todo o país.
O
governo federal já deu passos importantes para a desoneração da tarifa dos
transportes públicos, com a redução do preço da energia elétrica em 32%, o que
ajuda empresas operadoras de metrôs, trens e ônibus elétricos, desoneração da folha de pagamento das
operadoras de transportes e zeragem das alíquotas do PIS e COFINS para o
transporte urbano, que beneficiam aos
operadores de todos os modais.
Essas
medidas permitiram que cidades como Guarulhos, São Bernardo do Campo,Mauá, São
Caetano do Sul, Ribeirão Pires, São José dos Campos, Vitória, Manaus e Jundiaí,
reduzissem o preço da tarifa e a cidade de São Paulo pudesse fazer um reajuste
menor.
Outras
medidas poderão fazer parte dessas iniciativas como redução dos impostos para o
diesel usado no transporte público e a CIDE da gasolina, como defende o
prefeito Fernando Haddad de São Paulo, ser cobrado e utilizado para um fundo de
barateamento da tarifa.
Falta
aos governadores a iniciativa de redução de ICMS da cadeia produtiva do
transporte e aos municípios o ISS.
O
transporte público é um dever do Estado e um direito do cidadão e a redução ou
zeragem do preço da tarifa beneficia principalmente os mais pobres que o
utilizam mais.
A
mobilidade urbana nas cidades brasileiras tem sido prejudicada por causa do uso
intensivo do transporte individual e a qualidade junto com o barateamento da
tarifa poderá estimular que as pessoas troquem o carro pelo transporte público.
Dessa
forma entendemos a necessidade de discussão de um transporte com mais
qualidade, modicidade tarifária ou tarifa zero tem de passar pela sociedade
pela necessidade de aumento dos impostos, mas com o benefício de ter transporte
público à disposição de todos.
É um
movimento que se dará ao longo do tempo com a sua inclusão na pauta política do
país.
O
debate deve ser feito de maneira ponderada e de acordo com capacidade fiscal
dos governos.
Evaristo Almeida – Mestre em Economia
Política, Assessor de Transportes da Liderança da Bancada do PT e Coordenador
do Setorial Nacional de Transportes do PT
Nenhum comentário:
Postar um comentário