Por João Paulo Rillo
De um lado, metrô e trens da Capital com manutenção precária, expansão suspensa pela Justiça e muito desconforto e insegurança. Do outro, um esquema de desvios de recursos em licitações e pagamento de propinas para agentes públicos e políticos do PSDB de São Paulo, instalado no início dos governos tucanos, há quase 20 anos, e denunciado em 2008.
Impune, o esquema vem sendo bovinamente perpetuado pelos governadores Covas, Serra e Alckmin. Investigado no Brasil e no exterior, nenhuma providência foi tomada pelos sucessivos governos tucanos. Ao contrário. Mesmo alertado em 2011 por representação apresentada por mim juntamente com o deputado Enio Tatto, mesmo o presidente do Metrô tendo sido afastado do cargo pela Justiça, mesmo após o Ministério Público apontar um prejuízo de mais de R$ 300 milhões, o governador Geraldo Alckmin retomou as obras da Linha 5 do metrô apesar das denúncias de acertos entre as empresas concorrentes da licitação.
O cartel que avançou sobre os recursos paulistas tem, de um lado, empresas como a Alstom, a Bombardier, a CAF, a Siemens, a TTrans e a Mitsui. Do outro lado, daquele lado onde deveriam estar os que defendem o interesse público, estão agentes públicos e políticos que permitiram a drenagem de aproximadamente US$ 50 milhões dos cofres públicos estaduais para paraísos fiscais, utilizados depois no pagamento de propinas, segundo investigações e a revista IstoÉ. Ou seja, esse valor desviado e devidamente lavado, retornou para os bolsos daqueles que teriam a responsabilidade de gerir os recursos públicos.
Alckmin, certamente, ao cunhar a sua última frase oportunista - “faltaria guilhotina [para cortar cabeças de corruptos] se o povo soubesse o que se passa” – referia-se aos seus próprios desmandos e aos de seus parceiros. Lamentavelmente, a omissão e a conivência do governador não se limitam a prejudicar apenas o Metrô e a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM).
De perto, o Palácio dos Bandeirantes tem mais em comum com o Palácio de Versalhes do que gostaria de admitir o líder tucano. Há escândalos para escolher. Na Educação, a Fundação para o Desenvolvimento da Educação se nega a dar explicações sobre sérios desvios de recursos, enquanto escolas, professores, funcionários e alunos são humilhados pela falta de investimentos do estado com maior PIB da Nação; na Segurança Pública, o genocídio de jovens negros na periferia é sistematicamente minimizado enquanto o cotidiano dos policiais se divide entre baixíssimos salários e denúncias de colegas corruptos.
Há ainda as absurdas tarifas de pedágio aliadas à falta de transparência sobre os custos das concessionárias, as privatizações incontroláveis – agora são imóveis públicos à venda para fazer caixa, além de Pinheirinho, o enganoso projeto de cotas, o esquema das emendas parlamentares, os orçamentos fictícios, entre muitos outros. O suficiente para a reedição do que foi o “armário de ferro” para Luís XVI.
A improbidade de Alckmin e a sua omissão em relação ao desvio de recursos do Metrô e da CPTM devem ser apuradas pela Justiça. Nada justifica tanta impunidade diante de tantas evidências e após tantos anos de investigações e colaborações dos envolvidos e acusados. Quando eleitos, nem o governador nem qualquer outro representante político obtiveram o privilégio de pairar sobre a lei.
João Paulo Rillo é deputado estadual – PT/SP
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