segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Prefeitura de São Paulo estuda novas medidas para desestimular uso de automóvel


Limitação de velocidade a 40 km/h, proibição da circulação no centro e extensão do rodízio a toda a cidade são as possibilidades analisadas pelo secretário Jilmar Tatto, que não dá prazo para aplicação
por Rodrigo Gomes, da RBA 
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Na visão da gestão Haddad, o transporte individual deve ser para uso eventual, e não cotidiano
São Paulo – A gestão de Fernando Haddad (PT) estuda novas maneiras de retirar estímulos ao uso do transporte individual e favorecer a transição para uma adesão maior ao deslocamento em transporte público. Além da demarcação de 150 quilômetros de faixas de ônibus e da construção de 155 quilômetros de corredores, estão em análise a restrição à circulação de veículos no centro de São Paulo e uma limitação de velocidade que desestimule a pessoa a sair de casa com seu automóvel particular durante a semana.
O secretário municipal de Transportes, Jilmar Tatto, afirmou hoje (16), em entrevista coletiva, que várias ideias estão sobre a mesa, todas com o objetivo de promover uma mudança na relação carro-paulistanos. Mas, por enquanto, não há prazos definidos para a aplicação de mudanças. "Não se trata de proibir o uso do carro, mas de mudar essa cultura de que o carro é melhor meio de locomoção."
Tatto comentou as medidas durante o lançamento da 7ª Pesquisa de Mobilidade na Cidade de São Paulo, feita em parceria entre Ibope e Rede Nossa São Paulo, que ocorreu na manhã de hoje, no Sesc Consolação, no centro da capital. A sondagem mostrou que 93% dos entrevistados apoiam o uso de faixas exclusivas para ônibus. Por outro lado, 27% usam carros todos os dias. “Demonstra que nós estamos no caminho certo. O principal é que as pessoas entendam que podem ter carro, mas só utilizá-lo em casos de necessidade, não no cotidiano. Vamos trabalhar por isso”, afirmou o secretário.
Buscando facilitar o compartilhamento das ruas e avenidas entre carros, motos e ciclistas, a prefeitura avalia a possibilidade de reduzir a velocidade dos carros para 40 quilômetros por hora em vias locais, com exceção das avenidas chamadas arteriais, que levam o trânsito pesado para fora do bairro ou da região. “Há uma tendência mundial de redução da velocidade dos veículos. Ao mesmo tempo em que amplia a velocidade dos ônibus, reduz a dos carros. Isso aumenta a segurança de todos nas ruas, inclusive dos motoristas, que sofrem menos problemas em caso de acidente”, explicou.
A proposta é apoiada pelo promotor Maurício Ribeiro Lopes, da Promotoria de Habitação e Urbanismo do Ministério Público Estadual de São Paulo. “Tivemos um seminário com o especialista em mobilidade Eduardo Vasconcelos, que sugeriu três medidas para melhorar o trânsito na cidade: Aumentar a velocidade dos ônibus, ampliar os corredores para permitir ultrapassagem entre os coletivos e reduzir a velocidade dos carros”, explicou. Segundo Lopes, isso aumentaria o número de veículos na via, porque reduz a necessidade de distância entre eles, além de contribuir para segurança.
Tatto informou que a prefeitura de São Paulo está desenvolvendo um DNA do transporte coletivo, que pretende avaliar as condições dos veículos e das vias que eles percorrem, as demandas e o tipo de passageiros, com o objetivo de reestruturar as linhas de ônibus, eliminando trechos ociosos e atendendo melhor os de grande demanda. A gestão também está realizando diversos estudos para alterar o sistema de rodízio e a velocidade das vias locais.
O secretário informou que no próximo 22 de setembro, quando se comemora o Dia Mundial Sem Carro, o acesso de veículos particulares ao centro da cidade será impedido, como teste para como essa região poderia operar sem automóveis, apenas com metrô, táxi, bicicleta e ônibus. “Esta é uma região que tem muito trânsito de pedestre e de ciclistas. Estamos avaliando a possibilidade de permitir somente transporte público e táxis nestas região”, afirmou.
Os veículos somente poderão circular por um anel viário que contorna o local, composto pela praça João Mendes, passando pela avenida Rangel Pestana, pelo viaduto Mercúrio, seguindo a avenida Mercúrio, a rua Senador Queiroz, as avenidas Ipiranga e São Luís, entra nos viadutos Nove de Julho e Dona Paulina, voltando ao início.
Um trecho do que pode vir a ser a zona de restrição começou a funcionar na manhã de hoje (16) impondo sentido único na avenida Ipiranga, entre a praça Alfredo Issa e a avenida São Luís, de segunda a sexta-feira das 6h às 22h e, aos sábados, das 6h às 14h.
Ele disse ainda que a prefeitura estuda a construção de estacionamentos, em parceria com a iniciativa privada, em pontos de fácil acesso ao transporte público. “Este processo também está parado no Tribunal de Contas, aguardando liberação para podermos licitar”, comentou.
Outra iniciativa estudada é a aplicação do rodízio de veículos na cidade toda, mas incidindo somente nas grandes vias, por exemplo, a avenida Jacu Pêssego, na zona leste, ou a avenida Senador Teotônio Vilela, na zona sul. “As pessoas poderiam trafegar entre os bairros, inclusive cruzando as grandes vias. Mas não poderiam utilizá-las para acessar as regiões centrais da cidade, o que teria um impacto positivo de 20% na redução do tráfego geral na cidade, segundo nossas estimativas”, afirmou.
Tatto afirmou que o objetivo é adequar o sistema à demanda identificada. “Há locais que é difícil transitar com veículos de tração traseira. Em outros a maior parte da população é idosa e demanda ônibus acessíveis. Alguns locais o ideal é ter ônibus comum e em outros micro-ônibus. Tudo isso nós vamos adequar para garantir a melhor prestação de serviço possível”, explicou. O secretário afirmou que esta ação vem sendo realizada aos poucos e não tem prazo para ser concluída.
Ele aproveitou o espaço para desconstruir a ideia de que a prefeitura iria segregar faixas para outros tipos de veículos, como carros com mais de um passageiro, noticiada na semana passada em meio ao debate sobre ganhos e perdas provocados pelas novas faixas de ônibus. “Eu recebo pedidos desse tipo todo dia. Mas se formos atender a todos é melhor tirar os ônibus da faixa exclusiva, porque aí vai andar melhor”, ironizou. Tatto disse já ter recebido pedidos de acesso às faixas e corredores do transporte coletivo para ônibus fretados, autoridades de todos os poderes, serviço funerário, idosos, caroneiros e até da classe médica, para citar somente alguns.

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