Recentemente falei do Arco Tietê por aqui, dando uma visão resumida das minhas impressões preliminares no contexto da audiência pública realizada no último dia 10/09, porém um comentário chamou minha atenção, pois se relaciona com o artigo sobre a forma tacanha e prejudicial com a qual são tratados os pouco mais de 130 km de trilhos da CPTM dentro da capital.
Primeiramente, acho fundamental entendermos que ao falarmos de metrô, estamos sim falando de ferrovia. E a CPTM enquanto operadora, o faz com apenas dois serviços hoje: Trem Metropolitano e Expresso Turístico, ambos são serviços ferroviários de passageiros. O Trem Metropolitano é aquele “servicinho que transporta meia dúzia de pessoas”, ou seja, 3 milhões de passageiros que todos os dias se sujeitam a testes de paciência para vencer distâncias consideráveis. Essa meia dúzia pouco está preocupada se o serviço carrega qualquer tom de saudosismo, fruto sobretudo, da falta de prioridade da ferrovia em políticas públicas realistas para transporte de massa e desenvolvimento regional e metropolitano, sem uma visão carrocêntrica e pseudo-primeiromundista que impõe o carro como elemento inseparável da convivência com o meio urbano, esfriando a possibilidade de espaços democráticos e utilizando da pior forma a infraestrutura e o espaço.
Hoje a CPTM ainda não alcançou os três minutos de intervalo prometidos desde 1991, ainda antes da criação da companhia, o que só viria a ocorrer em 1992, sendo assumidas as operações dos então trens urbanos da CBTU e do Trem Metropolitano da Fepasa em 1994 e 1996, respectivamente. A recuperação das linhas sucateadas da CBTU claramente marca presença até os dias atuais, bem como a continuidade dos esforços nas linhas ex-Fepasa, sendo provavelmente a Linha 9-Esmeralda a vitrine mais significativa de investimentos. A requalificação, porém, não parece ter ocorrido administrativamente, nem parece ter se alicerçado em ideais plenos de inovação, de desenvolvimento e que rigorosamente visassem uma transformação do serviço em todas as suas camadas, abrangendo as mais diversas áreas de influência, compondo diretrizes claras para equilíbrio da demanda e aumento da qualidade de vida dos usuários.
A CPTM enquanto operadora de um sistema tão importante de metrô regional (que aliás hoje é o único serviço de transporte de massa prestado pela companhia, ainda que futuros trens intercidades possam vir a mudar o cenário), que compartilha hoje faixas horárias para o tráfego de cargas (que deverão ser reduzidas a medida que a segregação aumenta), tem o dever de avançar e expandir todo e qualquer paradigma operacional para se adequar à realidade, buscando sinergia com outras entidades públicas, privadas e grupos de indivíduos interessados, sejam ONGs, sejam associações de bairros ou de usuários de determinada linha. O enterramento dos trilhos no eixo do Arco Tietê seria um exemplo de medida que relacionaria diversas entidades, tratando do espaço como um todo, aumentando e muito as chances de sucesso das intervenções a serem realizadas.
A falta de um olhar que vá além de visões vagas e/ou limitadas do que é a ferrovia vem penalizando a população ligada ao serviço, trata-se hoje de um problema da sociedade e também político, e ainda que se possa argumentar que há desinteresse por parte da maioria, seria muito fácil tentar traçar as causas. A CPTM não pode mais ser virtualmente limitada, precisamos de um aumento de capacidade mais pragmático, de uma intermodalidade maior (principalmente fora da capital) e de uma requalificação que não negligencie o espaço urbano e seus ocupantes. A realização adequada dos projetos existentes, se possível com maior grau de refinamento, além da contínua evolução do serviço, simplesmente dependem disso.
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