Cruzando rios, planícies e colinas, os milhares de quilômetros de rodovias construídos por Portugal nas três últimas décadas são uma prova visível de como um país pobre e periférico tentou se aproximar mais do coração da Europa.
Mas longos trechos dessas estradas foram praticamente abandonados pelos motoristas, que já não podem pagar os pedágios para utilizá-las.
Para ajudar a manter no rumo o pacote de resgate de € 78 bilhões a Portugal, o governo se viu forçado a cobrar pelo uso de mais de 900 quilômetros de estradas onde antes não havia pedágios, o que deflagrou ruidosos protestos, elevou os custos de fazer negócios e causou confusão entre os turistas.
“O tráfego das rodovias caiu acentuadamente nos últimos dois anos”, diz José Monteiro Limão, editor da “Transportes em Revista”, especializada no setor.
“Isso é reflexo tanto de uma acentuada contração de gastos quanto da introdução de novos pedágios em estradas que anteriormente eram gratuitas.”
Gonçalo Torres, cujo trabalho como organizador de eventos requer frequentes percursos rodoviários, diz que a jornada de 220 quilômetros entre Castelo Branco e Lisboa tem custo de pedágio maior que o custo do combustível.
Estradas secundárias
E porque o pedágio padrão dos caminhões é quase duas vezes maior que o dos carros, as companhias exportadoras e as empresas de transporte vêm sendo seriamente prejudicadas ou forçadas a realizar percursos mais longos por estradas secundárias, de acordo com Monteiro Limão.
Por isso, o governo reduziu os pedágios para viagens noturnas de caminhões em 25%. Os pedágios contribuíram para uma queda no tráfego.
De acordo com a Inrix, companhia de informações sobre trânsito, o congestionamento rodoviário se reduziu mais em Portugal do que em qualquer outro país europeu, com queda de 50% em 2012 e de 68% nos três primeiros meses deste ano. As vendas de automóveis também despencaram em 2012, para o mais baixo patamar em 27 anos.
Além de serem sintoma de recessão, os analistas veem as rodovias vazias como prova dos gastos públicos insensatos que contribuíram para a crise da dívida no país.
Muitas das rodovias foram financiadas por meio de parcerias entre o setor público e o privado, com o uso de contratos nos quais os credores internacionais consideram que o governo português assumiu riscos excessivos.
Tradução de Paulo Migliaci
Fonte: Financial Times
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