Em um leilão que lotou o espaço de eventos da BM&FBovespa, em São Paulo, a proposta da Odebrecht pelo aeroporto fluminense, lida ainda nos primeiros 20 minutos do certame, arrancou suspiros. A empreiteira ofereceu R$ 19,03 bilhões, R$ 4,5 bilhões acima do valor do segundo colocado, o grupo de Carioca Engenharia e GP Investimentos, com R$ 14,5 bilhões.
Dada a grande distância entre os dois valores, parecia pouco provável que o Galeão pudesse passar a outras mãos. De fato, os demais participantes nem fizeram lances na etapa viva-voz.
Poderiam competir o consórcio da Carioca e o formado por EcoRodovias, Fraport e Invepar, que havia oferecido R$ 13,1 bilhões. Mas a cada chamada do leiloeiro, o silêncio se repetia no salão.
O grupo da EcoRodovias era visto entre os executivos do mercado e pelo governo como o favorito. Embora ainda tivesse reserva para lances maiores ao vivo, o valor da Odebrecht era 45% superior e inviabilizou qualquer tentativa de reverter o cenário. Era uma manhã reservada para o grupo Odebrecht, cujo aeroporto do Rio era seu alvo favorito.
Os grupos CCR e Queiroz Galvão, que também apresentaram seus envelopes por Galeão – com R$ 10,3 bilhões e R$ 6,6 bilhões, respectivamente -, ficaram de fora do viva-voz. O embate estava reservado na disputa por Confins.
O leilão do aeroporto mineiro teve somente três interessados, mas chegou ao sexto lance na etapa viva-voz. Na primeira fase, o grupo liderado pela CCR propôs o maior valor, R$ 1,4 bilhão, com ágio de 28% sobre o mínimo de R$ 1,1 bilhão.
A Odebrecht foi a segunda, com R$ 1,3 bilhão, mas ficou “inativa”, já que estava como titular para o Galeão, e as regras da Agência Nacional da Aviação Civil (Anac) não permitem um só vencedor para os dois aeroportos.
A Queiroz Galvão, que passou para a segunda etapa com uma oferta inicial de R$ 1,1 bilhão, logo no início da disputa ao vivo elevou seu lance para R$ 1,5 bilhão. Durante os 25 minutos seguintes, chegou a fazer mais duas propostas, mas foi sempre superada por novos lances da CCR. A disputa terminou com o silêncio da Queiroz Galvão por três minutos, como estabelece a regra, após a proposta de R$ 1,82 bilhão da concorrente.
Enquanto os vencedores comemoravam o resultado, executivos de outros grupos lamentavam a derrota. “Não dá pra entender”, disse, na BM&FBovespa, representante do consórcio da EcoRodovias.
E lembrou que agora as chances de ter um aeroporto ficam reduzidas, pois o governo deve priorizar a aviação regional – segundo entrevistas recentes dadas pelo o ministro da Secretaria de Aviação Civil (SAC), Moreira Franco.
O presidente da Invepar, Gustavo Rocha, disse ao Valor que a companhia continua buscando oportunidades em concessões aeroportuárias. Segundo ele, a sinalização do governo é que mais leilões virão ao mercado nos próximos anos.
A Invepar já administra o aeroporto de Guarulhos, maior do país, e também está interessada nas rodovias, com leilões de quatro lotes marcados para até o fim do ano. A Queiroz Galvão buscará novas concessões de aeroportos, enquanto o consórcio liderado pela Carioca, procurado pelo Valor, preferiu não fazer comentários.
Os integrantes do governo presentes na cerimônia enfatizaram que o leilão superou suas expectativas. Não apenas pelo nível das propostas e pela quantidade de proponentes, mas o resultado foi avaliado como um amadurecimento do modelo de concessões.
O ágio de 252% no valor global de Galeão e Confins mostrou que “houve grande demonstração de confiança no futuro do país pela iniciativa privada”, disse Moreira Franco.
Gustavo do Vale, presidente da Infraero, disse que o resultado superou suas estimativas pessoais e considerou importante a atração de investimentos privados ao Brasil. Agora, a Infraero vai seguir em frente com seus planos de abrir o capital na bolsa, disse.
Para Gustavo Guaranys, diretor-presidente da Anac, o período de um ano e meio entre o primeiro leilão e o segundo serviu para as empresas tomarem mais conhecimento a respeito do modelo.
Fonte: Valor Econômico, Por Olivia Alonso, Rodrigo Pedroso e Fábio Pupo
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