- Pesquisa mostra que a maioria das calçadas avaliadas por ONG não tem pavimento regular, rampas para acessibilidade adequadas e iluminação específica.
A mobilidade de pessoas nas grandes cidades já é um problema conhecido, com engarrafamentos e um transporte público ineficiente, os centros urbanos enfrentam mais um problema: a má qualidade das calçadas. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010, no Brasil cerca de 30% das viagens cotidianas são realizadas a pé, principalmente em função do alto custo do transporte público.
Em uma pesquisa realizada pela ONG Mobilize Brasil, durante os meses de fevereiro e julho, em 39 cidades brasileiras para avaliar a qualidade das calçadas no país, apenas 6,57% dos locais avaliados obtiveram nota acima da média nacional, 3,55. Entre as cidades avaliadas estavam Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP), Salvador (BA), Curitiba (PR), Belém (PA), Porto Velho (RO), Fortaleza (CE) e Boa Vista (RR).
A Mobilize considerou como nota mínima para uma calçada ser considerada de qualidade aceitável a nota 8, obedecendo critérios que avaliam irregularidades no piso, largura mínima, obstáculos, como postes e lixeiras, rampa de acessibilidade, iluminação, sinalização e paisagismo.
Inicialmente, a avaliação foi feita em calçadas em ruas e avenidas em áreas com grande movimentação de pedestres e áreas com urbanizações antigas com mais de 50 anos. De acordo com o relatório, 70,18% das localidades avaliadas obtiveram médias abaixo de cinco.
A única calçada a receber nota dez em todos os critérios foi a da Avenida Oceânica, em Salvador. A Avenida Paulista, localizada em São Paulo, ficou com 9,375 pontos. Das 24 ruas e avenidas que receberam 0 pontos, 14 estão localizadas no estado do Rio de Janeiro.
Responsabilidade
A Mobilize aproveitou a oportunidade e realizou uma pesquisa na sua página da Web sobre a responsabilidade de padronização e manutenção das calçadas. Apesar de ser considerado papel do proprietário, 61,51% consideram que a tarefa deveria caber ao poder público; 20,96% ao proprietário; e 17,53% meio a meio.
A ONG recomenda em seu estudo que as calçadas sejam consideradas como parte do sistema de transporte e que devem ser mantidas pelas prefeituras e administração, como é o caso do Distrito Federal.
Mesmo que a responsabilidade seja do proprietário, o estudo chama a atenção para as formas que o governo utiliza para lidar com o problema das calçadas, como a aplicação de multa. Recomenda-se que seja prestada uma assistência para a conscientização do cidadão, fornecendo informações técnicas e orientar sobre materiais e formas de construção das calçadas.
Ainda de acordo com a publicação, consultores da área de transportes acreditam que as calçadas “devem ser consideradas um sistema de circulação, com mapeamento centralizado, sinalização e sistemas de controle, que permitam realizar as manutenções sempre que necessário”.
Distrito Federal
A pesquisa do Mobilize Brasil avaliou apenas alguns pontos em Brasília, como a Rodoviária, Setor Hoteleiro e Esplanada dos Ministérios, com média de 5,98.
Nesses locais falta iluminação pública e nas calçadas é comum encontrar irregularidades, como rachaduras, desnível no piso, crescimento de grama e raízes de árvores que quebram as calçadas.
A segurança Marilena Ribeiro trabalha no centro de Brasília e faz parte do seu percurso para o trabalho a pé entre o Setor Comercial Sul (SCS) e Setor de Autarquias Sul (SAS) e reclama dessas restrições das calçadas.
“Existem as calçadas remendadas, rachadas; aquelas que as raízes das árvores levantaram os blocos de cimento, além disso, a iluminação é escassa. Sinto-me insegura. Já tropecei várias vezes”.
A administração de Brasília informou que o SCS está sob controle e que não há nenhum problema imediato nessa região do Plano Piloto, que já foi adaptada para uso de portadores de necessidades especiais.
De acordo com o assessor de comunicação da RA, Sérgio Oliveira, a prioridade é a reconstrução das calçadas na L2 porque tem um grande fluxo tanto durante o dia, quanto a noite, quando os moradores fazem exercícios, como corrida.
O cadeirante José Higino de Oliveira falou sobre acessibilidade para cadeira de rodas na cidade, considerada por ele ainda muito ruim. “No Plano Piloto os pontos mais críticos são os comércios com as calçadas desniveladas e o interior das superquadras.”
O estudante Eduardo Augusto compartilha da opinião de José. Morador da região administrativa Águas Claras, ele já teve dificuldades de transportar um cadeirante pelas calçadas.
“A quantidade de rampas para facilitar o acesso das calçadas para rua está boa, mas a disposição dos postes dificulta a passagem das cadeiras de rodas. Tem locais que chega a ser impossível de passar”, afirma.
A Assessoria de Planejamento da Administração de Águas Claras informou que a largura mínima exigida das calçadas é de dois metros, mas algumas construções antigas ainda não se adequaram.
Conforme a administração, existe um projeto para revitalização das calçadas das duas principais avenidas, mas ainda estão aguardando orçamento para a implantação.
Agência T1, Danielle Sousa
Edição: Bruna Yunes
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