Cidade faz força para ser mais amigável com os ciclistas, mas eles ainda reclamam de maus tratos nas ruas.
Nos últimos anos, São Paulo viu crescer outro número além dos automóveis: o das bicicletas. São aproximadamente 350 000 viagens diárias, segundo dados da Associação Brasileira dos Fabricantes de Bicicletas (Abraciclo).
Mesmo devendo na quantidade e na extensão das ciclovias, São Paulo se esforça para ser mais democrática e dividir suas ruas entre duas, quatro ou mais rodas.
Entre ciclovias, ciclofaixas e rotas de bicicleta, a malha soma 180 km. Esse número varia entre dias úteis e fins de semana, quando algumas ruas se transformam em ciclofaixas de lazer.
Uma das alternativas que se popularizam nas grandes cidades é o compartilhamento de bicicletas. Aqui, o pioneiro nesse mercado foi o Use Bike, fruto da parceria entre a Porto Seguro e a rede de estacionamentos Estapar.
Em 2011, o programa passou a ser controlado pela ONG Instituto Parada Vital e foi rebatizado de Nossa Bike. Nos 19 pontos de retirada, situados em estações do Metrô e terminais metropolitanos, existem 245 bicicletas e a primeira hora de aluguel é gratuita. As horas excedentes custam 2 reais cada uma.
Já foram realizados cerca de 107 000 empréstimos, 13 000 só em 2012. A Porto Seguro manteve a prestação de serviços e socorro a seus clientes que pedalam. Entre as ocorrências atendidas estão trocas de pneu, montagem de novas bicicletas e reparos no freio. Em 2011, foram mais de 500 atendimentos aos ciclistas clientes do seguro automotivo.
A iniciativa de compartilhamento mais recente é a do Bike Sampa, que começou no fim de maio e já registrou quase 4 000 viagens. São dez estações para retirada na região da Vila Mariana, com um total de 100 unidades disponíveis.
Para alugar, o usuário deve possuir cartão de crédito e pagar a taxa de inscrição de 10 reais, que dá direito a viagens ilimitadas, desde que a bicicleta seja estacionada na estação durante 15 minutos a cada meia hora de uso. Para pedalar sem interrupções, é cobrada uma taxa de 5 reais a cada 30 minutos. As estações funcionam das 6 às 22 horas.
Para estimular pessoas com pouca experiência a perder o medo e pedalar pelas ruas da cidade, em 2010 foi criado o projeto Bike Anjo. No início, um grupo de amigos fazia uma “escolta” dos candidatos em passeios.
Como a procura cresceu, foi criado um site em que o usuário se cadastra e solicita um ajudante de percurso. Hoje, 50 cidades contam com o serviço no país. Só em São Paulo são 150 voluntários.
Para ter o auxílio de um bike anjo é preciso fazer o cadastro no site e preencher os dados do trajeto. O voluntário mais próximo é encaminhado para instruir e acompanhar o ciclista.
Um dos fundadores do grupo, o gestor ambiental João Paulo Amaral, conhecido como JP, fez o caminho inverso da maioria. Há quatro anos, trocou o carro pelo transporte público e depois pela bicicleta. “Comecei a fazer o trajeto em menor tempo e melhorei minha qualidade de vida e minha relação com São Paulo, que agora conheço melhor”, diz.
O movimento de ciclistas Bike Bus é outra novidade em São Paulo. Um grupo de ciclistas se encontra para ir pedalando em comboio para o trabalho. A iniciativa, que já existia em cidades dos Estados Unidos, começou por aqui quando o engenheiro civil Tom Buser, que ia trabalhar de bicicleta, recrutou o amigo Rafael Stucchi para acompanhá-lo. Os dois colocaram o trajeto em uma rede social, convidando pessoas que faziam um percurso semelhante.
“Quando pedalamos em conjunto, conseguimos ocupar uma faixa inteira da via, somos vistos pelos motoristas e corremos riscos menores”, conta Buser. O grupo costuma ter entre quatro e oito pessoas e percorre o trajeto entre Pinheiros e a Vila Olímpia todos os dias.
Com tantos movimentos pró-ciclistas, até os motoristas que trafegam pela cidade sentem uma diferença. O radialista Henrique Bittancourt, que utiliza o carro no cotidiano, trocaria seu veículo por uma bicicleta, desde que a infraestrutura fosse mais favorável aos ciclistas.
“A relação entre motoristas e ciclistas está visivelmente melhor. Se as condições fossem mais adequadas para a prática, certamente trocaria meu carro por uma bicicleta.”
Além de ciclistas que abandonaram os carros, agentes da CET e policiais militares também estão pedalando para fiscalizar a cidade. Há um ano e oito meses, oito policiais da PM fazem a ronda na região da avenida Paulista. Segundo o capitão Luiz Gomes, a bicicleta ajuda no policiamento onde o carro não é tão ágil.
“Em vias movimentadas como a Paulista, é quase impossível para uma viatura fazer um retorno em caso de necessidade. Já com a bicicleta, ganhamos eficiência. Se ela não der conta, acionamos uma viatura pelo rádio”, conta.
Desde 2007, a CET usa 16 bicicletas para fiscalizar o Parque do Ibirapuera e a praça Charles Miller. Em maio deste ano, a operação se estendeu aos 3,3 km da ciclofaixa de Moema, na zona sul. Lá são quatro fiscais que se revezam em dois turnos para instruir os ciclistas e autuar motoristas que desrespeitam as leis de trânsito.
Uma das agentes que trabalham na região é Neusa Lima, de 52 anos, que atua no bairro desde o início da operação. “No começo, havia resistência dos moradores e os comerciantes e minha família achavam que eu era louca. Com o tempo, todos viram que era seguro e passaram a confiar no meu trabalho”, diz.
Neusa se aposentou há um mês, depois de 26 anos na CET, mas continua na ativa: “Ainda tenho muito a aprender e, quem sabe, a ensinar”. Segundo a CET, nos três meses de operação no bairro, foram aplicadas 1 338 autuações, sendo que 92 delas foram por desrespeito a ciclistas.
Pedal Eletrizante
Uma alternativa mais confortável que tem sido vista em maior número em São Paulo são as bicicletas elétricas. São cerca de 2 000 unidades circulando. Elas permitem que o ciclista enfrente com maior facilidade as inúmeras ladeiras e obstáculos da capital.
A Ebike Store vende em média 20 unidades por mês. O dono, Ricardo Uchoa, confirma que a procura aumentou desde o ano passado e que espera dobrar as vendas em 2012.
A corretora de seguros Patrícia Sadalla trocou seu carro pela bicicleta elétrica em 2009 e passou a percorrer o trajeto entre sua casa e o escritório pronta para o trabalho. ”Quando o semáforo abre, uso a potência do motor para ter um arranque mais eficiente que uma bicicleta comum”, diz.
De acordo com o Denatran, as bicicletas elétricas são classificadas como ciclomotores e devem ser emplacadas. Cabe aos municípios regulamentar o uso desse veículo. Em São Paulo não há uma legislação específica para elas, o que impede a fiscalização.
As Bikes Mundo Afora
Conheça ações de cidades amigas dos ciclistas:
Copenhague, Dinamarca: quer ser a cidade mais amigável para os ciclistas até 2025. Para isso, o governo planeja tornar interativas as faixas de circulação, aumentando ou diminuindo o espaço para ônibus, carros e bicicletas conforme a necessidade.
Hoje, em determinados pontos, as áreas de estacionamento são flexíveis e se alternam entre bicicletas e carros. Como incentivo à população, o prefeito Frank Jensen vai trabalhar de bicicleta.
Bogotá, Colômbia: outro exemplo de cidade menor que São Paulo e com mais ciclovias. São 344 km e circulação diária de 285 000 pessoas. As chamadas Ciclorutas se estendem pelas longas avenidas e têm conexões com terminais de ônibus, facilitando a chegada a bairros mais distantes.
Barcelona, Espanha: a cidade catalã tem um programa com mais de 400 estações de aluguel espalhadas pela cidade. A taxa anual de 44 euros dá direito a alugar uma bicicleta por meia hora todos os dias. As demais horas são tarifadas.
Londres, Inglaterra: iniciou seu sistema de compartilhamento em 2010. Hoje, são 160 000 usuários cadastrados e mais de 14 milhões de aluguéis.
Fonte: Quatro Rodas, Por André Paixão
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