Evaristo Almeida *
O caos está instalado no transporte público na Região
Metropolitana de São Paulo. Todos os
dias há panes e atrasos tanto nos trens da CPTM quanto do Metrô.
A RMSP tem 20 milhões de habitantes, sendo que 11 milhões
só na cidade de São Paulo. O principal modal de transporte público deveria ser
o metrô sob responsabilidade do governo estadual. Mas há apenas 74,3
quilômetros de rede implantada. E essa rede ainda não ultrapassou os limites
urbanos da capital.
A cidade de Santiago do Chile com cinco milhões de
habitantes tem uma rede metroviária de 103 quilômetros e já projeta para 140
quilômetros quando as linhas três e seis estiverem prontas em 2018. A malha
metroviária será de 140 quilômetros. O início da construção do metrô em
Santiago foi em 1969, o mesmo ano de São Paulo.
E vale lembrar que o Produto Interno Bruto do Chile é de
US$ 248,4 bilhões, segundo o Fundo Monetário Internacional, dados de 2011,
enquanto o do Estado de São Paulo é de US$ 733,4 bilhões, segundo informação do
SEADE de 2012. Ou seja, o PIB chileno é um terço em comparação ao paulista.
Para São Paulo ter o mesmo índice de população por
quilômetro da cidade de Santiago, a rede paulista deveria ter atualmente 229
quilômetros de linhas.
Recentemente em reunião no Secovi, segundo publicado no
jornal O Estado de São Paulo no dia 11 desse mês, o presidente da Companhia do
Metropolitano de São Paulo disse que a entrega total da linha 4 – Amarela em
construção desde 2004, só vai ser entregue em 2015. Terão gasto 11 anos para
construir uma linha de metrô com apenas 12,8 quilômetros de extensão e 11
estações. A linha três do metrô de Santiago, com 22 quilômetros e 18 estações
está prevista para ser construída em quatro anos.
Outra linha que também será atrasada é a linha 5 – Lilás
que estava prevista para ser terminada em 2015 e só será em outubro de 2016.
Será outro recorde de atraso, pois essa linha começou a ser construída em 1998.
Dessa forma serão 18 anos, uma eternidade para se construir uma linha de metrô.
O trecho inicial linha 15 – Bronze, que estava previsto
para funcionar em 2013, só será em 2014.
O Metrô está em atraso com a implantação do sistema de
sinalização, conhecido como CBTC, que poderia permitir que mais trens circulassem
nas vias, diminuindo a superlotação e melhorando o conforto dos usuários.
Também 36 trens já deveriam estar reformados e prestando
serviços à população paulista.
As panes cresceram 30% no ano de 2012 em comparação com o
de 2011, segundo o jornal O Estado de São Paulo.
Como reflexo da inoperância do governo do estado e da
falta de compromisso para com a população, o metrô paulista é atualmente o mais
lotado do mundo, segundo o Comet, comunidade de metrôs que reúne 14 sistemas do
mundo.
É esse quadro que faz com que em várias estações do Metrô
as filas dos usuários, que o presidente do Metrô numa frase infeliz no SECOVI comparou
com pingüins, começam fora das estações.
Mas
o que explica tamanha lentidão na expansão do Metrô de São Paulo?
Quando os tucanos assumiram o governo em 1995 o Estado
tinha 43,4 km. Em 17 anos construíram apenas 30,9 quilômetros, o que dá uma
média de 1,81 quilômetro ao ano. Muito pouco.
De
quem é a responsabilidade do Metrô?
A Companhia do Metropolitano de São Paulo foi fundada
pela Prefeitura Municipal de São Paulo. Com o tempo o governo estadual foi
aportando recursos e se tornou o principal acionista da empresa, sendo,
portanto o responsável pela construção das linhas.
O
governo federal não aporta recursos no Metrô?
Diferente do que acontece em muitos países do mundo, a
mobilidade urbana ficou por conta dos municípios e estados na Constituição
Federal de 1988. O governo federal só investia nos sistemas de sua
responsabilidade que é a Companhia Brasileira de Trens Urbanos – CBTU, com os
sistemas de Belo Horizonte, Recife, Natal, Maceió e João Pessoa e o Trensurb de
Porto Alegre. Com a política econômica vitoriosa do governo Lula herdada pela
presidenta Dilma Rousseff, foi possível criar o PAC Mobilidade Grandes Cidades
e PAC Mobilidade Urbana Médias Cidades. É a primeira vez na história do Brasil
que o governo federal entra de forma sistêmica e organizada para financiar a
mobilidade urbana. Na Constituição a obrigação do governo federal é de apenas
fomentar o planejamento. As cidades de
São Paulo, Curitiba, Porto Alegre, Salvador e Belo Horizonte tiveram projetos
aprovados para construção de metrôs.
Quais
projetos de metrô o Estado de São Paulo apresentou para o PAC Mobilidade Urbana
Grandes Cidades?
Apenas a construção da linha 18 – Bronze, um monotrilho,
que foi beneficiado com R$ 400 milhões. Segundo publicado no jornal O Estado de
São Paulo de 25 de abril de 2012, na C3,“ a
Secretaria Estadual dos Transportes Metropolitanos não inscreveu nenhum projeto
para ampliação da rede subterrânea de do metrô no PAC Mobilidade Grandes
Cidades. Assim, a construção de mais linhas continua sendo associada ao governo
do Estado na hora da colheita dos frutos eleitorais dessas obras”. Fica muito claro que a reclamação dos tucanos
da falta de recursos federais não faz sentido, pois a preocupação principal do
governo estadual foi eleitoreira e não com o conforto e bem-estar dos usuários
do Metrô.
Além do mais o Estado de São Paulo foi beneficiado com R$
17 bilhões com aval de financiamento do governo federal para o Metrô e a CPTM.
É o maior volume de recursos da história para o sistema metroferroviário
paulista. Esse montante se aplicado integralmente no Metrô daria para construir
34 quilômetros de rede, ou seja, 45% do que existe hoje construído.
Essa é uma das fontes de recursos para a construção das
quatro linhas que atualmente se desenvolvem na cidade de São Paulo.
Finalizando
Só a má gestão do governo estadual explica o baixo
crescimento da rede metroviária de São Paulo.
Nesses anos não foram poucos os casos de irregularidades no trato dos
recursos públicos. O mais recente envolve a extensão da linha 5 – Lilás, em
que, segundo a Justiça, o povo paulista vai pagar R$ 326 milhões a mais pelas obras
por força de conluio entre as empresas.
São Paulo precisa de mais Metrô e isso é possível, pois
superamos a fase da falta de recursos que sempre foram um impeditivo.
É preciso mudar as práticas na condução do Metrô e o
governo estadual ter compromisso com o cidadão paulista. Geralmente o
governador enche os jornais com linhas traçadas do que um dia talvez seja uma
linha de metrô. Cada vez mais vão empurrando os cronogramas para datas
fictícias, enganando a população.
Mesmo com a construção das linhas que estão em obras, o
déficit acumulado nesses 17 anos é enorme e São Paulo tem pressa em ter uma
mobilidade urbana à altura do seu povo.
*Evaristo Almeida – Mestre em Economia
Política, Assessor de Transportes da Liderança da Bancada do PT e Coordenador
do Setorial Nacional de Transportes do PT
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