Atrasos, lentidões e outros problemas enfrentados com frequência nos últimos meses em trens da CPTM (Companhia de Trens Metropolitanos) poderiam ter sido amenizados se obras essenciais não estivessem atrasadas há mais de dois anos, algumas sem previsão de retomada.
São 12 obras com atraso médio de um ano e oito meses, destinadas a modernizar trilhos, vias aéreas e sistemas de energia, um dos problemas crônicos da rede hoje, cheia e sobrecarregada.
Elas ocorrem nas linhas 7-rubi (Luz-Francisco Morato), 8-diamante (Júlio Prestes-Itapevi), 9-esmeralda (Osasco-Grajaú), 10-turquesa (Brás-Rio Grande da Serra) e 11-coral (Luz-Guaianazes-Estudantes), esta a mais movimentada da rede.
Só na semana passada, ao menos duas falhas no fornecimento de energia atrapalharam a circulação de trens em São Paulo, uma na linha 7, outra na linha 11.
Elas foram causadas pelo fato de a oferta de energia não ser suficiente para atender à demanda –e, também, por desgaste das redes aéreas que fornecem energia aos trens.
Na quarta-feira, a Folha estava na linha 11 no momento de uma dessas falhas, que ocorreu em uma subestação de energia em Calmon Viana, em Poá (Grande São Paulo) e afetou a circulação de trens durante 50 minutos.
Dependem dessa linha os passageiros que vivem em cidades e bairros da região leste e trabalham em São Paulo. O trem em que estava a farmacêutica Thais Vigiano, 25, levou uma hora e 11 minutos de Guaianazes à Luz; a viagem normal leva menos da metade do tempo.
A demora não é incomum, diz. “Já passei mal algumas vezes por falta de ar.” São duas as obras de reformas em vias aéreas e trilhos na linha 11. Uma está atrasada há dois anos e três meses; a outra, há 39 dias. Problemas recorrentes de energia elétrica também afetam a linha 9 que corre paralela à marginal Pinheiros.
Nela, uma obra em um sistema que monitora e repara à distância falhas em subestações excedeu em 492 dias o prazo de conclusão: deveria terminar em janeiro de 2012, mas a nova previsão é janeiro de 2014.
Posição
A CPTM diz que a modernização está em curso e que a quantidade de ocorrências “notáveis” (mais graves), que exigem uso de ônibus para levar os passageiros no trecho em que a viagem de trem está interrompida, caiu de 49, em 2010, para 28, em 2012. Mas o número de falhas de energia graves subiu de cinco para dez nesse período.
Se estivessem concluídas, as obras diminuiriam o número de interrupções, melhorariam o fluxo de trens, colaborariam para minimizar o intervalo entre as composições e reduzir os acidentes.
Professor da Escola Politécnica da USP, Telmo Giolito Porto diz que melhorar o fornecimento de energia na rede é fundamental para o sistema funcionar. Há mais trens em funcionamento hoje do que no passado, o que eleva o consumo de energia e desgasta a rede aérea.
Mas Porto pondera que a CPTM não pode ser culpada por todos os problemas. “As falhas da ferrovia e do transporte urbano têm origens no tempo, devido à falta de investimentos nos últimos 20 anos do século 20, equipamentos com idades e origens tecnológicas diferentes etc.”
Fonte: Folha de S. Paulo, Por Felipe Souza. Colaboraram André Monteiro e Eduardo Geraque
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