Construído debaixo do mar e à prova de terremotos, ele integrará as duas metades de Istambul
Da Isto ÉJulio Wiziack Colaborou Luciana Sgarbi
Com séculos de história, Istambul já passou por invasões, guerras e um intenso fluxo comercial. Agora, a capital turca é palco de uma das mais ousadas obras de engenharia que a criatividade e o conhecimento humano seriam capazes de produzir: a construção de um túnel à prova de terremoto, sob o estreito de Bósforo, o canal que divide a cidade em duas metades – uma se localiza na Europa, a outra fica na Ásia. Batizado de Túnel Marmaray, ele terá 76,3 metros de extensão, custará US$ 25 bilhões e ficará pronto em 2010. Na semana passada, o prefeito de Istambul, Kadir Topbas, anunciou o início da fase mais crítica do projeto: a construção do trecho final de 1,4 quilômetro que passará sob as águas do estreito.
O desafio é grande porque, a apenas 16 quilômetros ao norte do túnel, situa-se a Falha da Anatólia, uma área em que se encontram quatro placas tectônicas – os gigantescos blocos de rocha que se movimentam sob a crosta terrestre como peças de um quebra-cabeça. Sempre que elas se chocam, ocorre um terremoto. Pois ali, praticamente ao lado do Marmaray, há uma das áreas de maior atrito de placas do planeta, produzindo terremotos acima de sete pontos na escala Richter.
A solução foi projetar um túnel forte e, ao mesmo tempo, flexível o bastante para suportar choques tão fortes. Durante um terremoto, o fundo do mar se transforma em um lamaçal movediço porque as partículas de areia do solo marítimo se liquefazem com o aumento da pressão da água e esse efeito colateral dos terremotos abala as estruturas de pontes que podem se romper. Para evitar catástrofes como essas, os engenheiros do Marmaray dividiram o túnel principal em 11 túneis menores (135 metros cada um) que se encaixam como vagões de trem. Caso haja algum tremor, as partes “dançam” ao ritmo dos tremores e não se soltam graças aos anéis de borracha e aço articuláveis que funcionam como vedação entre as peças. Além disso, os técnicos planejaram uma rede de contenção a 16 metros abaixo da fundação atual para servir de sustentação se o túnel sofrer o tal efeito “areia movediça”. “Esse é um sistema incrivelmente seguro”, diz Steen Lykke, o engenheiro responsável pelo projeto.
As 11 peças do túnel, cada uma pesando 18 mil toneladas, estão sendo construídas em terra firme e serão transportadas para o mar, onde serão envolvidas por bóias especiais para facilitar o trabalho dos navios rebocadores que conduzirão cada parte até o local determinado pela planta do projeto. Em seguida, as bóias serão retiradas para que o bloco gigantesco possa afundar (é essa a etapa que agora se inicia), enquanto no subsolo marítimo abrem-se valas de cerca de um milhão de metros cúbicos que servirão de invólucros. Quando todas as peças estiverem encaixadas, a estrutura será recoberta de terra.
A inauguração do Marmaray terá também uma importância histórica porque acontecerá 150 anos após o sultão otomano Abdul Mecit ter anunciado seu plano de escavar um túnel sob o estreito de Bósforo – já naquela época demorava-se demais na travessia entre a metade asiática da cidade e sua porção européia. A situação não mudou muito. Hoje gastam-se três horas nesse percurso que só pode ser feito de barco ou por uma das duas pontes que ligam ambos os lados. Com o Marmaray em funcionamento, as viagens não passarão de 1h45.
Egípcios, gregos e romanos ainda causam espanto com a dimensão de seus templos e monumentos, mas foi com a tecnologia moderna que as construções superaram os limites impostos pela geografia. Atualmente, programas de computador simulam o comportamento dos materiais e isso significa um avanço que abriu caminho para os megaprojetos. No Japão ergueram-se pontes e edifícios resistentes a terremotos. A Holanda, que está abaixo do nível do mar, eliminou o risco de alagamento com um sistema informatizado de diques. No Panamá aprovou-se a ampliação do canal que liga o oceano Atlântico ao Pacífico, um colosso que reduziu em 13 horas o tempo de viagem dos cargueiros que saem de uma costa para a outra dos EUA.
Nenhum desses países, no entanto, é tão famoso por seus empreendimentos quanto Dubai. Com apenas 30 anos de existência, essa cidade dos Emirados Árabes Unidos está chamando a atenção com o seu hotel The World, um conjunto de 300 ilhas artificiais que formam o mapa-múndi a quatro quilômetros da costa. Para “produzir” tais ilhas, navios especiais como o Rotterdam, da companhia holandesa Van Oord, sugam por hora 23.630 metros cúbicos de areia do fundo do golfo Pérsico. É com essa areia que vem para a superfície que as ilhas são moldadas. O ex-piloto alemão de F-1 Michael Shumacher já ganhou a sua, no valor de US$ 12,5 milhões. Trata-se de um presente do príncipe Mohammed bin Rashid al-Maktoum, presente que deixaria qualquer rei do antigo Egito morrendo de inveja.
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