Mesmo sem o anúncio oficial de novas concessões de aeroportos no Brasil, a operadora francesa Aéroports de Paris (ADP) já se prepara para entrar na disputa pelo Galeão (RJ), mas faz uma ressalva: não está disposta a entrar em um negócio que tenha a Infraero como sócia majoritária. ”É importante ter autonomia para nomear funcionários e definir investimentos”, afirma o diretor de projetos internacionais da ADP, Emmanuel Coste.
Segundo ele, o grupo francês considera “interessantes” os dois aeroportos que deverão estar na próxima rodada de concessões – Galeão e Confins (MG) -, mas não esconde sua preferência. “O Rio oferece mais possibilidades de turismo, de negócios e de crescimento.”
No fim de agosto, a ADP foi uma das grandes operadoras europeias sondadas pelo governo brasileiro para entrar no Galeão ou em Confins, com participação de 20% a 49%. Diferentemente dos três primeiros aeroportos concedidos à iniciativa privada, a Infraero seria majoritária, conforme a proposta. Os ministros da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, e da Secretaria de Aviação Civil, Wagner Bittencourt, foram explicar pessoalmente a proposta.
Na escala em Paris, Gleisi e Bittencourt ouviram que a ADP não tem nenhum interesse em assumir uma posição minoritária no Brasil. “Nós deixamos isso bastante claro”, enfatiza Coste.
A posição majoritária a que se refere o executivo, como pré-requisito para disputar a entrada no Galeão, não é necessariamente em voo solo – ele admite a formação de um consórcio com a Schiphol, administradora do aeroporto de Amsterdã com a qual a ADP tem uma associação estratégica, além de empresas brasileiras. Só recusa um negócio em que a fatia da Infraero seja maior do que 50%.
Em fevereiro, em que foram leiloados três aeroportos, a ADP participou da disputa por Guarulhos. Ela atuou em parceria com a construtora brasileira Carioca Christiani-Nielsen. A Schiphol, que fez uma troca de ações com o grupo francês e hoje detém uma fatia de 8% em sua composição societária, também integrava o consórcio. Da mesma forma, a ADP tem 8% da holandesa. Foi um acordo que se seguiu à fusão das companhias aéreas Air France e KLM, as maiores da França e da Holanda, respectivamente.
A oferta por Guarulhos ficou no patamar de R$ 6 bilhões – muito distante da proposta vitoriosa, do consórcio liderado pela Invepar, que atingiu R$ 16,2 bilhões. Coste explica que o “prazo exíguo” para as obras de ampliação do aeroporto, até a Copa do Mundo de 2014, implicava riscos e diminuiu o apetite da ADP no leilão. “Acreditávamos no aumento de tráfego e na possibilidade de elevar as receitas comerciais de Guarulhos, mas havia riscos para a nossa imagem”, diz o executivo, referindo-se aos eventuais reflexos de não concluir as obras no cronograma exigido.
Coste não quis informar se a Carioca Engenharia continua sendo uma parceria preferencial para o Galeão. Ele citou as descobertas da Petrobras, na área de petróleo e gás, como um dos impulsos que o aeroporto carioca pode ter com voos internacionais. Para a ADP, o potencial de negócios nos terminais de passageiros do Galeão é pouco aproveitado. O executivo ilustra essa subutilização com o Luxor, hotel localizado dentro do aeroporto, que considera “muito ruim”.
A diferença com o aeroporto parisiense Charles de Gaulle, o maior sob administração da ADP, é gritante. Ele tem seis hotéis em suas próprias instalações ou no entorno, com acesso por um moderno monotrilho, incluindo redes do porte de Sheraton, Hilton e Ibis.
Além disso, centros comerciais e edifícios com escritórios se instalaram nas imediações, em área de propriedade da empresa. Como resultado, ela tem receitas anuais de € 241 milhões só com a exploração imobiliária, o que representa 8% do faturamento. Para efeito de comparação, essa cifra se aproxima de todo o lucro que foi verificado pela Infraero no ano passado.
O Charles de Gaulle registrou movimento de 61 milhões de passageiros em 2011, mas sua capacidade é para 75 milhões, com conforto. “A nossa meta é nos tornarmos o primeiro aeroporto da Europa”, afirma Franck Goldnadel, diretor do Charles de Gaulle, buscando tirar o posto ocupado hoje por Heathrow (Londres).
De uma estação do TGV (trem de alta velocidade) dentro do aeroporto, há conexões para cidades de todo o interior da França. Da movimentação total, 42% são de passageiros de voos de ou para a própria Europa, enquanto 38% são de destinos internacionais (extra-europeus). Existem quatro pistas e três terminais.
A última ampliação do terminal 2, inaugurada em junho, tem uma área de 4,8 mil m2 de lojas e 1,2 mil m2 de bares e restaurantes. Grifes como Prada, Gucci, Hermès, Rolex e Ladurée estrearam lojas próprias. O Espaço Museu, que será aberto no dia 13 de dezembro, vai abrigar exposições em parcerias com instituições de Paris. A primeira exposição terá objetos do Museu Rodin.
Cotada na Bolsa de Paris desde 2004, a ADP viu suas ações subirem mais de 30% nos últimos seis anos, enquanto o índice que capta a variação das 40 maiores empresas listadas caiu 22%. O controle ainda é do governo francês, mas a abertura de capital foi o “ponto de inflexão” para modernizar a empresa, segundo seus diretores. A partir daí, houve um impulso ao processo de internacionalização da ADP, que hoje administra 25 aeroportos fora da França. Estão nesse grupo 13 terminais no México – como Monterrey e Acapulco -, o aeroporto de Argel (Argélia), o de Zagreb (Croácia) e o de Amã (Jordânia).
Neste ano, o grupo francês também comprou uma participação de 38,6% da TAV Airports, a operadora de aeroportos da Turquia, dona de 12 terminais, incluindo o de Istambul, o 30º maior do mundo, cuja movimentação alcançou 37,5 milhões de passageiros em 2011 – mais do que Guarulhos, por exemplo.
O repórter viajou a convite da Embaixada da França no Brasil
Fonte: Valor Econômico, Por Daniel Rittner
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