Todos os dias de manhã, o professor de informática Ailton Alves Guimarães, 38, que é cego, usa o transporte público em São Carlos (232 km de São Paulo) para ir às aulas de programação que ele frequenta no Senac.
Até 15 dias atrás, ao chegar ao ponto de embarque, ele precisava parar todos os ônibus para perguntar aos motoristas qual era a linha daquele veículo e certificar-se de que era o que necessitava.
Desde a semana passada, porém, Guimarães conta com outra ajuda: uma voz eletrônica sai do celular dele e diz quanto tempo falta para que o ônibus chegue ao ponto.
O aplicativo instalado no aparelho faz parte de um sistema criado para tornar mais fácil a vida de cegos que usam o serviço e já atinge toda a frota de ônibus do transporte público de São Carlos.
O sistema usado nos celulares de São Carlos é inédito no país, segundo a prefeitura e o Grupo Criar, empresa responsável pelo software.
No Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência, são cerca de 200 deficientes visuais cadastrados na cidade.
Com o programa já instalado em um celular, o passageiro indica o número de uma ou mais linhas que pretende utilizar e também a numeração do ponto de embarque.
Em 40 pontos selecionados entre os mais utilizados pelos deficientes, como os que ficam perto de escolas, hospitais e shoppings, foram colocados números indicativos em braile e em relevo.
Após alimentar o programa com os dados, o celular passa a emitir avisos sonoros indicando a distância do ônibus em relação ao local de espera, o tempo estimado e o número de pontos que faltam para o veículo chegar.
Autonomia Maior
“Isso dá uma autonomia que antes eu não tinha”, diz Guimarães. Segundo ele, a maioria dos deficientes visuais já se adaptou ao celular, com programas que leem os caracteres das telas. O custo para o usuário é o do envio de um torpedo SMS, para instalação do programa.
A criação do software ocorreu a pedido da Prefeitura de São Carlos, diz o dono da empresa, Sérgio Soares.
Isso ocorreu há três meses, quando a empresa esteve na prefeitura interessada em outra área, a de gerenciamento do serviço de zona azul.
O programa foi colocado em funcionamento em São Carlos sem custos para a prefeitura. A empresa, porém, já vislumbra um mercado e iniciou testes em Ribeirão Preto, Santos e Curitiba (PR).
Fonte: Folha de S. Paulo, Por Leandro Martins
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