sexta-feira, 6 de julho de 2012

Air France: Relatório final aponta série de erros no 447

Como antecipou o G1, automatismo e treinamento interferiram na queda. Piloto tomou atitude errada em tragédia que deixou 228 mortos em 2009.
Jean-Paul Troadec, chefe do BEA (com o microfone), e Alain Bouillard, investigador do voo 447 (Foto: Benoit Tessier/Reuters)
Uma combinação de erros humanos e falhas técnicas provocou o acidente do voo AF 447 da Air France, que deixou 228 mortos em junho de 2009 ao cair no Oceano Atlântico, segundo apontou o relatório final divulgado na manhã desta quinta-feira (5), em Paris, pelo BEA (Escritório de Investigação e Análises), órgão francês encarregado das investigações. O G1 antecipou as conclusões do documento no início de junho.
Os pilotos não entenderam que o avião havia entrado em situação de estol (perda de sustentação) e começado a cair por esse motivo, de acordo com o diretor do órgão, Jean Troadec.
Ele afirmou ainda que, nos momentos finais, era praticamente impossível reverter a queda. “Não esperem que a gente aponte responsabilidades”, disse.
O BEA divulgou uma sequência de fatores que contribuíram para a queda: primeiro, a incoerência nas informações de velocidade, devido ao congelamento dos sensores pitot, provocou a queda do piloto automático.
Em seguida, a tripulação não entendeu o que ocorria com o Airbus e tomou uma atitude errada, levando à queda da aeronave no Oceano Atlântico.
Eles não haviam sido treinados para atuar nessa situação de perda de informações de velocidade e de pilotagem manual em alta altitude.
“Ações de comando desestabilizaram o avião, que entrou em uma queda anunciada”, disse o o investigador do caso, Alain Boillard.
“Essas ações bruscas e excessivas não são adequadas para um voo de alta altitude, sobretudo a ação de inclinação do bico da aeronave”, acrescentou.
Recomendações
O BEA fez 25 recomendações para tentar evitar acidentes semelhantes, entre eles a melhoria no treinamento dos pilotos em momentos de crise e no simulador da Airbus, “para ficar mais realista”.
Outra sugestão é para a Airbus “rever a lógica do sistema de controle da aeronave”. Segundo o relatório, os pilotos não entenderam que o avião estava caindo porque estavam em uma forma de controle sem proteção contra perda de sustentação.
O BEA também recomendou mudanças no controle do tráfego aéreo brasileiro e na coordenação de resgate em caso de acidentes no Oceano Atlântico.
Os investigadores apontaram que o comandante do AF 447 deixou a cabine sem fazer uma divisão de tarefas entre os copilotos.
“Não houve a definição de nenhuma estratégia sobre como atravessar a tempestade. Quando o comandante sai, os pilotos falam sobre o radar e decidem fazer uma leve inclinação na trajetória à esquerda (entrando mais para o núcleo da tempestade)”, declarou.
Hipótese para o erro
O investigador divulgou pela primeira vez uma hipótese que poderia indicar o motivo do copiloto mais novo ter adotado uma atitude errada, elevando o bico do avião.
“Ele poderia estar entendendo que estava em uma situação de alta velocidade, possivelmente por conta da questão aerodinâmica”, disse Boillard.
Ao elevar o bico do avião e ganhar altitude, o avião poderia diminuir a velocidade.
Dados da caixa-preta apontaram que o avião perdeu sustentação porque começou a subir e a velocidade diminuiu demais. A ação correta, em caso de perda de sustentação, seria descer para ganhar velocidade.
Alain Bouillard, investigador do BEA apresenta relatório final sobre acidente do voo 447 (Foto: Benoit Tessier/Reuters)
O relatório foi divulgado primeiramente para os parentes de vítimas. Para o presidente da Associação de Parentes de Vítimas brasileiras do AF 447, Nelson Marinho, o relatório confirmou que os pilotos “não estavam aptos para entender e responder ao problema”.
“Vemos o BEA fugindo da verdadeira causa do acidente. O automatismo foi a principal causa”. Ele lembra que, “naquela noite, o único voo que foi em frente na direção das nuvens foi o AF 447. Eles não souberam explicar o motivo”, diz.

Fonte: G1

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