A prioridade da concessionária de ferrovias ALL é finalizar a duplicação do trecho que liga Itirapina, no interior de São Paulo, ao porto de Santos, independentemente da fusão da empresa com a Rumo Logística, braço do grupo Cosan voltado ao transporte de açúcar. Com essa obra, já em curso, a ALL elevaria sua capacidade de transporte entre Rondonópolis (MT) e o porto de Santos, das atuais 18 milhões de toneladas para cerca de 30 milhões de toneladas ao ano, podendo ir além.
Esses volumes somariam principalmente cargas de grãos, que atualmente estão na faixa de 15 milhões toneladas, e açúcar, em torno de 3 milhões de toneladas.
O adicional no futuro atenderia diversos clientes desses dois produtos: no Centro-Oeste (grãos) e interior de São Paulo (açúcar).
A expectativa da ALL é que o investimento fique pronto em um ano a partir do momento em que receber as licenças pendentes.
As obras no trecho, que inclusive levaram a um embate judicial com a cliente Rumo, demandariam algo próximo de R$ 600 milhões.
A ALL espera receber nos próximos meses a autorização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para as obras da via em terras indígenas – onde os trabalhos também dependem de uma discussão com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) sobre quem vai custear determinadas compensações ambientais.
As obras demandariam de 10 a 12 meses para serem concluídas. Sendo assim, ficariam prontas em meados do próximo ano.
Sobre a duplicação, Rodrigo Campos, diretor financeiro e de relações com investidores da ALL, disse que “é o investimento mais importante da empresa hoje e que el dobra a capacidade de transporte e dá salto importante de produtividade para as operações da ferrovia”. Segundo ele, mais cerca de R$ 150 milhões seria o valor necessário para completar a obra.
Até hoje, a Rumo já antecipou pouco mais de R$ 400 milhões a esse investimento. Mas o trecho, de 400 quilômetros, ainda tem cerca de 40% a serem concluídos.
Hoje, a ALL transporta pouco mais de 300 mil toneladas ao mês de açúcar para a Rumo. Alega que outro problema para não alcançar o volume acertado é que os terminais da controlada da Cosan não têm capacidade completa de descarregamento de açúcar.
A Rumo refuta essa informação e diz estar embarcando mais de 500 mil toneladas por mês de açúcar oriundo de ferrovia.
Pelo contrato, de 2009 e que está contestado na Justiça, a ALL teria de transportar, a partir deste ano, 1 milhão de toneladas mensais.
O volume de transporte demandado pela Rumo preocupa outras usuárias da ferrovia. A associação dos produtores de soja do Brasil (Aprosoja) já protocolou no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) manifestação demonstrando receio de que aumento de cargas para a Rumo diminua o transporte de grãos.
Conforme apurou o Valor, na governança corporativa da “nova ALL”, quando da efetivação da fusão da ferrovia e Rumo, será formado um comitê com representantes de acionistas controladores para gerir conflitos de interesses na operação de cargas de acionistas.
Para os envolvidos nas negociações entre ALL e Rumo, no entanto, a ampliação da ferrovia, somada aos investimentos da Rumo em seus terminais em Santos, atenderão a demanda de cargas de açúcar e ainda de grãos.
Com isso, a informação é de que a malha fica apta a transportar aos menos 10 milhões de toneladas de açúcar por ano (hoje são 3 milhões) e mais 3 milhões a 5 milhões de toneladas de soja (hoje são 15 milhões) no corredor Rondonópolis-Santos.
Antes, a entrada da Cosan no capital da ferrovia já chegou a ser vista como uma fonte de conflitos de interesses. O receio era transformasse a ALL em uma espécie de “centro de custo” para as operações logísticas da Rumo. Agora, há uma visão diferente com a fusão.
O primeiro deles é o valor das sinergias proporcionadas da união com a Rumo, que garante cargas à ferrovia por meio da captação do açúcar no interior paulista.
Em segundo lugar, por causa de um controle que teria mais peso nas mãos da iniciativa privada. Rubens Ometto, principal acionista do grupo Cosan (dona de 75% da Rumo), é visto como um acionista que daria um direcionamento à “nova ALL” diante dos seus desafios de produtividade e investimentos. E é bem-visto no governo.
Todavia, a duplicação em São Paulo é insuficiente para atender a demanda de transporte ocasionada pela Norte-Sul, cujos dois trechos – desde Palmas (TO) a Estrela D’Oeste (SP) – estão sendo executados pela estatal Valec.
Para os envolvidos na negociação, o investimento adicional para esse novo sistema não é uma obrigação da “nova ALL” e teria que sair do papel por duas alternativas: ou ser realizado pela Valec/governo (que venderia capacidade a um operador independente) ou pela ALL, mediante uma negociação – por exemplo, com extensão contratual de sua ferrovia. Estima-se até R$ 5 bilhões para os investimentos: em pátios, duplicação de partes do trecho Estrela D’Oeste-Campinas e outras obras, além de locomotivas e vagões.
“A duplicação de Campinas a Santos já cria capacidade adicional inclusive para a Norte-Sul”, diz Campos.
Fonte: Valor Econômico, Por Fábio Pupo e Ivo Ribeiro
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