Executivo da Siemens diz em depoimento à PF que nunca teve a acesso a relatórios da consultoria de suspeito do caso
O engenheiro eletricista Peter Andreas Gölitz, funcionário da Siemens e um dos seis executivos que denunciaram o cartel no sistema metroferroviário de São Paulo, pôs em xeque a consultoria que a multinacional teria contratado de Arthur Teixeira, apontado pelos investigadores como lobista das empresas do cartel e intermediário do suposto pagamento de propina a agentes públicos brasileiros.
Teixeira controla a Procint, empresa de consultoria. Ele afirma que jamais fez lobby, apenas prestou consultoria no setor metroferroviário. Mas, em depoimento ao Ministério Público sob a condição de sigilo, Gölitz, que trabalhou até 2011 como consultor de vendas na divisão de material rodante da multinacional, ligada à divisão de transportes, afirmou estranhar nunca ter tido acesso a qualquer relatório feito no âmbito da consultoria de Teixeira.
“O depoente não tomou conhecimento de nenhum relatório de serviço de consultoria prestado pelas referidas empresas de Teixeira. Também causou estranheza ao depoente o fato de que a consultoria deve envolver assuntos técnicos e o depoente, na condição de técnico, não se recorda de ter tido conhecimento de relatórios técnicos de consultoria destas empresas”, anotaram os investigadores a respeito do depoimento prestado em 21 de agosto.
Teixeira foi indiciado pela Polícia Federal sob suspeita de corrupção, lavagem de dinheiro, crime financeiro e quadrilha. Também foi indiciado por lavagem na Suíça.
Gölitz, que em 2011 saiu da divisão de transportes e foi convidado para trabalhar no setor de compliance – área que disciplina os padrões internos de conduta – é o único dos seis executivos que assinaram o acordo de leniência com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) a permanecer na Siemens.
O engenheiro afirmou lhe causarem estranheza informações constantes em uma nota fiscal emitida pela MGE Transportes para a Siemens – autoridades apontam que a MGE, subcontratada pela Siemens em projetos de metrô e trens, era outra rota da propina paga pela multinacional alemã a autoridades brasileiras.
Ao ser confrontado com as notas, cujo serviço descrito era de “treinamento, atualização contínua e despesas de administração”, disse que as descrições “não parecem corretas”, uma vez que o serviço para o qual a MGE havia sido subcontratada era o de “manutenção dos trens da série 3000 da CPTM”.
O criminalista Eduardo Carnelós, que defende o consultor Arthur Teixeira, reagiu com veemência. “Me causa espécie que uma pessoa (Gölitz) que ocupou cargo tão elevado numa empresa multinacional demonstre desconhecer que a atividade de consultoria não se expressa necessariamente por meio de relatórios escritos.”
Carnelós destaca que Arthur Teixeira “já explicou que, em muitas oportunidades, participou de reuniões para intermediar conflitos e que isso não era objeto de relatório”. “Além disso, na Polícia Federal ele (Gölitz) foi taxativo ao declarar que o sr. Arthur não teve participação no suposto cartel.”
A Siemens afirmou que não comentaria por questões de confidencialidade. A MGE declarou que “tomou conhecimento de uma investigação das autoridades governamentais do Brasil sobre a indústria ferroviária brasileira”. “A investigação está em andamento e, por esta razão, não temos comentários neste momento.”
Colaborou Fausto Macedo
Fonte: O Estado de S. Paulo, Por Fernando Gallo
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