quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

ALL e Cosan avaliam fusão com a Rumo

Foto: Reprodução
As discussões entre ALL e Cosan, em busca de soluções para o bilionário contrato de transporte de açúcar de 2009, abriram as portas para a retomada das conversas entre o empresário Rubens Ometto e os acionistas da ferrovia.
Desde o fim do ano passado, a fusão de ALL e Rumo, a companhia de logística da Cosan, voltou a ser uma possibilidade.
O diálogo entre os grupos recomeçou devido às negociações para o fim da briga sobre o contrato de quase cinco anos (março de 2009). Em novembro, a Estáter, de Pércio de Souza, passou a representar a ALL no diálogo com a Cosan.
A despeito de tanto ALL quanto Cosan terem iniciado, em outubro, uma arbitragem sobre o acordo, ambas sabem que a disputa não é vantajosa e pode se arrastrar por mais de três anos.
A união entre ALL e Rumo é vista como a melhor solução para a questão, uma vez que Ometto já havia tentado entrar no bloco de controle da empresa de ferrovias.
No ano passado, o empresário esteve muito próximo de participar do comando da ALL. A transação chegou até a ser anunciada.
Desembolsaria cerca de R$ 900 milhões para ficar com 49,1% do bloco controlador, equivalente a 5,6% do capital da empresa.
As conversas começaram com De Lara e Arduini, ainda em 2011. Mas as fundações e o BNDES exigiram participar da transação, pois queriam o elevado prêmio de controle que a Cosan estava disposta a pagar.
Essa questão foi resolvida, porém o negócio naufragou nas discussões de governança (distribuição de poderes no acordo de acionistas) e devido a uma exigência de última hora para uma “due dilligence” pela Cosan na ALL.
Desta vez, o modelo idealizado – mas ainda em fase de desenvolvimento – envolveria uma combinação acionária.
Os atuais acionistas da ALL, que participam do grupo de controle, teriam interesse em continuar sócios de uma companhia que fosse produto da união com a Rumo, conforme o Valor apurou.
No fim de 2013, a ALL despertou atenção de novos interessados. Um grupo chegou a se articular visando investir na empresa.
Foi estudada a formação de uma espécie de consórcio – liderado pela EDLP Participações e o Grupo Maggi, que reuniria gigantes como Bunge, Cargill, Dreyfus – para assumir a empresa. Outro grupo que passou a olhar a ferrovia foi a J&F, holding dona da JBS.
Entretanto, a pendência da ALL com a Rumo/Cosan sobre o bilionário contrato de transporte de açúcar acabou paralisando um movimento mais agressivo. Pouco tempo depois do fim das conversas entre Ometto e os sócios da ALL surgiu a disputa com a Rumo.
A ALL é governada pelos investidores Wilson De Lara e Ricardo Arduini (mais sua esposa), a despeito de os maiores acionistas serem o BNDES e os fundos de pensão Previ (Banco do Brasil) e Funcef (Caixa Econômica Federal), além de outros fundos, agrupados num fundo gerido pela BRZ Investimentos.
De Lara e Arduini, apesar de minoritários no capital total, têm a gestão assegurada por meio de um acordo de acionistas – cujo vencimento está previsto para outubro de 2015.
Já a Rumo foi criada dentro da Cosan, de Ometto. Nasceu da gestão da logística do transporte do açúcar produzido pelo grupo, que começou como usina sucroalcooleira.
Não possui capital aberto, mas tem 25% com acionistas minoritários – dividido entre Gávea (gestora fundada pelo ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga) e Texas Pacific Group (TPG).
Em 2009, essas empresas – enquanto a ALL era gerida pela GP Investimentos, então maior acionista – fecharam um acordo operacional.
Por ele, a ALL transportaria o açúcar da Cosan até o porto de Santos. O acordo previa investimentos da Rumo para duplicação de trechos da malha da ALL.
A Rumo tem locomotivas e vagões que são operados pela ALL em um trecho de 400 km entre Itirapina (SP) e Santos.
Nesse material rodante foram investidos R$ 500 milhões. Além disso, faria aportes (70% já desembolsados) de R$ 600 milhões em capital para duplicação da ferrovia.
Pelo acordo, o volume de açúcar transportado deveria atingir 13 milhões de toneladas ao ano a partir de 2014. A validade do contrato termina apenas em 2028.
Atualmente, segundo informações, a ferrovia vem carregando pouco mais de 200 mil toneladas de açúcar ao mês para o terminal da Rumo em Santos – em torno de 25% do volume estabelecido para este ano.
A solução das pendências com a Rumo, por meio de uma possível fusão, poderiam abrir novas portas para a ALL.
O mesmo grupo das gigantes de commodities agrícolas, que achou arriscado fazer uma investida antes do fim da disputa, mostra-se disposto a firmar uma parceria operacional – no mesmo estilo do assinado entre ALL e Rumo.
A lógica deste sistema é que o cliente investe na infraestrutura e a concessionária se compromete a transportar os volumes demandados. O objetivo é garantir transporte de suas commodities até o porto de Santos.
Para isso, se dispõem a investir no corredor de exportação ferroviária de soja e milho que vai de Rondonópolis (MT) a Santos (SP), cuja concessão tem o prazo mais longo dentre as detidas pela ALL.
Ontem, Ometto esteve em Brasília. O encontro foi o primeiro compromisso oficial da presidente Dilma Roussef em 2014.
Ao sair do compromisso, ele disse à imprensa sobre seu interesse no setor de ferrovias, mas nada declarou publicamente sobre a ALL. Apenas negou que tenha ido tratar com a presidente das desavenças com a empresa, sobre o contrato de 2009.
As ações da ALL, depois de uma temporada de baixas, encontraram fôlego para iniciar uma recuperação no pregão de ontem. A alta ganhou força na parte da tarde.
Os papéis lideraram as valorizações dentro do Índice Bovespa, com avanço de 2,96%, para R$ 6,25. A empresa – com quatro concessões e 13 mil km de malha – encerrou o dia avaliada em R$ 4,2 bilhões.
Em função de pesados investimentos do setor, a ALL tem dívidas elevadas. Fechou setembro com responsabilidades líquidas de R$ 4 bilhões.
A empresa teve receita líquida de R$ 2,8 bilhões no acumulado de nove meses de 2013, com lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) de R$ 1,48 bilhão.
Ainda que não alcance consenso para uma possível fusão com a Rumo, a ALL teria condições, segundo pessoas próximas à empresa, de seguir sozinha.
A Rumo teve receita líquida de R$ 711 milhões e Ebitda de R$ 269 milhões. Excluído o contrato com a ALL, a Rumo gera anualmente cerca de R$ 150 milhões de Ebitda.
Procuradas, Cosan, ALL e Estáter não se pronunciaram.
 Fonte: Valor Econômico, Por  Graziella Valenti, Fábio Pupo e Ivo Ribeiro

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