quarta-feira, 22 de agosto de 2012

O reforço dos aeroportos privatizados


Os grupos que vão administrar os três aeroportos privatizados reforçaram suas estruturas com empresas de renome internacional e experiência na gestão de grandes aeroportos. As parcerias podem eliminar o temor de setores do governo quanto à capacidade e competência dos consórcios de gerir os terminais de Juscelino Kubitschek (Brasília), Viracopos (Campinas) e Cumbica (Guarulhos). Em tese, com as mudanças, não há por que duvidar da eficácia do modelo de concessão, que vem sendo atacado em Brasília pelas viúvas do estatismo.

Os consórcios que venceram os leilões de privatização, realizados em fevereiro, só divulgarão os nomes dos parceiros contratados no fim do mês, quando efetivamente começarão a administrar os aeroportos. As associações já foram reveladas ao governo, que vinha exigindo, desde o leilão, o reforço dos grupos. "Não se pode fazer um projeto de concessão e depois ir à praia", justifica um assessor com trânsito no Palácio do Planalto.

Liderado pela Triunfo Participações e Serviços e tendo como operadora a francesa Egis Avia, o consórcio que vai cuidar de Viracopos foi um dos que mais se reforçaram. Na área de engenharia, contratou a Naco (Netherlands Airports Consultants), empresa holandesa que assessorou a construção e ampliação de 550 aeroportos em todo o mundo, dentre os quais os de Frankfurt, Pequim e Amsterdã. Caberá à Naco desenvolver o projeto básico do aeroporto de Campinas, que em três décadas será o maior do país.

Grupos contrataram projetistas e operadores de renome

Para a área de operação, o grupo Triunfo acertou consultoria com o Aeroporto de Munique, o 6o maior da Europa, seis vezes premiado como o melhor do velho continente e duas vezes como o melhor no segmento de carga. Há mais de 20 anos esse aeroporto alemão presta consultoria a outros terminais. Sua responsabilidade, em Campinas, será elaborar o plano de transferência operacional da Infraero para a nova gestora, além de revisar o projeto básico e todos os projetos a serem elaborados pela Naco.

O grupo de Viracopos contratou, ainda, a CPEA (Consultoria, Planejamento e Estudos Ambientais) e a WALM para assessorá-lo na área ambiental. As duas empresas ficarão responsáveis, entre outras atribuições, pelo licenciamento e a avaliação de passivos nessa área.

O consórcio que vai administrar Cumbica, o maior aeroportos do país na atualidade, também se reforçou de forma considerável. Liderado pela Invepar, empresa de participações em projetos de infraestrutura de três fundos de pensão (Previ, Petros e Funcef) e da construtora OAS, o consórcio contratou a renomada empresa de consultoria Airport Consulting Vienna.

A companhia austríaca já realizou cerca de 300 projetos de consultoria e participou de 70 processos de concessão de aeroportos. A ideia é que ela auxilie a operadora oficial de Cumbica - a Airport Company South Africa (ACSA), empresa que administra os três principais aeroportos sul-africanos.

A Invepar contratou também a Engecorps, empresa de consultoria em engenharia do grupo espanhol Typsa. Ela atuará como projetista da ampliação de Guarulhos. A empresa tem experiência nos aeroportos de Madri, Lima e Barcelona, entre outros. Para a área de gestão, o consórcio contratou três empresas e um banco, todos com atuação internacional: McKinsey &Company, Accenture, Deloitte e BNP Paribas.

O aeroporto de Brasília, do consórcio liderado pela Engevix e que tem como operadora a argentina Corporación América, contratou a AECOM, gigante americana na área de consultoria de projetos de engenharia. A empresa trabalhou, por exemplo, no plano diretor dos aeroportos de Hong Kong e da cidade australiana de Brisbane. Atuou também em vários aeroportos americanos, entre eles, os de Los Angeles (LAX), Nova York (JFK) e Chicago (O"Hare).

O consórcio de Brasília contratou, também, a Mitre, entidade ligada ao prestigioso Massachusetts Institute of Technology (MIT). A Mitre assessora a FAA (Federal Aviation Administration), a Anac americana, e fará a revisão dos planos operacionais do aeroporto JK.

O resultado dos leilões de concessão frustrou autoridades, entre elas, a presidente Dilma Rousseff, porque entre os grupos ganhadores da disputa não havia projetistas de grande porte nem operadores renomados. Havia, ainda, a desconfiança de que eles não teriam capacidade financeira para assumir os compromissos firmados - um investimento total, durante o prazo de concessão, de R$ 16,1 bilhões nos três aeroportos.

Logo se descobriu que não haveria restrição financeira porque os grupos depositaram as garantias exigidas e, portanto, estavam aptos a participar da empreitada. Como quaisquer empresas que atuam no país, elas têm acesso, a juros favorecidos, aos financiamentos do BNDES. Ademais, por decisão do próprio governo, a Infraero terá participação de 49% no capital das três unidades, sendo responsável, portanto, por quase metade dos recursos a serem investidos.

Boa parte das queixas contra os consórcios vencedores dos leilões foi alimentada por grandes empreiteiras, derrotadas na disputa. A reclamação não deveria repercutir, afinal, o ágio pago pelos ganhadores ficou bem salgado - 348% acima do preço mínimo. Uma crítica possível é a de que o edital não fixou cláusula de barreira que, na prática, impedisse a vitória dos pequenos operadores.

O problema é que a ideia de que o processo foi um fracasso alimentou, nos últimos meses, a fúria de setores importantes do governo contra privatizações e que tais. Desde então, eles vêm atuando nos bastidores para convencer a presidente Dilma a desistir de conceder ao setor privado aeroportos como os do Galeão, no Rio, e de Confins, em Belo Horizonte.

De forma legítima - os editais e leis existentes permitem isso -, entidades oficiais vinham pressionando os consórcios vencedores, desde o resultado dos leilões, a reforçarem suas estruturas de operação e engenharia. O governo cogitou obrigar os grupos, o que foi evitado para evitar contestação judicial. As empresas acabaram reagindo favoravelmente às reivindicações e, hoje, pode-se dizer que estão prontas para ampliar e administrar, com o apoio de firmas de renome mundial, os terminais de JK, Viracopos e Cumbica.

Cristiano Romero é editor-executivo e escreve às quartas-feiras

Nenhum comentário:

Postar um comentário