Um terço dos 182,7 km de vias para bicicletas em funcionamento na capital só pode ser usado nos domingos e feriados – e durante nove horas.
As chamadas ciclofaixas de lazer, como a que deve ser aberta na Avenida Paulista (SP) no fim de semana, não ajudam a resolver os problemas de mobilidade da metrópole, segundo especialistas. Além disso, mesmo os caminhos que podem ser utilizados para ir ao trabalho ou à escola de bicicleta durante a semana apresentam problemas.
Os 115 km de faixas não são interligados e apenas metade das pistas é exclusiva para as bikes, o que torna difícil que mais paulistanos deixem o carro em casa.
“Muita gente não usa porque não sente segurança de andar do lado dos carros”, diz o cicloativista Willian Cruz, criador do site Vá de Bike, que oferece dicas e sugestões de caminhos para os ciclistas. “E as ciclofaixas de lazer são para o lazer mesmo. Não podem ser consideradas parte da malha cicloviária da cidade.”
Para Thiago Benicchio, diretor da Associação dos Ciclistas Urbanos de São Paulo, os projetos precisam ser integrados. “A gente não tem nenhuma ciclovia completa em São Paulo, que ligue pontos de interesse, esteja bem feita e sirva para conectar alguma coisa”, reclama.
Pouquinhos
“Falta um planejamento mais amplo para a cidade, que ele seja feito de forma contínua e não um pouquinho aqui e um pouquinho ali, A gente vê esses muitos pouquinhos que, somados, dão uma quantidade de quilômetros, mas isso não significada nada para o ciclista porque ele vai andar dois quilômetros e de repente cai em uma via normal”, diz Benicchio.
A Prefeitura argumenta que o incentivo ao uso da bicicleta na cidade é discutido em reuniões periódicas por um grupo que envolve seis secretarias e organizações de cicloativistas. O governo também diz que apertou a fiscalização nas vias compartilhadas e que as ciclofaixas de lazer são fundamentais para o processo educativo dos motoristas.
Em nota, a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) informou que o plano cicloviário prevê “além da expansão da infraestrutura cicloviária, a adoção de medidas de educação para o compartilhamento seguro do espaço viário entre veículos motorizados e bicicletas, e de ações de fiscalização para garantir o respeito à circulação de ciclistas”.
Moema
Em vez de ciclistas, buracos, valetas e motos. Esse é o cenário da ciclofaixa permanente de Moema, na zona sul, que tem 3,3 km. Ontem, no lugar reservado para as bicicletas, a reportagem flagrou motoqueiros em alta velocidade. Somente quatro ciclistas passaram pelas vias exclusivas que cortam as Avenidas Rouxinol, Aratãs, Pavão e Rua Araguari no período de quase duas horas.
Segundo a CET, a rede de Moema foi pensada para evitar que as manobras de carro necessárias ao estacionamento ocorram sobre a faixa de bicicletas, o que poderia colocar em risco a segurança dos ciclistas.
Fonte: O Estado de S.Paulo, Por Camila Haddad e Tiago Dantas
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