Conceição Lemes: O projeto que despertou polêmica no horário eleitoral
Do Viomundo
publicado em 31 de agosto de 2012 às 2:11
Carlos Zarattini: “Os técnicos em Transportes da Prefeitura e os tucanos não entenderam bem a nossa proposta. Pena. Mas o povo está entendendo e gostando”. Foto: Agência Câmara
por Conceição Lemes
O Bilhete Único Mensal, uma das propostas da área de transportes de Fernando Haddad, candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, virou polêmica.
Em 24 de agosto, o programa de rádio de José Serra, candidato do PSDB à sucessão de Gilberto Kassab (PSD), chamou-o de “bilhete mensaleiro”, em alusão ao mensalão, em julgamento do Supremo Tribunal Federal Federal (STF).
No mesmo programa, um suposto eleitor questiona:
Nos últimos dias, inclusive hoje, 31 de agosto, um dos destaques do site da campanha de Serra é justamente um filme de animação sobre o tema.
O filme diz:
“Em segundo lugar, dizer que é bilhete mensaleiro é uma tentativa de desqualificar a nossa proposta”, prossegue Zarattini. “Mas não pega. O povo já sabe que o bilhete mensal é economicamente vantajoso.”
Zarattini é economista, coordena a área de transportes do programa de Haddad e foi secretário dos Transportes de São Paulo na gestão Marta Suplicy. É o criador do aplaudido Bilhete Único, implantado em 2004 na capital e hoje adotado em muitas cidades brasileiras. É também o “pai” do Bilhete Único Mensal. Para botar a polêmica em pratos limpos, entrevistamos o próprio Zarattini.
Viomundo – O senhor imaginava que a proposta do Bilhete Único Mensal fosse gerar essa polêmica?
Carlos Zarattini – Não me surpreendeu. Foi assim lá atrás com o projeto do Bilhete Único. Em 1995, eu o apresentei na Câmara Municipal e foi aprovado. Porém, Paulo Maluf [na época, prefeito da capital], vetou-o. Nós só conseguimos implantá-lo aqui durante o governo Marta.
Na época, propusemos que fosse feito junto com o metrô e os trens. Alckmin era o governador e se recusou a fazer a integração. Disse que o Bilhete Único não ia dar certo.
Iniciamos, então, apenas com os ônibus que são controlados pela Prefeitura. Foi um processo muito difícil, pois tínhamos quase 20 mil peruas clandestinas e as empresas de ônibus estavam quase falidas. A operação exigiu reorganização do sistema de transporte na capital, inclusive mudança na legislação. E, agora, estamos propondo a ampliação do Bilhete Único.
Viomundo – Afinal, o que é o Bilhete Único Mensal?
Carlos Zarattini — A concepção do Bilhete Único é simples: a pessoa paga uma única vez para chegar ao seu destino, independentemente de quantos ônibus ou lotação usar. Hoje, você pode usar durante 3 horas até 4 conduções. Quando lança mão de metrô ou trem, paga um adicional.
Agora, queremos ampliar o Bilhete Único. O objetivo é fidelizar quem recorre ao transporte público todo dia e, ao mesmo tempo, baratear o custo para esse (a) cidadão (a).
Cada pessoa vai poder escolher qual a melhor opção para si. Se for usuária freqüente, é vantagem comprar o bilhete mensal. Se usuária eventual, aí não traz benefício; o melhor é continuar carregando como faz hoje.
Viomundo – O programa do Serra diz que a pessoa vai pagar independentemente de usar ou não.
Carlos Zarattini – Não é verdade, invenção tucana.
Viomundo – Quanto vai custar o bilhete mensal?
Carlos Zarattini — Nós estamos calculando quanto as pessoas gastam nos seus dias de trabalho – normalmente são cinco por semana. E, aí, multiplicamos pelo número de dias de trabalho ao longo do mês. É quanto vai pagar.Porém, ela vai poder usar muito mais vezes sem pagar nada. Por exemplo, ela vai poder empregá-lo gratuitamente nos finais de semana, feriados, fora dos horários de trabalho. Mesmo na hora do almoço, se a precisar ir ao banco pagar uma conta e voltar ao emprego, ela poderá usar o transporte público sem gastar nada além.
Viomundo – Quanto vai custar para o usuário?
Carlos Zarattini – Para uma tarifa de ônibus de R$ 3, em torno de R$ 140.
Viomundo – Daria para o senhor detalhar?
Carlos Zarattini – Lembra-se de que eu disse que estamos calculando o valor com base no quanto as pessoas gastam nos seus dias de trabalho?
Bem, 45% dos usuários de transporte coletivo na cidade de São Paulo empregam o vale-transporte oferecido pelo patrão. O cartão vem exatamente com o número de dias úteis do mês. Se utilizá-lo no final de semana, por exemplo, vai faltar um dia no final do mês e a pessoa terá de pagar do próprio bolso. Isso é o que acontece no sistema atual.
Já com o Bilhete Único Mensal, não. A pessoa que o utilizar cotidianamente para ir e vir do trabalho terá o benefício de empregá-lo gratuitamente em outros horários e nos finais de semana, sem nenhum custo adicional.
Portanto, é mentira a propaganda tucana de que a pessoa vai pagar e não vai usar.
Viomundo – O usuário do vale-transporte fica então numa camisa-de-força?
Carlos Zarattini – Exatamente. O mesmo acontece com o bilhete do estudante. Hoje, ele só pode usar nos dias úteis, quando tem aula. Se, no final da semana, o jovem quiser ir à biblioteca, ao cinema ou a um show, ele não passa na catraca, ela trava.
Por isso, a nossa proposta é que exista o bilhete mensal do estudante e que ele funcione nos mesmos moldes do bilhete mensal, ou seja, sem nenhuma restrição.
Viomundo – Mas 55% dos usuários não têm o vale-transporte. Pagam do próprio bolso. E às vezes não têm dinheiro para comprar o bilhete para o mês inteiro. Aí, como fica?
Carlos Zarattini — Nós vamos ter também a modalidade semanal. A pessoa vai poder comprar por semana.
Viomundo – E o valor os cerca de RS$ 140 seriam divididos por quatro semanas?
Carlos Zarattini – Exatamente Embora ela pague por cinco dias (10 passagens), ela vai poder utilizá-lo quantas vezes quiser, inclusive nos finais de semana, sem qualquer restrição.
Viomundo – Como fica a situação do usuário ocasional?
Carlos Zarattini – Vai fazer como hoje em dia, ou seja, carrega o Bilhete Único quando necessário. E mesmo quem paga o ônibus em dinheiro, na hora – muita gente faz isso –, vai poder continuar fazendo isso.
Essa é ideia geral. Cada pessoa escolhe a melhor opção para condições e necessidades dela.
Viomundo – E quanto à validade, como funcionará?
Carlos Zarattini — Vale a partir do dia em que a pessoa comprou. Por exemplo, o mensal. Vamos supor que você comprou no dia 12. Ele vai valer até o dia 12 do mês seguinte. O semanal, mesma coisa. A semana passa a contar a partir do dia em que ela comprou.
Viomundo – Onde o bilhete mensal já está em uso?
Carlos Zarattini – Todas as grandes cidades dos Estados Unidos, como Nova York e Washington, e Europa, como Paris e Londres, têm. Você chega nesses locais e, dependendo do tempo em que vai ficar, compra o bilhete para um mês, uma semana. E, durante esse período, utiliza quantas conduções quiser. Muitas pessoas que viajam para o exterior, já tiveram essa experiência e sabem que vale a pena.
Viomundo – O bilhete mensal vai ser integrado com metrô e os trens da CPTM?
Carlos Zarattini — A nossa ideia é chegar lá. Nós queremos que o metrô, os trens da CPTM e os ônibus intermunicipais sejam integrados ao Bilhete Único Mensal.
Viomundo – Quem vai arcar com os custos adicionais?
Carlos Zarattini — No caso da Prefeitura, ela paga às empresas de ônibus e lotação, de acordo com o número de passageiros transportados. Consequentemente, nós vamos ter um acréscimo no subsídio.
Já o metrô e a CPTM, que são empresas estatais, não têm custo adicional para transportar esses passageiros. Eles já estão funcionando. Nos horários de pico, já funcionam com carga máxima. Nos demais horários, têm capacidade ociosa. Então o custo para o metrô e a CPTM é absolutamente zero.
De modo que eu não vejo nenhum motivo para o governo do Estado rejeitar o Bilhete Único Mensal no metrô e na CPTM, assim que implantarmos o bilhete mensal nos ônibus e lotações.
Hoje, como já disse, existe um adicional quando a pessoa utiliza o metrô ou o trem. Nós vamos ter de negociar um pequeno adicional para possa utilizá-lo também no metrô e nos trens da CPTM. Do ponto de vista técnico, isso pode ser facilmente resolvido.
Viomundo – Qual a sua expectativa em relação ao Bilhete Único Mensal?
Carlos Zarattini – Imagine uma pessoa que mora no extremo Sul ou Oeste da capital, tem vale-transporte e todo dia usa o transporte público. Ela só tem a ganhar. Vai poder andar sábado, domingo, feriados, sem gastar nada.
Aliás, um dos maiores problemas democráticos na cidade de SP é a falta de circulação. Tem uma pesquisa chamada Origem-Destino, feita de 10 em 10 anos, que mostrou que as pessoas de alta renda têm uma taxa de mobilidade muito superior às de baixa renda, que praticamente só têm mobilidade para ir e vir do trabalho.
Nós queremos acabar com essa limitação e ampliar a possibilidade de as pessoas de baixa renda conhecer a cidade, participar das atividades de fim de semana.
Nós queremos que elas tenham ampla mobilidade. Queremos dar-lhes a oportunidade de andar pela cidade e usufruir um sem número de atividades de lazer de gratuitas nos finais de semana, como shows, passeios. E que elas não não vão poder deixar de ir simplesmente porque não têm dinheiro para o transporte. Queremos acabar com isso.
Viomundo — Supondo que Haddad ganhe a eleição e o governador vete, como em 2004, a integração do bilhete mensal com o metrô e os trens da CPTM, o que acontecerá?
Carlos Zarattini — Nós vamos pressionar politicamente o governador para que aprove a integração e, ao mesmo tempo, mostrar à população o prejuízo que ela terá [em caso de veto do governador].
por Conceição Lemes
O Bilhete Único Mensal, uma das propostas da área de transportes de Fernando Haddad, candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, virou polêmica.
Em 24 de agosto, o programa de rádio de José Serra, candidato do PSDB à sucessão de Gilberto Kassab (PSD), chamou-o de “bilhete mensaleiro”, em alusão ao mensalão, em julgamento do Supremo Tribunal Federal Federal (STF).
No mesmo programa, um suposto eleitor questiona:
Tem candidato prometendo um bilhete mensaleiro. Mas assim fica mais caro porque estou pagando transporte mesmo quando estou dormindo, já paguei pelo mês inteiro. E no dia que eu estiver em um churrasco em casa? Já vou ter pago e não vou aproveitar?
Sem citar nomes, outro suposto eleitor responde:
Ele é o mesmo que criou a “taxa do lixo”, agora quer criar a taxa do bilhete mensaleiro. Eu não caio nessa, é só blá blá blá.
A fala é referência à “taxa do lixo”, tributo implantado na gestão Marta Suplicy (2001 a 2004), que a oposição apelidou de “martaxa”.Nos últimos dias, inclusive hoje, 31 de agosto, um dos destaques do site da campanha de Serra é justamente um filme de animação sobre o tema.
O filme diz:
Você lembra da taxa do lixo? Foi o Hadadd que fez. Agora ele quer criar uma nova taxa. A taxa do ônibus. Isso mesmo. Mas sem o nome de taxa, né? Estão chamando de Bilhete Único Mensal. Eu vou explicar: o Bilhete Único que ele quer criar agora que você paga mesmo que não use o transporte. R$ 150 reais por mês. Quer dizer você ficou em casa vendo o futebol? Paga! Você foi andar de bike no parque? Paga! Ficou jogando videogame com os amigos? Paga!!! Você paga 30 dias por mês, usando ou não. Que bela novidade, hein? PT e suas taxas. O velho jeito de governar. Em nova embalagem.
“Em primeiro lugar, acho que os técnicos em Transportes da Prefeitura e os tucanos não entenderam bem a nossa proposta”, estranha o deputado federal Carlos Zarattini (PT-SP). “Num filminho que está na internet, eles dizem que a pessoa vai pagar independentemente de usar ou não o bilhete. Isso não é verdade. Pena que eles não compreenderam, mas o povo está entendendo e gostando.”“Em segundo lugar, dizer que é bilhete mensaleiro é uma tentativa de desqualificar a nossa proposta”, prossegue Zarattini. “Mas não pega. O povo já sabe que o bilhete mensal é economicamente vantajoso.”
Zarattini é economista, coordena a área de transportes do programa de Haddad e foi secretário dos Transportes de São Paulo na gestão Marta Suplicy. É o criador do aplaudido Bilhete Único, implantado em 2004 na capital e hoje adotado em muitas cidades brasileiras. É também o “pai” do Bilhete Único Mensal. Para botar a polêmica em pratos limpos, entrevistamos o próprio Zarattini.
Viomundo – O senhor imaginava que a proposta do Bilhete Único Mensal fosse gerar essa polêmica?
Carlos Zarattini – Não me surpreendeu. Foi assim lá atrás com o projeto do Bilhete Único. Em 1995, eu o apresentei na Câmara Municipal e foi aprovado. Porém, Paulo Maluf [na época, prefeito da capital], vetou-o. Nós só conseguimos implantá-lo aqui durante o governo Marta.
Na época, propusemos que fosse feito junto com o metrô e os trens. Alckmin era o governador e se recusou a fazer a integração. Disse que o Bilhete Único não ia dar certo.
Iniciamos, então, apenas com os ônibus que são controlados pela Prefeitura. Foi um processo muito difícil, pois tínhamos quase 20 mil peruas clandestinas e as empresas de ônibus estavam quase falidas. A operação exigiu reorganização do sistema de transporte na capital, inclusive mudança na legislação. E, agora, estamos propondo a ampliação do Bilhete Único.
Viomundo – Afinal, o que é o Bilhete Único Mensal?
Carlos Zarattini — A concepção do Bilhete Único é simples: a pessoa paga uma única vez para chegar ao seu destino, independentemente de quantos ônibus ou lotação usar. Hoje, você pode usar durante 3 horas até 4 conduções. Quando lança mão de metrô ou trem, paga um adicional.
Agora, queremos ampliar o Bilhete Único. O objetivo é fidelizar quem recorre ao transporte público todo dia e, ao mesmo tempo, baratear o custo para esse (a) cidadão (a).
Cada pessoa vai poder escolher qual a melhor opção para si. Se for usuária freqüente, é vantagem comprar o bilhete mensal. Se usuária eventual, aí não traz benefício; o melhor é continuar carregando como faz hoje.
Viomundo – O programa do Serra diz que a pessoa vai pagar independentemente de usar ou não.
Carlos Zarattini – Não é verdade, invenção tucana.
Viomundo – Quanto vai custar o bilhete mensal?
Carlos Zarattini — Nós estamos calculando quanto as pessoas gastam nos seus dias de trabalho – normalmente são cinco por semana. E, aí, multiplicamos pelo número de dias de trabalho ao longo do mês. É quanto vai pagar.Porém, ela vai poder usar muito mais vezes sem pagar nada. Por exemplo, ela vai poder empregá-lo gratuitamente nos finais de semana, feriados, fora dos horários de trabalho. Mesmo na hora do almoço, se a precisar ir ao banco pagar uma conta e voltar ao emprego, ela poderá usar o transporte público sem gastar nada além.
Viomundo – Quanto vai custar para o usuário?
Carlos Zarattini – Para uma tarifa de ônibus de R$ 3, em torno de R$ 140.
Viomundo – Daria para o senhor detalhar?
Carlos Zarattini – Lembra-se de que eu disse que estamos calculando o valor com base no quanto as pessoas gastam nos seus dias de trabalho?
Bem, 45% dos usuários de transporte coletivo na cidade de São Paulo empregam o vale-transporte oferecido pelo patrão. O cartão vem exatamente com o número de dias úteis do mês. Se utilizá-lo no final de semana, por exemplo, vai faltar um dia no final do mês e a pessoa terá de pagar do próprio bolso. Isso é o que acontece no sistema atual.
Já com o Bilhete Único Mensal, não. A pessoa que o utilizar cotidianamente para ir e vir do trabalho terá o benefício de empregá-lo gratuitamente em outros horários e nos finais de semana, sem nenhum custo adicional.
Portanto, é mentira a propaganda tucana de que a pessoa vai pagar e não vai usar.
Viomundo – O usuário do vale-transporte fica então numa camisa-de-força?
Carlos Zarattini – Exatamente. O mesmo acontece com o bilhete do estudante. Hoje, ele só pode usar nos dias úteis, quando tem aula. Se, no final da semana, o jovem quiser ir à biblioteca, ao cinema ou a um show, ele não passa na catraca, ela trava.
Por isso, a nossa proposta é que exista o bilhete mensal do estudante e que ele funcione nos mesmos moldes do bilhete mensal, ou seja, sem nenhuma restrição.
Viomundo – Mas 55% dos usuários não têm o vale-transporte. Pagam do próprio bolso. E às vezes não têm dinheiro para comprar o bilhete para o mês inteiro. Aí, como fica?
Carlos Zarattini — Nós vamos ter também a modalidade semanal. A pessoa vai poder comprar por semana.
Viomundo – E o valor os cerca de RS$ 140 seriam divididos por quatro semanas?
Carlos Zarattini – Exatamente Embora ela pague por cinco dias (10 passagens), ela vai poder utilizá-lo quantas vezes quiser, inclusive nos finais de semana, sem qualquer restrição.
Viomundo – Como fica a situação do usuário ocasional?
Carlos Zarattini – Vai fazer como hoje em dia, ou seja, carrega o Bilhete Único quando necessário. E mesmo quem paga o ônibus em dinheiro, na hora – muita gente faz isso –, vai poder continuar fazendo isso.
Essa é ideia geral. Cada pessoa escolhe a melhor opção para condições e necessidades dela.
Viomundo – E quanto à validade, como funcionará?
Carlos Zarattini — Vale a partir do dia em que a pessoa comprou. Por exemplo, o mensal. Vamos supor que você comprou no dia 12. Ele vai valer até o dia 12 do mês seguinte. O semanal, mesma coisa. A semana passa a contar a partir do dia em que ela comprou.
Viomundo – Onde o bilhete mensal já está em uso?
Carlos Zarattini – Todas as grandes cidades dos Estados Unidos, como Nova York e Washington, e Europa, como Paris e Londres, têm. Você chega nesses locais e, dependendo do tempo em que vai ficar, compra o bilhete para um mês, uma semana. E, durante esse período, utiliza quantas conduções quiser. Muitas pessoas que viajam para o exterior, já tiveram essa experiência e sabem que vale a pena.
Viomundo – O bilhete mensal vai ser integrado com metrô e os trens da CPTM?
Carlos Zarattini — A nossa ideia é chegar lá. Nós queremos que o metrô, os trens da CPTM e os ônibus intermunicipais sejam integrados ao Bilhete Único Mensal.
Viomundo – Quem vai arcar com os custos adicionais?
Carlos Zarattini — No caso da Prefeitura, ela paga às empresas de ônibus e lotação, de acordo com o número de passageiros transportados. Consequentemente, nós vamos ter um acréscimo no subsídio.
Já o metrô e a CPTM, que são empresas estatais, não têm custo adicional para transportar esses passageiros. Eles já estão funcionando. Nos horários de pico, já funcionam com carga máxima. Nos demais horários, têm capacidade ociosa. Então o custo para o metrô e a CPTM é absolutamente zero.
De modo que eu não vejo nenhum motivo para o governo do Estado rejeitar o Bilhete Único Mensal no metrô e na CPTM, assim que implantarmos o bilhete mensal nos ônibus e lotações.
Hoje, como já disse, existe um adicional quando a pessoa utiliza o metrô ou o trem. Nós vamos ter de negociar um pequeno adicional para possa utilizá-lo também no metrô e nos trens da CPTM. Do ponto de vista técnico, isso pode ser facilmente resolvido.
Viomundo – Qual a sua expectativa em relação ao Bilhete Único Mensal?
Carlos Zarattini – Imagine uma pessoa que mora no extremo Sul ou Oeste da capital, tem vale-transporte e todo dia usa o transporte público. Ela só tem a ganhar. Vai poder andar sábado, domingo, feriados, sem gastar nada.
Aliás, um dos maiores problemas democráticos na cidade de SP é a falta de circulação. Tem uma pesquisa chamada Origem-Destino, feita de 10 em 10 anos, que mostrou que as pessoas de alta renda têm uma taxa de mobilidade muito superior às de baixa renda, que praticamente só têm mobilidade para ir e vir do trabalho.
Nós queremos acabar com essa limitação e ampliar a possibilidade de as pessoas de baixa renda conhecer a cidade, participar das atividades de fim de semana.
Nós queremos que elas tenham ampla mobilidade. Queremos dar-lhes a oportunidade de andar pela cidade e usufruir um sem número de atividades de lazer de gratuitas nos finais de semana, como shows, passeios. E que elas não não vão poder deixar de ir simplesmente porque não têm dinheiro para o transporte. Queremos acabar com isso.
Viomundo — Supondo que Haddad ganhe a eleição e o governador vete, como em 2004, a integração do bilhete mensal com o metrô e os trens da CPTM, o que acontecerá?
Carlos Zarattini — Nós vamos pressionar politicamente o governador para que aprove a integração e, ao mesmo tempo, mostrar à população o prejuízo que ela terá [em caso de veto do governador].