Por Sharan Burrow, secretária-Geral da Confederação Sindical Internacional – CSI (International Trade Union Confederation – ITUC)
Seis meses antes da reunião de cúpula sobre mudanças climáticas que a ONU organiza para Paris, deve estar claro para os chefes de estado que a transição para uma economia de baixo carbono pode criar um modelo melhor, mais sustentável e que pode reavivar o crescimento global e desenvolver um futuro mais justo e mais limpo. Esta transição pode, também, evitar os custos associados ao atual modelo baseado em combustíveis fósseis como os da poluição do ar, dos congestionamentos, da degradação de terras agrícolas produtivas e da deterioração da infraestrutura, custos que, no mais das vezes, afetam principalmente os mais pobres.
O movimento sindical pode contribuir muito com essa transição.
Os nossos membros vão ajudar a construir um futuro de baixo carbono e têm o direito de serem ouvidos. Seus empregos dependerão de uma mudança ordenada para as tecnologias mais verdes, seus fundos de pensão fornecerão a maior parte do financiamento necessário e suas comunidades e meios de subsistência dependerão de que desastres climáticos sejam evitados.
Uma transição para o baixo carbono pode criar um melhor modelo econômico de três maneiras.
Em primeiro lugar, ela pode ajudar o mundo a sair totalmente da crise financeira global pelo aumento da produtividade, do crescimento econômico e, também, pela criação de empregos mais gratificantes.
O relatório Nova Economia Climática, publicado no ano passado, estima que o mundo vai investir US$ 90 trilhões em infraestrutura até 2030. Construir esta infraestrutura em um modelo de baixo carbono implicaria tão somente um gasto adicional de 5%, o que seria amplamente compensado pela economia de despesas operacionais resultantes da menor queima de combustíveis fósseis.
O investimento em infraestrutura de baixo carbono e em inovação tecnológica colherá avanços na produtividade e impulsionará o crescimento econômico. Concentrando-se em melhorias na eficiência e em redução de emissões de carbono, por meios tais como a ampliação do transporte de massa e a construção de cidades mais compactas, este investimento também alcançará outros benefícios como reduções no custo do transporte e um ar mais limpo para os todos os cidadãos, principalmente para os mais pobres.
Em segundo lugar, a transição para o baixo carbono reduzirá as emissões de gases de efeito estufa e, assim, minimizará as mudanças climáticas e a ameaça que estas representam para as gerações atuais e futuras, incluindo eventos extremos como inundações, tempestades e secas, como a que atingiu os 20 milhões de habitantes de São Paulo nestes últimos anos. Ela também reduzirá a poluição do ar produzida pela queima dos combustíveis fósseis que já provoca quase 4 milhões de mortes prematuras em todo o mundo a cada ano.
Os impactos das mudanças climáticas já estão prejudicando os trabalhadores e as consequências só crescerão com o tempo. Os governos devem trabalhar para atingir economias de emissão líquida nula de carbono na segunda metade deste século.
E em terceiro lugar, uma economia de baixo carbono pode promover a justiça social.
Para que tenhamos uma transição justa, será necessário apoiar os trabalhadores de setores complexos já estabelecidos, como os das indústrias de combustíveis fósseis, de serviços de transporte e outros, e as pessoas mais pobres e vulneráveis que, talvez, venham a enfrentar contas de energia mais elevadas no curto prazo. Os governos precisam trabalhar em estreita consulta com trabalhadores e empregadores para gerir esta transição de forma eficiente e humanizada, em vez de ignorar ou resistir até que seja tarde demais para que uma crise potencial seja gerenciada.
E, como mencionado acima, tal transição tem potencial para aumentar o nível de emprego, incluindo os mais pobres. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) constatou que a maioria dos estudos mostra que as políticas públicas climáticas têm efeitos líquidos positivos sobre o emprego.
A transição para o baixo carbono também deve ser um modelo para a justiça entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, reconhecendo que os países desenvolvidos têm uma responsabilidade especial e, muitas vezes, maior capacidade de lidar com as mudanças climáticas do que os países em desenvolvimento. Mas todos devem desempenhar o seu papel.
Tanto a crise financeira quanto as mudanças climáticas têm uma raiz semelhante: a caça a lucros mais elevados e mais rápidos, independentemente das consequências sociais.
As respostas a estas crises gêmeas têm também muito em comum.
A resposta coordenada para evitar uma crise financeira global em 2008 ilustrou como a cooperação internacional é mais importante do que nunca em um mundo cada vez mais complexo. Da mesma forma, os países podem responder à mudança climática através da cooperação, tanto na cúpula do clima global que se realizará em Paris no final deste ano, quanto além. Uma melhor cooperação internacional multi-stakeholder pode entregar um melhor crescimento e um clima melhor, como será explicado no próximo grande relatório sobre a Nova Economia do Clima a ser lançado em julho.
O processo de Paris exige a todos os países que apresentem as suas promessas para a ação climática bem antes da Cúpula de Paris. Alguns já o fizeram, entre eles a União Europeia, os EUA e o México. Estamos ainda à espera de que os outros, como o Brasil por exemplo, façam sua parte. Estas promessas precisam ser tão ambiciosas quanto possível. Mas elas ainda devem ser consideradas um piso, não um teto, para a futura ação nacional.
Os governos não podem mais usar seus eleitores como uma razão para a inação. Uma pesquisa global da ITUC descobriu qud 93% por cento dos eleitores brasileiros querem que o governo faça mais para limitar a poluição que causa a mudança climática. Um acordo climático forte enviará um sinal claro a investidores e inovadores sobre a direção futura da economia. O acordo vai preparar o caminho para novos futuros empregos, aumentar o investimento, e evitar catástrofes climáticas em nossas comunidades. Ele deve comprometer os países a ciclos de ação climática cada vez mais ambiciosa, dentro do objetivo de longo prazo de eliminação progressiva, mas completa, das emissões de gases de efeito de estufa.
A reunião de cúpula desta semana entre os líderes da União Europeia, da América Latina e do Caribe (ALC) será um teste precoce da vontade dos governos de forjar um caminho novo de baixo carbono. Na última Cúpula do Chile, em 2013, estes países prometeram promover o investimento de baixo carbono e o crescimento econômico, incluindo o apoio à energia renovável, à eficiência energética e a transportes sustentáveis. Manter este ritmo é crítico.
A mudança climática é a maior ameaça de longo prazo que enfrentamos, que impactará direitos humanos básicos como o do acesso a alimentos, água, saneamento e abrigo.
A transição para uma economia de baixo carbono pode conduzir o mundo em direção a um futuro mais justo, mais seguro, próspero e sustentável. 2015 é o ano para que os governos escolham um caminho para um futuro sem carbono. Esta é uma questão pela qual vale a pena lutar. Não há empregos em um planeta morto.
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