Última parada da Missão Brasil | Reino Unido foi no BHLS da cidade
Em quatro anos de operação, o Busway atraiu uma média de 800 mil novos usuários por ano no Condado de Cambridge. Atualmente, o já renomado sistema BHLS (Bus with High Level of Service) transporta 3,6 milhões de pessoas por ano entre Cambridge, St Ives e Huntingdon. Os números são considerados um sucesso para a realidade local, que está cada vez menos dependente do veículo privado, uma vez que o sistema de transporte coletivo por ônibus rápidos e de alta qualidade vem se tornando mais atrativo em relação ao automóvel.
A visita ao sistema, nesta sexta-feira (3), foi a última experiência técnica dos representantes brasileiros no Reino Unido como parte da Missão Cidades Sustentáveis, que aconteceu ao longo da semana, realizada por WRI Brasil | EMBARQ Brasil e Future Cities Catapult, com apoio da Embaixada Britânica e CIFF – Children’s Investment Fund Foundation.
Liliana Hermont, Rafel Hahne e Guilherme Medeiros. (Foto: Maria Fernanda Cavalcanti / WRI Brasil | EMBARQ Brasil)
Qualidade que atrai
O grupo foi surpreendido por informação em tempo real, ar-condicionado, wi-fi a bordo, bancos estofados, tomadas para carregamentos de notebooks e celulares. São algumas das características que tornaram o Busway atrativo aos olhos dos usuários. “Temos o objetivo de manter o padrão de qualidade no sistema para estimularmos os executivos a utilizarem o transporte coletivo e deixarem o carro”, esclarece Campbell Ross-Bain, Gerente de Operações do Busway, que guiou a delegação brasileira durante a visita
Outros atributos do sistema passam por acessibilidade universal em todas as estações com piso nivelado à plataforma de embarque, priorização semafórica, Centro de Controle Operacional, plano de contingência em caso de panes, uso de combustíveis mais limpos (30% de biocombustível) e frequência de um ônibus a cada 5 minutos em horários de pico.
A tarifa custa £ 2,70 (R$ 13,50) e idosos viajam de graça de segunda a sexta-feira após as 9h30 e também em finais de semana e feriados.
Embarque fácil, no mesmo nível do ônibus. (Foto: Maria Fernanda Cavalcanti / WRI Brasil | EMBARQ Brasil)
Rapidez com o sistema guiado
Construído em cima de uma antiga ferrovia desativada, os 25 km exclusivos ao Busway ainda lembram muito a operação de um trem. Isso porque possui uma característica particular: o sistema guiado por pequenas rodas laterais de aproximação nas faixas exclusivas, o chamado “guided busway”, que permite ao ônibus trafegar em velocidades altas – máxima de 90 km/h – em um espaço mais reduzido.
Assim, torna-se mais veloz, estável e seguro a usuários e motoristas. Quando o ônibus entra neste sistema guiado de faixa exclusiva, os condutores do BHLS não precisam sequer se preocupar com a direção, uma vez que os pneus estão precisamente alinhados e fazem o trabalho.
Mike Capper, 30 anos de profissão, opera o Busway sem as mãos com o sistema guiado. (Foto: Maria Cavalcanti / WRI Brasil | EMBARQ Brasil)
Sistema desenvolvido pelo Condado de Cambridge para guiar o BHLS nos corredores exclusivos. (Foto: Maria Fernanda Cavalcanti / WRI Brasil | EMBARQ Brasil)
Bicicletários + Park & Ride
Além da rapidez e do conforto, o Busway oportuniza boa conexão com outros modais de transporte. Nas principais estações, há locais próprios para guardar a bicicleta com segurança e grandes estacionamentos para veículos, em um sistema chamado “Park & Ride”. Os motoristas pagam apenas 1 libra (R$ 5) para deixar o carro estacionado por um dia e a tarifa de £ 2,70 para seguir viagem no Busway. Com isso, o uso do BHLS se torna mais atrativo e faz com que menos pessoas optem em ir de carro para a região central de Cambridge.
Mais segurança viária com o Busway
Ross-Bain explicou ainda que foram realizados estudos prévios para chegar ao sistema como concebido hoje. Previamente ao Busway, a região sofria ainda mais com congestionamentos, tempo perdido e constantes acidentes viários. Desde a inauguração do BHLS em 2011, não houve mais nenhum acidente com morte no trajeto pelo fato de a infraestrutura ser amigável também a pedestres e ciclistas ao longo de todo trajeto. “Os únicos acidentes que ocorreram desde então foi um envolvendo ciclistas que invadiram o corredor exclusivo e outro uma pessoa bêbada, que saiu ilesa”, lembra o Gerente de Operações.
Ciclistas e pedestres têm local próprio e seguro para trânsito ao longo do corredor. (Foto: Maria Fernanda Cavalcanti / WRI Brasil | EMBARQ Brasil)
Oposição inicial até o desenvolvimento orientado pelo transporte
O especialista lembra que o projeto não teve aceitação imediata pela população. “No início do processo houve muita oposição, pois havia uma ferrovia desativada no local e os ingleses adoram trens, por isso queriam reabri-la ao invés de ter ônibus. Mas o custo seria até 5 vezes maior, sem contar a infraestrutura complexa, com os diversos cruzamentos que temos ao longo do trajeto”, explica. Com o tempo, os usuários começaram a ganhar confiança. “Desde que inauguramos, vi uma mudança de mentalidade, principalmente dos idosos que agora adoram e usam o sistema diariamente”, conta.
Outro aspecto que chamou a atenção da delegação brasileira e comprova o êxito do Busway são os diversos empreendimentos que estão sendo construídos ao longo do corredor. O crescimento trará cerca de 10 mil novos moradores para a região. “Muitos empreendimentos comerciais e residenciais surgiram a partir do Busway, especialmente na região sul do sistema, em Cambridge”, lembra Ross-Bain.
Desenvolvimento urbano no trajeto do BHLS. (Foto: Maria Fernanda Cavalcanti / WRI Brasil | EMBARQ Brasil)
Para Liliana Hermont, representante da BHTrans na Missão, o sistema é inclusivo. “É interessante ver como o Busway possibilitou uma conexão para as pessoas que moram em regiões mais baratas ou com menor poder aquisitivo”, analisa. Já Luiza Gomide, diretora de Mobilidade Urbana da SeMob do Ministério das Cidades, vê como grande fator positivo a vantagem econômica de implementação do BHLS frente a outros modais. O sistema do Condado de Cambridge custou, no total, £120 milhões.
O plano do governo local é fomentar ainda mais o desenvolvimento urbano e econômico da região e, futuramente, expandir o sistema a outros municípios próximos.
A visita ao Busway foi a última parada do grupo de representantes do Ministério das Cidades, Salvador, Florianópolis, Rio de Janeiro e Belo Horizonte que participou da Missão Técnica ao Reino Unido, organizada por WRI Brasil | EMBARQ Brasil, com apoio da Embaixada Britânica e CIFF – Children’s Investment Fund Foundation.
Delegação brasileira com parceiros do Reino Unido. (Foto: Maria Fernanda Cavalcanti / WRI Brasil | EMBARQ Brasil)
Participantes da viagem técnica:- Luiza Gomide, Diretora de Mobilidade Urbana da Secretaria Nacional de Transportes e da Mobilidade Urbana (SEMOB) - Ministério das Cidades- Lúcia Mendonça Santos, Gerente de projetos da Secretaria Nacional de Transportes e da Mobilidade Urbana (SEMOB) - Ministério das Cidades- Vicente Loureiro, Diretor Executivo da Câmara Metropolitana de Integração Governamental - Estado do Rio de Janeiro- Guilherme Medeiros, Coordenador Técnico da SC Participações e Parcerias S.A. - Estado de Santa Catarina- André Fraga, Secretário de Cidade Sustentável de Salvador- Rafael Hahne, Secretário de Obras de Florianópolis- Grasiele Xavier de Ávila, Secretária Chefe de Gabinete de Florianópolis- Ana Paula Chaves Lemos, Assessora do Gabinete do Prefeito de Belo Horizonte- Liliana Delgado Hermont, Superintendente de Gestão e Tecnologia de Transporte da BHTrans - Prefeitura de Belo Horizonte- Luis Antonio Lindau, Diretor-presidente da EMBARQ Brasil- Katerina Elias, Pesquisadora do WRI Brasil- Guilherme Johnston, Gerente de Projetos da Embaixada Britânica no Brasil
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