A histeria em torno da diminuição da velocidade nas marginais do Tietê e do Pinheiros em São Paulo só pode ser comparada, em matéria de indigência mental, ao “escândalo” do crucifixo comunista dado por Evo Morales ao papa.
Fernando Haddad é um case mundial de prefeito culpado a priori. Se faz alguma coisa, é uma besta. Se não faz, é uma besta também. Uma besta bolivariana. O carro é um objeto intocável, e qualquer medida só pode ser tomada no sentido de santifica-lo — mesmo que seja para tentar proteger o cidadão.
De acordo com dados da CET, Companhia de Engenharia de Tráfego, em 2014, em ambas as vias, ocorreram 1180 acidentes com vítimas. Houve um aumento de 15% no total de mortes em relação a 2013: 73 contra 63.
O máximo permitido foi de 90 km/h para 70 km/h nas pistas expressas, de 70 km/h para 60 km/h nas centrais; e de 60 km/h para 50 km/h nas locais. Adianta? Ainda segundo a CET, o limite de 40 km/h no centro da capital levou a uma redução de 71% no número de mortes em acidentes e atropelamentos.
Mais uma vez, o Ministério Público abriu inquérito. Uma representação foi protocolada pelo velho e bom Andrea Matarazzo, prefeiturável do PSDB. De novo, acionou-se o fantasma da “indústria de multas”. O ex-comediante Danilo Gentili saiu-se com a acusação de que “não existe (sic) limites para a extorsão que os marginais da prefeitura praticam contra nós”.
Especialistas apontam que o diferença numa situação de, digamos, pista de Fórmula 1, com tudo livre, não chega a 10 minutos. Isso ocorre, com mais frequência, durante a madrugada, o horário mais perigoso.
O trânsito de SP tem três vítimas por hora e as marginais são as campeãs de ocorrência. Se isso não é de responsabilidade do prefeito, o que é? Que tipo de pessoa se sente tão violada ao ter de controlar seu acelerador de modo a não ultrapassar 50 por hora?
Há cinco anos, o então governador José Serra completou uma expansão da Marginal Tietê. A lentidão aumentou, desde então, em cerca de 80%. A razão é simples: quanto mais espaço, mais veículos. A obra custou 1,555 bilhão de reais. Em 2009, ao entregar o projeto, Serra disse o seguinte: “Pode anotar. Não vai ter mais engarrafamento aqui”.
Serra jamais será cobrado. Haddad vai na contramão de estimular uma patologia local: a dependência automobilística. Ciclovias são uma solução de mobilidade festejada em qualquer lugar civilizado. Em São Paulo, viram caso de polícia. É um casamento indissolúvel e pobre do alcaide que não construir viadutos, pontes e túneis.
O pedestre — e o motorista — que morram.
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