Inauguração tem presença da presidente Dilma e de Luiz Fernando Pezão. Projeto da via demorou 40 anos para ficar pronto.
A presidente Dilma Rousseff inaugurou, ao lado do governador do Rio Luiz Fernando Pezão, nesta terça-feira (1o.) o trecho de 71 quilômetros do Arco Metropolitano, estrada que liga Duque de Caxias a Itaguaí, na Baixada Fluminense, que começa a operar nesta quarta-feira (2).
A obra do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), foi realizada em parceria com o governo estadual.
Ao terem nomes anunciados, foram recebidos com vaias o prefeito de Duque de Caxias Alexandre Cardoso e o ex-governador Sérgio Cabral.
Tom de campanha
A presidente saiu em defesa de Pezão e de Cardoso. O segundo por ter sido vaiado e o primeiro depois de o público gritar o nome do senador Lindberg Farias, após o discurso de Pezão.
A inauguração se transformou em campanha política. Dilma destacou que está com Pezão há muito tempo.
“Conheço a capacidade de Pezão há muito tempo. Estou com ele desde o início, quando Lula estava de mãos dadas com Cabral e eu estava de mãos dadas com ele. Não basta ter parceria . Tem de ser uma boa parceria”, disse a presidente.
Pezão começou o discurso agradecendo aos ex-presidente Lula e ao ex-governador Cabral por tirar do papel um projeto de 43 anos atrás. Ele agradeceu a Dilma o empréstimo para ampliação do abastecimento da Cedae.
“Tivemos de pagar mais de R$ 6 bilhões de dívidas nesses sete anos, por isso falta água na Baixada. A senhora nos ajudou a salvar a Cedae”, disse Pezão.
Cardoso elencou todos os programas em parceria com o governo federal que, segundo ele, melhoraram a vida da população da Baixada. E sempre se referiu a Cabral como governador do Rio.
A presidente chegou acompanhada do governador, do prefeito do Rio Eduardo Paes e do ex-governador Sérgio Cabral. Ela cumprimentou operários da obra, fez fotos com o grupo e apreciou a breve apresentação das escolas de samba Grande Rio, de Caxias, e Beija-Flor, de Nilópolis. Até arriscou tocar um surdo da bateria da Grande Rio, posou com a bandeira do Brasil ao lado de passistas e de casais de mestre-sala e porta-bandeiras das duas escolas.
A obra, que terá 145 quilômetros, quando ligar Itaboraí a Itaguaí, vai facilitar o escoamento da produção e aliviar o tráfego interligando as principais rodovias federais que cortam o estado do Rio de Janeiro.
A construção deste primeiro trecho foi iniciada em 2008 e custou R$ 1,9 bilhão. A obra inicialmente estava prevista para ser inaugurada em 2010 e o trecho estava orçado em R$ 965 milhões.
Dilma e Pezão também assinaram com a CEF um empréstimo de R$ 3,4 bilhões para a construção do novo produtor de água tratada do Complexo Guandu 2, que vai beneficiar cerca de 3 bilhões de habitantes principalmente da Baixada Fluminense.
Desafogamento do tráfego
O trecho a ser inaugurado nesta terça liga Itaguaí, na Região Metropolitana, a Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, onde se conecta à BR-116 (Rio-Petrópolis), trecho duplicado sob concessão da CRT, até Magé, e de lá à BR-493 até Manilha, em trecho que está sendo duplicado. Está formado o Arco Metropolitano, 145 quilômetros de estrada no entorno da Região Metropolitana do Rio ligando as cidades de Itaboraí, Guapimirim, Magé, Duque de Caxias, Nova Iguaçu, Japeri, Queimados, Seropédica e Itaguaí.
Com o arco, cerca de 35 mil veículos deixarão de passar pela Avenida Brasil, Via Dutra e Washington Luis por dia, desses, 10 mil caminhões de carga, afirma a Firjan em estudo. Para Riley Rodrigues de Oliveira, especialista em Competitividade Industrial e Investimentos da Firjan, a redução no fluxo diário de veículos por aquelas vias é de mais de 19%, tendo como consequência a melhoria das condições de vida das populações afetadas.
“É um grande ganho para a mobilidade urbana vai ganhar. A Baixada Fluminense ganhará com a redução do congestionamento”, disse.
Desenvolvimento econômico
Se a comunidade ganha, a economia lucra mais ainda. O arco liga polos industriais importantes como o Porto de Itaguaí, a Refinaria Duque de Caxias, e o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, em Itaboraí.
“Os empresários esperavam muito isso. O frete fica mais barato, é ganho para o produtor e o consumidor”, afirma o especialista.
Segundo Riley, a estimativa é que a obra reduza em até 20% os custos de transportes de mercadorias entre o Porto de Itaguaí e seis estados: Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, além do Distrito Federal. Riley calcula que o impacto no PIB do Estado do Rio será de R$ 1,8 bilhão.
“A receita anual com arrecadação de impostos de uma forma geral, no Estado do Rio, poderá ser mais de R$ 343 milhões. Só de ICMS, serão R$ 140 milhões”, diz o especialista.
Ele estima ainda que mais 10.673 empregos diretos serão gerados no estado com a instalação de empresas e indústrias no caminho do arco. Riley Rodrigues de Oliveira ressalta que, com o Arco Metropolitano, a produtividade do Porto de Itaguaí vai aumentar.
“É um porto de altíssima capacidade pela facilidade logística, mas tem uma rodovia de traçado antigo com um grande trecho não duplicado. Com o Arco pronto, Itaguaí vai ter o melhor acesso rodoviário do Brasil, principalmente para o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) e para o Norte e Nordeste fluminense”, explica Riley.
Natureza e história no caminho
O projeto do arco tem mais de 40 anos, mas só em 2008, após ser incluído no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) começou a ser construído, com investimentos do governo federal e estadual que somam R$ 1,9 bilhão. Seu nome oficial é Rodovia BR-493/RJ-109.
Segundo Riley, houve atrasos no projeto porque, além de três mil desapropriações, escavações foram revelando sítios arqueológicos que, ao final da obra, somavam 68.
E, de acordo com o governo do estado, foi preciso ainda construir oito viadutos sobre dutos da Petrobras e dois outros sobre um lago em Seropédica, para não pôr em risco o habitat da rã Physalaemus soaresi, espécie rara, ameaçada de extinção.
“Como dizia o grande estadista inglês Winston Churchill, a democracia dá trabalho prá burro, mas não inventaram sistema melhor. Por isso, quando surge uma perereca no meio do caminho, então vai-se estudar que perereca é esta, qual a espécie, como fazer para garantir a procriação etc. O mesmo em relação aos sítios arqueológicos e com as desapropriações. Dá trabalho, atrasa a obra, mas isso faz parte do jogo democrático”, disse em 2011 o então governador Sérgio Cabral.
De acordo com a Secretaria Estadual de Obras, a Physalaemus soaresi atrasou a obra em mais de um ano, encarecendo o projeto em R$ 18 milhões.
Já o Instituto de Arqueologia Brasileira responsável pela identificação, catalogação e retirada das peças dos sítios arqueológicos, coletou 50 mil peças inteiras ou fragmentadas no trajeto e nas cercanias da rodovia, entre elas cachimbos africanos, louças europeias dos séculos XVI, XVII, XVIII e XIX, sambaquis, louças chinesas e urnas funerárias da cultura tupi-guarani. O mais antigo sítio encontrado, segundo o IAB foi um sambaqui em Duque de Caxias, com mais de dois mil anos de existência.
Municípios crescendo
Com 23 indústrias em funcionamento e outras 17 em processo de instalação, o município de Queimados, na Baixada Fluminense, no trajeto do Arco Metropolitano, comemora a ascensão econômica. Segundo a Prefeitura, Queimados vem chamando a atenção dos investidores.
A cidade está a 43 quilômetros do Rio e a apenas cinco do Arco Metropolitano, ficando em posição equidistante dos portos do Rio e de Itaguaí e tem a rodovia Presidente Dutra passando pelo condomínio industrial da Codin, uma área de dois milhões de metros quadrados. A região tem ainda boa rede de água, gás e fibra ótica.
Segundo a Prefeitura de Queimados, foram essas as facilidades que atraíram a operadora de ferrovias MRS Logística, que está instalando um Polo Intermodal Ferroviário, com investimento de R$ 240 milhões.
O empreendimento será interligado a outro terminal em Mogi das Cruzes, em São Paulo, e terá capacidade de transportar dois milhões de toneladas de cargas de alto valor agregado por ano no maior centro consumidor do país: o eixo Rio-São Paulo. Um protocolo de intenções prevê que a construção, por parte do governo, de uma alça de acesso ligando o polo ao Arco.
A implantação do polo reduzirá o tráfego em cerca de 500 caminhões por dia em direção ao Porto de Itaguaí. Só o polo de Queimados deve movimentar 620 mil toneladas de carga em 2016, podendo chegar a 2,1 milhões de toneladas em dez anos de operação. Outros cincos centros logísticos estão em construção na cidade.
“A Baixada Fluminense está se consolidando como um importante polo do setor de logística. A descentralização econômica, com instalação de unidades fabris no interior fluminense, aumentou a necessidade de empreendimentos logísticos que integrassem os municípios às principais vias de escoamento de produção. Nosso crescimento pode ser verificado pelo aumento na arrecadação do ISS, que demonstra um aquecimento na área de serviços, principalmente na construção civil. Em breve, com o início das operações de muitas empresas também haverá maior aquecimento na arrecadação de ICMS”, disse o prefeito Max Lemos.
Fonte: G1, Por Alba Valerá Mendonça
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