Que São Paulo já está saturada de carros todo mundo já sabe. São 5,6 milhões de automóveis particulares na cidade. Seu impacto nas ruas já conhecemos, mas sua presença na cidade vai muito além dos congestionamentos. Na terça-feira (26) a prefeitura divulgou um informativo com dados impressionantes sobre essa questão.
Entre 2002 e 2012, foram construídos 300 mil novos apartamentos. No mesmo período, 500 mil vagas de estacionamento foram construídas nestes edifícios. A área ocupada por essas vagas corresponde a quase 50% da área ocupada pelos próprios apartamentos. É como se para cada prédio construído para moradia, um outro prédio, com a metade do tamanho, fosse feito apenas para carros.
Para abrigar os automóveis nestes dez anos (apenas nas residências, sem contar os espaços comerciais…), foram 12,8 milhões de metros quadrados construídos. Com esta área construída, seria possível abrigar, por exemplo, 160 mil apartamentos de 50 metros quadrados!
Esses dados revelam as consequências de uma cidade produzida sob a lógica do carro, com uma legislação que estimula esse modelo. O zoneamento de São Paulo obriga a construção de garagens tanto em residências como em áreas comerciais.
De acordo com a lei, cada imóvel residencial precisa ter ao menos uma vaga de garagem, sendo que essa proporção aumenta de acordo com a área construída: quanto maiores os apartamentos, maior é o número de vagas que eles obrigatoriamente têm que ter… Nos imóveis comerciais é obrigatório a construção de pelo menos 1 vaga para cada 35 metros quadrados de área construída.
Além de obrigar a construção de garagens, a lei também permite que esta área construída não seja contabilizada para efeito do cálculo do chamado “coeficiente de aproveitamento”, ou seja, a definição de quanto cada imóvel pode ter de área construída em relação ao tamanho do terreno. Em alguns grandes empreendimentos, notadamente os shopping centers, as garagens chegam a duplicar este coeficiente.
O impacto das “casas para os carros” vai ainda mais além: nos edifícios, ou ocupam os subsolos, intervindo na drenagem, uma vez que a água do lençol freático é bombeada para permitir a construção, ou usam o primeiro e segundo andares, definindo paredões para quem está na rua…
Enfim, esses dados mostram que a discussão da mobilidade não se restringe à questão de carros versus transporte coletivo na rua… Trata-se da definição do modelo de ocupação de nossas cidades, inclusive para dentro dos terrenos. Nesse momento de revisão do plano diretor, a hora é agora para pensarmos se queremos construir uma cidade para os carros ou para as pessoas.
Texto originalmente publicado no Yahoo!Blogs.
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