Era a primeira vez que Carine de Oliveira, vendedora de 26 anos, visitava a casa do namorado, o pedreiro Jeremias Ramos, 28 anos, em Águas Lindas (GO).
Ela não se lembra da data exata, sabe apenas que foi em um sábado à tarde. Porém, os momentos em que esteve sob domínio de dois assaltantes no ônibus que saiu de Santa Maria, ela jamais se esquecerá.
“O coletivo parou para pegar dois passageiros, na rodovia BR-070″, relata a jovem. “Aí, enquanto uma mulher ficou apontando a arma para o motorista o cara levava nossas coisas. Foi muito, muito horrível”, completa.
Este mês, no dia 16, um ônibus interestadual que saiu de Brasília com destino ao Rio de Janeiro foi alvo de criminosos na BR-040, entre Cristalina e Luziânia, em Goiás. Cinco homens armados assaltaram 33 passageiros.
Armados
Situação semelhante aconteceu com o time de futebol americano do DF Brasília V8, na madrugada de 20 de julho deste ano.
Os cerca de 40 integrantes da equipe e comissão técnica foram abordados por um grupo armado, que chegou a efetuar vários disparos contra o ônibus alugado com destino a Belo Horizonte (MG), também na BR-040, próximo a São Sebastião.
Os três incidentes, apesar de ocorrerem em circunstâncias distintas, já que no primeiro caso tratava-se se uma viagem corriqueira e nos demais de um deslocamento mais longo, entram para a mesma estatística.
Isso ajudou o Distrito Federal a se tornar, em 2013, a segunda unidade da Federação com o maior número de assaltos em rodovias federais, atrás apenas do estado que o circunda, Goiás. Os dados são da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).
Levantamento
O levantamento aponta que, de janeiro a agosto deste ano foram registrados 42 crimes desse tipo, sendo cinco ocorrências informadas por companhias de ônibus interestaduais a respeito de assaltos à frota nas BRs 040 e 070, justamente onde o Brasília V8 e Carine foram abordados, respectivamente.
PRF reforçará policiamento
A preocupação com segurança ao utilizar as estradas que saem ou cortam o DF é extremamente pontual agora que o fim do ano se aproxima e muitas pessoas aproveitam férias ou recesso para viajar Brasil afora utilizando transporte rodoviário.
A Socicam Terminal de Passageiros, empresa que faz parte do consórcio que administra o Terminal Rodoviário Interestadual de Brasília, estima que 11 mil pessoas deixaram a capital no último dia 15, feriado de Proclamação da República. Esse número deve subir para quase 30 mil passageiros somando Natal e Ano Novo.
A Polícia Rodoviária Federal do Distrito Federal (PRF-DF) informou que, para o fim do ano, o policiamento em todas as rodovias da capital será reforçado, inclusive com a definição de turnos extras de trabalho.
Também ressaltou que, nos últimos cinco anos, prenderam seis quadrilhas especializadas em assaltos a ônibus interestaduais com média de oito a 12 integrantes.
A maior prisão, porém, teria sido feita no meio deste ano, quando 23 criminosos de um mesmo grupo, atuante em Goiás, DF, e Minas Gerais, teriam sido capturados.
“O problema é que hoje o recrutamento para o crime é muito fácil”, diz o inspetor Daniel Bomfim. “Se deixamos um único membro de uma determinada quadrilha solto, ele pode reunir mais gente e voltar a agir do mesmo jeito meses depois”, conclui.
Sorte
O professor Murilo Duran, 48 anos, está acostumado a viajar de ônibus. “Às vezes encaro quatro ou cinco dias direto (de viagem) quando vou para o Peru”, diz.
Apesar de usar bastante transporte terrestre no Brasil e para visitar alguns países vizinhos, ele nunca sofreu com assaltos. Vários amigos seus, no entanto, não tiveram a mesma sorte.
“Um colega meu de Cusco (cidade do Peru) perdeu uma grande quantia em dinheiro em um trajeto justamente por conta de assalto”, conta. Relatos dessa natureza deixaram-no esperto quanto aos próprios hábitos ao viajar.
“Tomo precauções, como não levar muitos eletrônicos comigo nessas viagens e nem dinheiro. Procuro ficar só com o cartão”, diz. Tais medidas são encorajadas pelo inspetor Bomfim, da PRF, que também aconselha os passageiros a evitarem usar joias chamativas.
Alternativas
As empresas de ônibus, para reduzir o risco de assaltos, usam alternativas como combinar de alguns veículos viajarem juntos, em comboio, ou instalar dispositivos de rastreamento em cada transporte. Mesmo assim, a PRF diz que existem áreas de risco onde sinal de celular não pega, por exemplo, e que não existem postos policiais nas proximidades.
Passageiros criam formas de prevenção
“Mesmo sabendo que as companhias tentam deixar a gente seguro na estrada, temos medo, né?”, afirma o autônomo Clóvis Batista de Abreu, de 53 anos, que geralmente passa por Brasília quando sai de São José do Rio Preto (SP) rumo a Guanambi (BA).
“Já fiquei sabendo de alguns parentes e vários amigos assaltados, mas ainda bem que nunca aconteceu comigo mesmo”, alivia-se Clóvis. “Só que a gente vê na televisão e lê nos jornais e fica só imaginando que pode acontecer com a gente um dia, né?”, conclui.
Joaquim Dias, hoteleiro e pedreiro de 63 anos, e sua mulher, Maria Aparecida, dona de casa de 58 anos, preparavam-se, no dia 20, para ir à Bahia visitar parentes e exaltaram o fato de nunca terem sido vítimas. A filha do casal, Lucimar Dias, de 33 anos, no entanto, foi vítima diversas vezes.
Reação condenada
Reação condenada
“A última foi há uns três meses, vindo do interior (de Goiás) e passando por Luziânia”, conta a mãe, preocupada. “O problema é que ela luta com os bandidos, apesar de eu dizer que não pode e que o importante mesmo é a vida dela. Dessa vez ela voltou só com a alça da bolsa, que foi levada mesmo assim”, desabafa.
Apesar do cenário instável, o professor Murilo Duran diz que a ação criminosa não pode inibir as pessoas. “Viajar é essencial. Os relatos que a gente ouve assustam, mas não podemos deixar de fazer as coisas em detrimento do medo”, conclui.
Os membros da banda de Brasília Móveis Coloniais de Acaju também foram vítimas de assalto a ônibus interestadual em rodovias federais.
Em março deste ano, o transporte alugado que os levaria para um show em Sorocaba (SP), saindo de Brasília, foi abordado por volta das 4h, próximo a Catalão (GO), na BR-050. Por meio de redes sociais, eles lamentaram terem sofrido violência “pura e aplicada”.
Fonte: clicabrasilia.com.br / Jornal do Brasil, Por Eric Zambon
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