por Caio César Ortega
Recentemente soube por meio do Estadão que o Governo do Estado de São Paulo está aventando a possibilidade de construir uma nova ligação ao litoral paulista (veja aqui). A ideia é interessante, pois pensa no Alto Tietê, mais especificamente, na cidade de Suzano.
Porém, nem tudo são flores… o governo estadual lamentavelmente está pensando numa proposta rodoviarista, em que a ferrovia tem uso apenas para transporte de carga e em que o transporte de passageiros fica restrito a possíveis linhas de ônibus, que disputarão espaço com caminhões e automóveis, sendo que a rodovia, ao optar por túneis para reduzir o impacto ambiental, terá apenas três faixas por sentido. Em um mundo ideal, a viagem de Suzano a Santos levaria cerca de 40 minutos, tempo muito próximo daquele necessário para realizar uma viagem Mogi das Cruzes a Bertioga, tempo este que também chega facilmente a quatro horas em determinados períodos do ano. Será que vamos repetir mais um extraordinário case de sucesso envolvendo a construção de uma rodovia?
Na reportagem do Estadão, o professor Creso de Franco Peixoto da FEI, Fundação Educacional Inaciana, admite a saturação das ligações rodoviárias atuais, mas ao mesmo tempo reforça a necessidade de investimento em transporte coletivo. O jornal, contudo, não explora a possibilidade na matéria.
Hoje a ligação São Paulo-Santos por ferrovia está sendo estudada pela CPTM, a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos. Atualmente o projeto está praticamente ligado ao Expresso ABC, ligação expressa que promete agilizar deslocamentos entre o ABC e a capital que hoje dependem de um serviço parador da Linha 10-Turquesa. Pessoalmente, acredito que uma ligação não exclui outra e que há espaço para que os dois serviços sejam implantados, um visando o ABC e regiões próximas (como algumas localidades da Zona Leste da capital) e outra visando o Alto Tietê e regiões próximas (como algumas localidades do extremo da Zona Leste da capital).
Na proposta da ligação Suzano-Santos com articulação pelo Rodoanel Leste e Rodovia Cônego Domenico Rangoni, há ainda a possibilidade de construção de um bairro residencial em Santos, aparentemente elitizado e muito possivelmente carrocêntrico, literalmente ao pior estilo suburbano (é de se questionar também se tal bairro prevê algum tipo de habitação social, o que eu francamente duvido). Ao meu ver, integrar a ferrovia com um centro comercial, contendo ligações sobre pneus e ligações leve sobre trilhos ou com estrutura elevada poderia prover um grau muito maior de “caminhabilidade” ao longo da área residencial, bem como possibilitar também um menor grau de isolamento, além da circulação de um maior fluxo de circulação de pessoas, evitando a criação de um conjunto residencial suburbano ermo e pouco seguro, é simplesmente o caminho a seguir, buscando criar um modelo mais sustentável de ocupação do solo ou quebrar paradigmas que se alicerçam numa indústria automobilística pouco preocupada com as dificuldades de mobilidade enfrentadas por todo o estado.
Para exercício de reflexão ao leitor, cito um texto recente da Raquel Rolnik (veja aqui), em que ela alerta sobre o fato de que em novos condomínios de apartamentos, a área ocupada pelas vagas chega a quase 50% da área ocupada pelos apartamentos. Parece alarmante? Se não parece, deveria ser, principalmente para o Governo do Estado de São Paulo.
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