quarta-feira, 3 de agosto de 2016

A economia da bicicleta: criação de empregos e fomento ao comércio local

       

Juiz de Fora (MG)
(Foto: Mariana Gil/WRI Brasil Cidades Sustentáveis)
Comprovar os benefícios de uma prática é o primeiro passo quando se trata de alavancar investimentos para desenvolvê-la. Não é diferente com o transporte sustentável. Os ganhos sociais e econômicos que vêm com o aumento do uso dos modos sustentáveis deixa marcas na cidade e na economia – desde a criação de empregos até a economia de tempo e dinheiro, passando por combater a pobreza e tornar as vias mais seguras e o ar mais limpo.
A bicicleta entra nessa lista: ao longo da última década, o crescente número de ciclistas urbanos que a utilizam como meio de transporte tem causado mudanças no cenário e na forma de pensar as cidades. Mundialmente, cada vez mais as cidades investem em infraestrutura cicloviária como forma de reduzir os congestionamentos, a poluição e contribuir para a prática de atividade física e melhorar a saúde das pessoas.
Nos últimos anos, outra área que se mostra positivamente impactada pelo uso da bicicleta é a economia. Com a crise desencadeada em 2008, a criação de empregos passou a ser uma das prioridades na Europa. Foi nesse contexto que a Federação dos Ciclistas Europeus (ECF) desenvolveu um estudo para quantificar a participação do setor cicloviário na geração de empregos naquele continente.
Estima-se que atualmente o setor cicloviário empregue cerca de 650 mil pessoas na Europa. Se a participação da bicicleta na divisão modal do continente dobrasse, o setor poderia criar até 400 mil novos empregos, garantindo trabalho para mais de 1 milhão de pessoas. Essa foi a principal conclusão do estudo, que levou em consideração os empregos gerados pelas atividades relacionadas à bicicleta nos setores de infraestrutura, turismo, varejo e de infraestrutura.
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Total de empregos no setor cicloviário atualmente e se fosse dobrada a participação da bicicleta na divisão modal (Fonte: ECF)
Um exemplo do potencial de geração de empregos do setor é o Vélib, programa de compartilhamento de bicicletas de Paris. A capital francesa registra taxa de 6,6% de desemprego, e muitos dos que enfrentam o problema são jovens recém-formados. Ainda que de forma superficial, o Vélib contribui para amenizar o problema, empregando 400 jovens parisienses em vagas integrais e de meio turno.
Outras conclusões incluem:
  • Alto número de empregos: em comparação aos outros modos de transporte, o setor cicloviário cria mais vagas de emprego. Considerando uma rotatividade de um milhão de funcionários, uma fabricante de bicicletas emprega três vezes mais pessoas do que uma de automóveis.
  • Oportunidade de inclusão: muitos dos empregos gerados pelo setor cicloviário não requerem altos níveis de qualificação, o que oferece trabalho e salário para uma parcela da população que necessita de ambos.
  • Ciclistas favorecem a economia local: as bicicletas contribuem mais para o desenvolvimento da economia local do que outros modos de transporte, uma vez que, por conta da praticidade de acesso conferida pela bicicleta, ciclistas tendem a entrar mais em lojas, restaurantes, cafés e demais estabelecimentos comerciais.
Ciclistas acessam o comércio com mais facilidade, fomentando a economia local (Foto: Mariana Gil/WRI Brasil Cidades Sustentáveis)
Além dos congestionamentos: outros benefícios econômicos da bicicleta
Investir em infraestrutura cicloviária gera economia para as cidades. De acordo com um estudo conduzido por pesquisadores da Nova Zelândia para a revista científica Environmental Health Perspectives, a cada dólar gasto com a construção de ciclovias segregadas as cidades podem economizar até US$ 24 (R$ 62), graças à redução de custos com saúde, poluição e tráfego.
Em Amsterdã, os deslocamentos de bicicleta representam 40% do total de viagens realizadas na cidade. Se o resto do mundo pedalasse apenas um quarto do que os moradores de Amsterdã, as cidades poderiam registrar uma economia de 700 bilhões de dólares por ano – o equivalente a 25 trilhões entre 2015 e 2050. O número está no estudo A Global High Shift Cycling Scenario, de novembro de 2015, que mostra o potencial de contribuição das bicicletas no transporte urbano, tanto em termos de qualificação da mobilidade quanto de sustentabilidade para os centros urbanos.
No rol de benefícios trazidos pela bicicleta, a construção de cidades mais seguras e a redução de congestionamentos e da poluição soma-se ao fomento da economia local e criação de empregos. Acima de tudo, os números mostram que, mais do que um meio de transporte, a bicicleta é uma poderosa ferramenta de transformação urbana.

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