Camilo Cristófaro quer substituir espaços para ônibus por estacionamento rotativo
ADAMO BAZANI
DIÁRIO DO TRANSPORTE
Espaços que priorizam o transporte público fazem parte das diretrizes para melhoria de mobilidade urbana em praticamente todas as cidades do mundo. A própria Política Nacional de Mobilidade Urbana, instaurada em 2012 no Brasil, é clara ao dizer que no espaço urbano devem ter prioridade os pedestres, os meios não motorizados como bicicletas e as pessoas que estão nos veículos de transporte coletivo, em especial de maior capacidade, como ônibus. Metrô e trem são de capacidade maior, mas a ocupação viária é diferente.
No entanto, não é exagero dizer que parte do eleitor paulistano é conservadora e ainda apegada à cultura individualista do carro.
E nas eleições municipais, quem se aproveitou e incentivou ainda mais desta cultura se deu bem.
Foi o que ocorreu com o vereador eleito Camilo Cristófaro, de 55 anos do PSB. O político entrou para Câmara Municipal com 29603 votos e assume em 2017.
Sua plataforma? Ser o vereador dos carros. Em entrevista ao repórter Clayton Castelani, do Jornal Agora São Paulo, ele disse que vai lutar para a retirada de radares, faixas de ônibus e ciclovias.
No lugar dessas faixas de ônibus e ciclovias, o vereador eleito, filho de um coronel aposentado da PM e que já ocupou cargos de segundo escalão nas gestões de Jânio Quadros, Paulo Maluf e Marta Suplicy , quer implantar, segundo a reportagem, estacionamentos rotativos com tempo de permanência de 15 minutos, ou seja, bicicletas e ônibus dariam lugar para os carros.
Mesmo com aprovação de mais de 70% das ciclovias e de mais de 90% das faixas de ônibus, de acordo com institutos como Datafolha e Ibope, o novo vereador paulistano, nascido no Ipiranga, conseguiu conquistar um número significativo de eleitores.
Claro que as faixas, em sua maioria, pelo menos, não vão acabar, embora que em locais como na Giovanni Gronchi, no nobre Morumbi, corram risco.
O que mais preocupa é que posições como esta ainda despertam o interesse de muitas pessoas que não querem abrir mão de sua rotina de carro, que deixou há muito tempo de ser uma comodidade. Ele diz que promete lutar para que as faixas de ônibus se transformem em corredores à esquerda, no entanto, não diz nada a respeito dos custos para a construção dos corredores e também dos locais onde não é possível implantar esse tipo de estrutura para o transporte coletivo.
Corredor é mais adequado que faixa, mas não cabe em todo lugar e não pode ser pretexto para quem quer tirar faixa.
O argumento de que não adianta exigir que as pessoas façam uso do ônibus, trens ou metrô, se o transporte público não for melhor, é extremamente falho quando as propostas e ações continuam incentivando o transporte individual. Afinal, nunca o transporte coletivo vai ser de qualidade se ele não tiver espaço preferencial nas cidades. O que adianta uma empresa comprar um ônibus de última geração, que não deve nada a nenhum carro em termos de conforto, se esse ônibus ficar preso no trânsito, atrasar e lotar por causa disso.
Não são apaixonados e nem a prefeitura que mostram as vantagens das faixas para ônibus em São Paulo. Um exemplo é o estudo divulgado nesta terça-feira, 4 de outubro de 2016, realizado por técnicos e acadêmicos do Iema – Instituto de Energia e Meio Ambiente.
De acordo com o levantamento, na comparação entre 2012, quando havia cerca de 90 quilômetros de faixas de ônibus em São Paulo, e 2014, quando o total já era de 300 quilômetros, a velocidade dos ônibus em São Paulo subiu 11% (em média) e a poluição nos locais onde foram implantadas as faixas caiu 5%. Veja detalhes em: https://diariodotransporte.com.br/2016/10/04/faixas-de-onibus-reduziram-em-5-a-poluicao-e-aumentaram-em-11-a-velocidade-do-transporte-publico-em-sao-paulo/
Situações pontuais, como algumas ciclovias equivocadas ou readequação em algumas faixas de ônibus, fazem parte da discussão, mas o que assusta é que a plataforma em prol do transporte individual até mesmo prejudicando o transporte coletivo, cativa muitos eleitores ainda.
Isso mostra que a mentalidade na cidade mais rica do país ainda precisa melhorar muito.
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