Ficou para trás o pânico que se alastrou nas ações de empresas ligadas à infraestrutura depois que, em 11 de setembro, o governo federal anunciou a renovação das concessões no setor de energia com redução tarifária média de 60%. Em um mês, vários papéis se recuperaram. Mas o mercado reavalia suas posições com o reaparecimento do risco regulatório, que pouco preocupava os investidores até então. As mudanças no modelo de concessões de aeroportos e ferrovias cogitadas em Brasília mostraram que esse risco é real, embora seja maior ou menor de acordo com o setor em que as empresas atuam.
Analistas consultados pelo Valor mostraram maior preocupação com companhias ligadas a portos e ferrovias, setores que passam por reformas no marco regulatório e, portanto, trazem incertezas sobre o futuro. Já as empresas de rodovias e saneamento são vistas como mais “seguras”. As “units” da Santos Brasil, especializada em terminais portuários, caíram mais de 14% em um mês, apesar da alta de 19% no ano. Para analistas, como Pedro Balcão, do Santander, a renovação da concessão do terminal no porto de Santos, em 2022, será feita com pesados compromissos de investimentos, que poderão baixar a margem operacional da companhia de 55% para 35%.
A preocupação do mercado com a “mão do governo” nas concessões se estende às ferrovias, mas de uma maneira mais complexa. Está sendo colocada em prática uma série de medidas – previstas em contrato – para aumentar a produtividade, acelerar investimentos nas malhas e baixar o preço dos fretes.
Com isso, desde agosto de 2011 as ações da ALL estão sendo negociadas abaixo de R$ 10, o menor nível desde 2005, ano seguinte ao da abertura de capital. A mais recente dessas medidas foi a redução do teto tarifário praticado pelas concessionárias. A redução do preço máximo a ser cobrado pelo modal é, em média, de 25% e passa de 50% em alguns casos, segundo levantamento do Valor.
Diferentemente de portos e ferrovias, o horizonte para as áreas de rodovias e saneamento é visto com menos incertezas pelo mercado. No caso das rodovias, a mudança de regras em execução (por exemplo, a redução de tarifas) já é um risco quase descartado pelo mercado, por conta da segurança jurídica dos contratos. A questão mais discutida é a renovação das concessões, que o governo não deve realizar de forma automática. A expectativa de margens menores em novos investimentos e trechos a serem licitados já levou três das maiores concessionárias a anunciar investimentos em outros setores ou fora do país para manter a rentabilidade.
Fonte: Valor, Por Daniela Meibak, Natalia Viri, Beatriz Cutait e Fábio Pupo
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