sexta-feira, 19 de outubro de 2012

AGRALE 50 ANOS: O ÔNIBUS CADA VEZ MAIS BRASILEIRO


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Hoje a produção de ônibus representa cerca de 50% da linha de veículos da Agrale. Empresa pretende crescer cada vez mais no setor e tem boas perspectivas com o veículo de 17 toneladas, que não vai ser apenas mais um ônibus de motor dianteiro no mercado, promete a empresa. Foto: Adamo Bazani.
Agrale 50 Anos: O ônibus cada vez mais brasileiro
Empresa que começou atuar no setor de motores estacionários e tratores agrícolas tem no ônibus seu principal produto e sem esquecer-se dos outros ramos pretende crescer mais no segmento de transporte coletivo de passageiros
ADAMO BAZANI – CBN
Uma empresa tipicamente nacional que resiste por 50 anos tem muita história para contar. Fatos bons, como o crescimento do País, a evolução tecnológica, conquistas de políticas sociais e outros nem tão positivos, como a nebulosa época da Ditadura Militar, as desigualdades de oportunidades e os vários planos econômicos e a galopante inflação.
A Agrale, que neste ano completa meio século de existência, passou por todas estas fases.
A empresa, fundada em 14 de dezembro de 1962 como Agrisa – Indústria Gaúcha de Implementos e Maquinários Agrícolas S.A., passando a ser denominada Agrale em 14 de outubro de 1965, quando foi adquirida pelo Grupo Francisco Stedile, é de capital 100% nacional e como uma boa brasileira precisou de muita originalidade e flexibilidade para enfrentar todas as instabilidades que, infelizmente, são típicas da história político-econômica brasileira.
Foi aí que o ônibus entrou nos planos da Agrale e hoje é o principal tipo de veículo feito pela companhia, que é a terceira maior produtora geral do País do setor e hoje, já é a segunda maior empresa que faz ônibus na Argentina.
Até a primeira metade dos anos de 1990, o Brasil enfrentava uma inflação absurda. No ano de 1993, mesmo depois do Plano Collor II, a taxa acumulada era de 2 mil 708,6 por cento ao ano. Isso mesmo. Todo este percentual só de inflação.
Praticamente todos os setores econômicos sentiram. E como a corda sempre arrebenta para o lado mais fraco, a agricultura, em especial a familiar, foi uma das mais abaladas. O crédito para o produtor agrícola era muito difícil e isso atingiu em cheio as empresas que faziam tratores, peças, motores e equipamentos para o setor.
“Muitas empresas quebraram nesta época. Todos foram afetados. Foi aí que pensamos: Que tipo de empresa podemos ser? Foi necessário explorar outros campos de atividade. Vimos que o segmento de ônibus, apesar de todas as dificuldades no País tinha uma demanda. Então, em 1996, a Agrale colocava no mercado seu primeiro chassi para micro-ônibus, que era realmente voltado para o transporte de passageiros e não somente um chassi de caminhão adaptado para ser encarroçado” – recorda-se Hugo Domingos Zattera, diretor-presidente da Agrale.
Em 1998, veio a parceira com Marcopolo para a fabricação do miniônibus Volare. Foi o destaque para ambas marcas brasileiras. Ainda hoje, os produtos da Agrale/Volare são líderes no segmento de miniônibus, com uma gama maior de veículos. De 1998 para cá, foram mais de 41 mil miniônibus da parceira.
Definitivamente o ônibus marcou uma nova fase para a Agrale.
CRESCIMENTO MESMO EM ÉPOCA DE RETRAÇÃO E NOVOS PLANOS:
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O Programa Caminho da Escola representa importante fatia da produção de ônibus para a Agrale. O modelo 4 X 4, para áreas de difícil acesso, já foi homologado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação e faz parte também das encomendas do Programa PAC Equipamentos. Foto: Adamo Bazani.
Para o ano de 2012, a Agrale prevê faturar R$ 1 bilhão e, na contramão do mercado de veículos movidos a diesel, afetado pelas renovações antecipadas em 2011 por conta da entrada das novas normas de restrição à poluição com base nos padrões internacionais Euro V que deixaram os veículos mais caros, a Agrale estima um crescimento na ordem de 10% a 12%.
A estimativa é de 8 mil veículos produzidos, entre carros de defesa para Forças Armadas, especiais para mineração e serviços em áreas de difícil acesso, caminhões e ônibus, além de 2 mil 200 tratores. Mais da metade dos veículos produzidos corresponde a chassi de ônibus.
E se o ônibus marcou nos anos de 1990 uma nova fase na história da Agrale, aos 50 anos também é pelo ônibus que a empresa deve continuar crescendo.
O “Programa Caminho da Escola”, do Governo Federal, que tem o objetivo de proporcionar acesso aos estabelecimentos de ensino em áreas com más condições de tráfego, como comunidades e zonas rurais, revela boas perspectivas para a Agrale neste ano e em 2013.
Em 2012, só para o programa serão entregues no total cerca de mil miniônibus escolares e em 2013, serão 1.500 unidade, com destaque para o modelo de tração 4 X 4, único no mercado de ônibus e que foi homologado pelo FNDE – Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educação.
Mas a Agrale quer torna-se ainda maior no setor de ônibus: literalmente. Por isso vai agora integrar o maior segmento de transporte coletivo de passageiros sobre pneus: o da categoria de 17 toneladas, que hoje responde por 40% do mercado nacional.
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Linha de produção de ônibus da Agrale, na fábrica 02 em Caxias do Sul. Por conta das perspectivas de alta de produção e da entrada da empresa no segmento de 17 toneladas, planta vai ser ampliada em 6 mil metros quadrados. Foto: Adamo Bazani.
O MA 17.0 já está em testes pela fabricante e em circulação por algumas empresas de ônibus que são parceiras da companhia. Uma delas, a Visate – Viação Santa Tereza de Caxias do Sul, que opera na mesma cidade onde a Agrale possui três plantas, em Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, vai começar a transportar em breve passageiros no novo veículo, que recebeu carroceria Marcopolo Torino.
O ônibus vai exigir ampliações na Fábrica 02, montadora de veículos, de Caxias do Sul. A planta será ampliada até janeiro de 2013, em 6 mil metros quadrados, o que vai exigir um investimento em torno de R$ 9 milhões. A Unidade 03, que faz componentes para tratores e veículos, vai ser ampliada em 1,5 mil metros.
“O MA 17.0 é um veículo maior e necessita de uma linha de montagem dele mesmo, além de uma área de estocagem de peças e componentes maior também. Assim, não é que as plantas da Agrale estejam no seu limite de produção, pois, se fosse o caso, poderíamos criar mais um turno. É que nasce um novo produto” – disse Edson Martins, diretor de suprimentos da Agrale.
“O MA 17.0 não vai ser só um ônibus no mercado. Vai apresentar diferenciais em relação aos que já existem, tanto em economia e melhor manutenção para o frotista e conforto para o motorista, cobrador e passageiro. Os testes realizados até agora tiveram resultados muito positivos” – disse Silvan Poloni, gerente nacional de vendas da Agrale.
O Agrale MA 17.0 tem motorização dianteira MWM e caixa de câmbio Eaton e além de ter aplicação para operações urbanas, pode ser usado em serviços de fretamento e intermunicipais de curtas e médias distâncias.
“Além do mercado interno, nosso objetivo com o MA 17.0 são as exportações. A Agrale já tem uma atuação significativa na Argentina nas operações urbanas, sendo a segunda maior fabricante de ônibus lá, e exporta para vários países”, segundo Flávio Crosa, diretor de vendas da Agrale.
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Linha de veículos de defesa Marruá, da Agrale, tem sido bem recebida pelo mercado é outra aposta de crescimento da empresa. O Exército Brasileiro já conta com centenas de unidades. Há estimativas de exportações para Forças Armadas Internacionais. Foto: Adamo Bazani.
Quando o assunto é ônibus, não dá para esconder o otimismo por parte da diretoria da Agrale. Mas este otimismo é acompanhado por cautela.
“Vamos sim reforçar nossa atuação em ônibus, que hoje representa mais de 50% de nossas operações de veículos. O (Programa) Caminho da Escola e o Chassi de 17 toneladas são provas disso. Mas não vamos deixar de lado os outros setores que a Agrale atua. Temos boas perspectivas na área de tratores, com crescimento de 14,2% entre 2011 e 2012, o veículo de defesa e para aplicações severas, o Marruá, tem siso um sucesso e vamos continuar investimentos para ampliar e aperfeiçoar os outros negócios da Agrale. É a história de nunca colocarmos todos os ovos numa única cesta”, explicou o diretor-presidente da fabricante, Hugo Domingos Zattera.
“Temos uma estratégia de equalização das linhas de produção. Assim, quando um setor não está com o desempenho satisfatório, outro vai estar melhor. Além disso, nossa forma de capitalização é a geração de recursos próprios. Por que este ano vamos faturar R$ 1 bilhão e não mais que isso, apesar de o número ser bom? Porque para nós, a qualidade do crescimento é melhor que a quantidade. Com isso, crescemos com base sólida. É assim que uma empresa tipicamente nacional sobrevive às instabilidades econômicas e também à competitividade que é muito grande nos setores que atuamos, além das sondagens externas” –definiu Rogério Vacari, diretor-executivo da Agrale.
PARCERIAS:
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Ônibus elétrico híbrido da Agrale marca a entrada definitiva da empresa na era da tração elétrica, uma tecnologia menos poluente. Veículo foi apresentado em 2009. Na Rio +20, neste ano, empresa apresentou veículo de defesa Marruá totalmente elétrico, com baterias carregadas em fontes externas. Foto: Adamo Bazani.
O fato de uma empresa ter o capital 100% nacional e uma forma de capitalização com a geração de recursos próprios não a torna uma ilha.
“Boa parte do crescimento da Agrale se deu por conta de parcerias. Faz parte da história da empresa” – revelou o diretor –presidente da empresa, Hugo Domingos Zattera.
Atualmente, no setor de ônibus, a maior parceria se dá com Marcopolo para a fabricação do mini Volare, responsável desde 1998 por 41 mil veículos produzidos. Na área de caminhões, a parceria é com a norte-americana Navistar, que teve início no mesmo ano, em 1998. Na unidade 02 de Caxias do Sul, a mesma onde são feitos os ônibus, a Agrale monta os caminhões médios e pesados com a marca International.
“A parceria com a Navistar é um dos poucos casos que uma empresa confia à outra praticamente todo o processo de montagem. E esperamos mais parcerias. Acordos são uma tradição na Agrale. Queremos alianças que tragam vantagens e sinergias para os dois lados” – disse Hugo Zattera.
Entre as novas parceiras está uma empresa da África do Sul de blindagem de veículos de defesa.
TRATOR
Dos pequenos tratores dos anos de 1960 às máquinas de grande porte, a Agrale sempre esteve presente no setor agrícola, mas nos anos de 1990 teve de diversificar a atuação por conta de restrição de crédito aos produtores rurais. Foi aí que entrou o ônibus na história da empresa.
A história mostra esta tendência de parcerias da Agrale.
Hugo Zattera explica que nos anos de 1970, a burocracia na época do então presidente da Ditadura Militar, Ernesto Geisel, impediu a primeira grande parceria internacional da Agrale.
“Estava tudo certo para fecharmos um acordo com a Renault, a original mesmo, para a produção da primeira linha de tratores com tração 4 X 4 no Brasil. Mas na época tinha o CDI – Conselho de Desenvolvimento Industrial, do Governo Federal. Apesar de o dinheiro ser do empresariado e os riscos serem assumidos pelos investidores, era o Governo que determinava o que poderia ou não ser feito. Na época havia a empresa CBT – Companhia Brasileira de Tratores, que estava passado por dificuldades financeiras. Com o pretexto de protegê-la, dizendo que uma parceria com a Renault contrariaria a política em prol da indústria nacional, Geisel e sua equipe não deixaram a parceria. Acabou que não tivemos trator 4 X 4 e a CBT fechou de todo o jeito” – relembra Hugo Zattera.
Uma parceria internacional para a produção de tratores pesados se deu apenas em 1988. Antes mesmo do conceito do Mercosul, a Agrale fez uma parceria com a Argentina, de uma forma que equilibrava a balança entre os dois países na negociação.
O acrodo foi com Deutz, de origem alemã. A Agrale mandava os caminhões sem motor para a Argentina, que por sua vez, remetia os tratores para o Brasil.
PROGRAMAS GOVERNAMENTAIS:
CAMINHÃO
aGRALE
Agrale começou no setor de caminhões em 1982, com a carreta agrícola TX 1100, de 36 cavalos. O veículo foi bem aceito e a empresa aproveitando carências do mercado começou a oferecer soluções e hoje atua em diversos segmentos de caminhões de 6,5 a 22 toneladas. Foto: Adamo Bazani.
No atual cenário, a empresa destaca a importância de programas governamentais para crescimento industrial, ainda mais em época de incertezas globais e dificuldades de crédito.
Além do Programa Caminho da Escola, responsável por grande parte das vendas da Agrale, o Programa PAC Equipamentos, que também visa, entre outros objetivos, possibilitar melhor acesso de estudantes em áreas difíceis, vai estimular a venda de ônibus. Só o PAC Equipamentos prevê a aquisição de 8 mil 340 ônibus de diversas marcas.
A Agrale também estuda, ainda no contexto do PAC Equipamentos, a participação na licitação de patrulhas agrícolas, que prevê compra de 3 mil tratores usados em área rural com implementos para prestação de serviços.
“O programa de financiamento a caminhoneiros também é uma dádiva. São juros com boas taxas e que vão estimular a renovação da frota de caminhões. Mas há de se ter em mente também que existe um espaço entre a oferta de recursos e a percepção de mercado e ainda sua ação. Primeiro, o caminhoneiro deve se sentir seguro para investir. Entender taxas, prazos e condições. Depois, ainda há muita cautela e severidade no exame por parte dos bancos quanto aos créditos” – disse o diretor-presidente da empresa Hugo Zattera.
Para ele, é um orgulho e uma prova de que a o brasileiro tem uma garra empreendedora ver que o multicultivador, um tratorzinho de duas rodas, o primeiro produto da Agrale, abriu caminho para uma linha grande de soluções para a agricultura familiar e de grande porte, que o caminhão TX 1100, lançado em 1982 como uma carreta agrícola, com 36 cavalos de potência, deu início a uma linha de veículos que hoje conta com carros de defesa, caminhões de diversas aplicações, ônibus modernos e com soluções em tecnologia limpa, como o carro de defesa Marruá totalmente elétrico, apresentado na Rio +20 neste ano e o ônibus elétrico híbrido em série, que reduz em até 90% a emissão de alguns poluentes e em 30% o consumo de diesel, apresentado em 2009.
Adamo Bazani, jornalista da Rádio CBN, especializado em transportes.

Um comentário:

  1. Os tratores são bons , "nacionais" , com tração italiana ,cambio , diferencial e motor alemães e peças absurdamente caras , um reparo da direção de um trator pequeno custa assustadores R$840,00 , sendo que a mesma peça vendida para um outro trator que usa o mesmo eixo custa R$45,oo , só a fibra de vidro é nacional , pois os tratores são de fibra de vidro , o índice de nacionalização deve ser de uns 20% , eu não concordo em dizer que um motor é nacional apenas por ser montado aqui, e é isso que esses tratores são , e por favor não chamem regime militar de ditadura, basta uma simples pesquisa pra saber a diferença, e Geisel foi correto , se fosse hoje era só doar uma verba gorda pra campanha política que tudo seria liberado.

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