terça-feira, 11 de agosto de 2015

O caminho para reduzir as emissões no setor de transportes

Especialista da UFRJ lança livro com diretrizes para o planejamento eficiente do consumo de energia nos transportes
(Foto: Mariana Gil/WRI Brasil | EMBARQ Brasil)
Os danos à saúde a ao meio ambiente causados pela poluição atmosférica são cada vez mais intensos e recorrentes. Globalmente, a poluição do ar é responsável por 3,7 milhões de mortes por ano, fazendo do problema o maior risco ambiental e à saúde no mundo. Os transportes ocupam um espaço significativo nesse quadro, sendo o setor cujas emissões crescem mais rapidamente do que as de qualquer outra área. E a tendência é piorar: de acordo com o IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change), as emissões provenientes dos transportes devem dobrar até 2050.
Reverter esse cenário não é tarefa fácil e requer ações imediatas, visando a reduzir as emissões e desacelerar os efeitos das mudanças no clima. Diversas medidas referentes às operações de sistemas de transporte podem ser tomadas para reduzir os impactos negativos do setor ao meio ambiente, à saúde das pessoas e à qualidade de vida nas cidades. É o que mostra o livro “Transporte, uso de energia e impactos ambientais: uma abordagem introdutória“, de Márcio de Almeida D’Agosto (foto), engenheiro de transportes e professor adjunto do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (COPPE/UFRJ) e presidente da Associação Nacional de Pesquisa e Ensino em Transportes (ANPET).
Destinada a estudantes e pesquisadores da área, a publicação aponta diretrizes para o planejamento eficiente do consumo de energia na gestão e operação de sistemas de transportes. Em conversa com o TheCityFix Brasil, Márcio D’Agosto falou sobre seu livro e a respeito da importância de serem tomadas medidas para reduzir os impactos nocivos do setor ao meio ambiente. Na concepção de D’Agosto, “tudo o que puder ser feito para diminuir o uso do transporte individual por automóveis e privilegiar modais coletivos e/ou não motorizados é uma boa solução para ajudar a reduzir as emissões – desde a aplicação de tecnologia para reduzir as emissões de poluentes dos motores de combustão interna movidos a combustíveis que equipam os automóveis que já existem até a mudança de hábito por parte das pessoas”.

Planejamento: a chave para um transporte mais sustentável

A motorização privada individual, responsável por menos de um terço das viagens realizadas em grandes cidades, responde por 73% das emissões de gases poluentes. Em áreas urbanas que cresceram a partir de um modelo de desenvolvimento “carrocêntrico”, a escolha por modos sustentáveis ou não motorizados ainda encontra muitos obstáculos, como a falta de investimentos e de infraestrutura de qualidade. Para mudar isso, D’Agosto acredita que é preciso investir em mecanismos para colocar em prática aquilo que é planejado: “Muitos estudos e planos são elaborados no sentido de valorizar esse tipo de alternativa, e o que se percebe é uma dificuldade para colocar tais planos e estudos em prática. Muitas vezes, o que falta é a integração entre os diferentes projetos e entre poder público e inciativa privada”.
Conforme a análise presente no livro, o planejamento é fundamental para que as operações no setor de transportes não resultem em prejuízos em termos de tempo, gastos e danos ao meio ambiente e a saúde das pessoas. Atividades cotidianas como deslocamentos realizados em modais motorizados e muitas vezes individuais, opções insuficientes e/ou ineficazes de transporte coletivo e a logística mal planejada de transporte mercadorias precisam ser repensadas, a fim de que se alcance um modelo mais eficiente em termos de consumo energético.
Para elucidar essas questões, o professor dedica um capítulo inteiro à análise de como o planejamento da demanda pode impactar o consumo de energia e que procedimentos de gestão podem ser adotados tendo em vista o objetivo de reduzir o consumo e as emissões. “A tendência das emissões do setor de transportes é sempre de aumentar, mas é possível trabalhar para que essa taxa cresça mais devagar. Isso pode ser feito com técnicas de planejamento que privilegiem modos mais limpos, não motorizados, integrados e que usem tecnologia da informação para otimizar seu planejamento e operação”, afirma. Perguntado sobre como imagina o futuro do transporte nas cidades, o D’Agosto vê em uma abordagem holística o caminho para uma mobilidade mais eficiente e sustentável.
Reverter o cenário atual será um grande desafio. Nas cidades do futuro, o planejamento urbano deverá ajudar a redirecionar a concepção de transporte. A integração do planejamento do uso e ocupação do solo com os transportes e o entendimento de que todas essas atividades fazem parte de um mesmo sistema é fundamental para que se consiga vencer o desafio da mobilidade urbana.

Redução das emissões é foco de debates no #CTBR2015

Em setembro, o professor Márcio D’Agosto acompanhará os dois dias de discussão do Congresso Internacional Cidades & Transportes, que terá a redução das emissões provenientes do setor de transportes como foco de debates em três sessões diferentes.
No dia 10 de setembro, a sessão “Oportunidades para reduzir a emissão de carbono nas cidades” traz soluções eficientes para a redução das emissões que podem ser compartilhadas entre as cidades. Um desses exemplos é o Projeto SOLUTIONS, da União Europeia, que promove o intercâmbio de experiências inovadoras e sustentáveis de mobilidade entre cidades da Europa, da América Latina e do Mediterrâneo.
No segundo dia de programação, a sessão “Menos emissões, transporte melhor”, organizada pela Embaixada Britânica no Brasil e pela Future Cities Catapult, mostra que tornar o transporte coletivo mais sustentável é uma das ações-chave para reduzir as emissões. No mesmo dia, as emissões de gases do efeito estufa pelo setor de transportes ainda são o foco de discussão do painel “Transferência de tecnologia limpa na América Latina e Caribe”. A sessão analisa as barreiras regulatórias, econômicas, financeiras, de capacitação e de informação que ainda dificultam o desenvolvimento e a transferência de tecnologias limpas.

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