Viatrolebus
Marcelo Santos
Aqui se finda a minissérie. Neste artigo será abordada a necessidade do resgate do valor da cidadania.
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Mas existe uma coisa em comum que une a população que não tem água para beber ou esgoto tratado e a população que sofre com a superlotação do transporte coletivo: a contínua perda dos valores. E um destes valores é a cidadania.
Se sempre existiu pouca preocupação em melhorar a mobilidade da população, o governo se preocupou ainda menos em lembrar o cidadão que ele ainda é cidadão. Mesmo com a criação de programas como “bolsa-família” ou similares tenham a função social de resgatar o pouco de respeito e cidadania que o cidadão ainda possui, eles ainda não são a solução ideal para o resgate da cidadania. Investir em educação e capacitação profissional para todos seriam melhores métodos de trazer de volta a cidadania a esta parcela da população, que está a beira do nível da pobreza no país. Por que o governo não pensa em diminuir o número de pessoas que dependem financeiramente dele?
Mas o governo não é tão relapso com a população. Ele não deixa de investir em campanhas de impacto para a conscientização de certos assuntos como a gravidez precoce, a prevenção de várias doenças (câncer de mama, dengue ou DST’s entre outras) ou sobre os males que o consumo de cigarros traz. Isso sem falar, claro, nas campanhas agressivas de prevenção aos acidentes de trânsito. Quem não se lembra do slogan: “Se beber, não dirija”, por exemplo? É um slogan simples, direto e que ficou na mente do brasileiro. São campanhas que chocam a sociedade e mostram sem rodeios as consequências que alguns atos podem gerar. Mas o que tais campanhas têm em comum? Além de terem um conteúdo mais agressivo e que realmente consegue alcançar o público, todos os exemplos aqui geram altos custos para o governo. Tanto na área da saúde pública por causa das doenças decorrentes do cigarro ou dos tratamentos causados pelos acidentes de trânsito ou na previdenciária, por exemplo.
Mas por que os governos nunca investiram pesadamente em lembrar à sociedade da necessidade de “pedir licença”, de dizer “obrigado” dentre outras coisas? Por que ser mal educado, ser “troglodita” diariamente não custa quase nada ao governo. Mesmo que a falta de educação, bom senso, respeito e cidadania gere uma progressiva e inexplicável violência gratuita no trânsito, os dados parecem ser irrelevantes para que o governo queira investir (e gastar) com campanhas com este tema.
Campanhas que possuam imagens fortes, como as já mencionadas acima podem nunca surgirem como inspiração para campanhas de cidadania para as gestões das empresas que cuidam do transporte público, como por exemplo. Ao optar em “pegar leve” em campanhas de baixo impacto e penetração com os usuários, as empresas investem em campanhas que pecam em não conseguir atingir o público ou se fazerem presentes na cabeça de quem usa o transporte. Não que falte foco, falta qualidade na mensagem que precisa ser passada a quem precisa ouvir. Ou falta visão de perceber que de uma forma ou de outra, o público não é mais o mesmo. Campanhas como as da RATP, concessionária que opera no Metrô de Paris, (imagem abaixo) que compara os comportamentos dos usuários a comportamentos de alguns animais talvez nunca possam ser vistas em terras tupiniquins. “Elas são ofensivas, poderemos ter problemas com processos judiciais por que muitos usuários poderão se sentir ofendidos” é a resposta “não-oficial” do Metrô de São Paulo, por exemplo. Será mesmo? Será que satirizar quem age de forma errada pode gerar tanto ônus? Ou será que o benefício de mostrar o quão “animal” cada um de nós está sendo diariamente não poderia ser maior que tais ações judiciais?
E a cidadania precisa ser resgatada, pois sem ela não teremos condições de chegarmos ao que o Brasil merece ser: um país de todos para todos.
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