quinta-feira, 8 de maio de 2014

Governo estuda nova estrada para desafogar trânsito para o litoral

Rodovia teria 36 quilômetros, com início no Trecho Leste do Rodoanel, que está em construção; motorista seguiria percurso formado por túneis e viadutos até a área continental de Santos, na altura do pedágio da Rodovia Cônego Domenico Rangoni


ADRIANA FERRAZ - O Estado de S.Paulo
Os longos congestionamentos que ocorrem em feriados e fins de semana de calor nas rodovias que levam ao litoral paulista poderão ser reduzidos dentro de cinco ou seis anos. Isso se a nova proposta de acesso às praias em análise pelo governo do Estado sair do papel. O estudo prevê a construção de uma via para ligar a cidade de Suzano, na Grande São Paulo, à Baixada Santista e ao litoral norte.
A estrada em análise tem 36 quilômetros, com início no futuro Trecho Leste do Rodoanel, já em construção. O acesso seria feito nas proximidades da Estrada dos Fernandes, em Suzano. De lá, o motorista seguiria um percurso formado por túneis e viadutos até a área continental de Santos, a apenas 15 minutos da entrada do Guarujá, na altura do pedágio existente na Rodovia Cônego Domenico Rangoni. Nesse ponto, um túnel serviria de rota especialmente para veículos de carga até o Porto de Santos.
O projeto prevê ainda que a futura estrada dê acesso direto à Rodovia Rio-Santos, via Bertioga, proporcionando rota alternativa para as cidades do litoral norte (veja ao lado). A expectativa é de que a viagem de Suzano a Santos leve cerca de 40 minutos e possa ser inaugurada em 2019, caso a proposta apresentada ao governo seja levada adiante sem atrasos.
A iniciativa de projetar a nova rodovia é do Grupo Bertin, dono da Contern, responsável pela construção dos Trechos Leste e Sul do Rodoanel. Na próxima semana, a construtora - que firmou um Procedimento de Manifestação de Interesse (PMI) com o governo - apresentará informações adicionais à Secretaria Estadual de Logística e Transportes, que participa das negociações com representantes das prefeituras de Santos e Suzano.
Batizada preliminarmente como Via Mar, a nova rodovia ainda poderá ajudar a desafogar as pistas da Cônego Domenico Rangoni nas proximidades do acesso ao Porto de Santos. Não raramente, a estrada fica completamente parada pelo excesso de caminhões no complexo portuário. Com o túnel em direção a Santos, a via daria acesso a São Vicente e Praia Grande e aos municípios do litoral sul: Itanhaém, Peruíbe e Mongaguá.
O modelo final depende da aprovação do governo, que oficialmente afirma apenas cogitar a proposta. Os estudos da Contern devem estender-se até março, quando o Estado planeja abrir chamamento público para o desenvolvimento do projeto executivo da obra.
Para o professor de Transportes da Fundação Educacional Inaciana (FEI) Creso de Franco Peixoto, o governo caminha para a construção de uma nova via no sentido litoral, assim como ocorreu no fim dos anos 1990, quando se optou pela segunda pista da Imigrantes. "Ainda temos essa tendência de investir em soluções rodoviárias, sempre paliativas. A prioridade deveria ser o transporte público. De todo modo, o sistema está mesmo saturado, reflexo direto do nosso enorme índice de motorização", diz.
Rota. A nova rota para o litoral seria uma boa alternativa especialmente para moradores da zona leste da capital, de Guarulhos e até do interior, via São José dos Campos. Pelo projeto, o percurso teria cerca de três ou quatro viadutos - a maior parte do percurso seria feita por túneis profundos, cavados a mais de 20 metros.
A construção por túneis é condição para viabilizar o negócio do ponto de vista ambiental, apesar de dificultar do ponto de vista financeiro - o método é de seis a dez vezes mais caro. Segundo projeto da Contern, ao qual o Estado teve acesso, esses túneis teriam três faixas de rolamento em cada um dos sentidos e altura suficiente para receber, no "subsolo", uma ferrovia para transporte de cargas e dutos para levar líquidos, como etanol, do Planalto ao litoral.
Mesmo com alta tecnologia, a execução do trajeto causaria impacto no Parque Estadual da Serra do Mar, área de preservação ambiental. Por causa do risco, outro projeto de estrada rumo ao litoral, via Parelheiros, na zona sul, está praticamente descartado. O percurso até Itanhaém exigiria ainda mais desmatamento.

Em dez anos, o fluxo aumentou 35% na Anchieta-Imigrantes

Entregue no fim de 2012 com a promessa de resolver a lentidão registrada no sistema que leva às cidades da Baixada Santista e do litoral sul, a segunda pista da Rodovia dos Imigrantes, no trecho de serra, já não consegue o efeito desejado. No feriado prolongado da República, mesmo com a pista em operação, motoristas demoraram até seis horas para chegar ao litoral.
Os números explicam parte da saturação. Segundo a concessionária que administra o Sistema Anchieta-Imigrantes, o volume de carros de passeio cresceu 35% de lá pra cá, passando de 24,7 milhões, em 2002, para 33,3 milhões, em 2012. O tráfego de veículos pesados aumentou ainda mais. O incremento foi de 59% - de 4,2 milhões, em 2002, para 6,8 milhões em 2012.
Quando o calor aperta, os carros ocupam todos os acessos. Há uma semana, no feriado da República, os motoristas levavam duas horas somente para percorrer os 29 quilômetros da Cônego Domenico Rangoni, que leva ao Guarujá.
E a lentidão deve repetir-se. As obras de ampliação da capacidade só devem ficar prontas em setembro de 2014. O pacote custa R$ 328 milhões e inclui a implementação de anel viário, interligando as Rodovias Anchieta, Imigrantes, Padre Manuel da Nóbrega e Cônego Domenico Rangoni. Haverá uma terceira faixa entre o km 270 e o km 262, na região de Cubatão. / A.F.
Fábio Munhoz
Do Diário do Grande ABC
Nario Barbosa/DGABC
Projeto sob análise do governo do Estado visa desafogar congestionamentos no SAI (Sistema Anchieta-Imigrantes), principal ligação de caminhões de cargas com o Porto de Santos – maior terminal marítimo da América Latina. A proposta, desenvolvida pela empreiteira Contern, aponta para a construção de rodovia entre Ribeirão Pires e a Baixada Santista. A obra está orçada em cerca de R$ 14 bilhões.
A empresa, integrante do consórcio responsável pelos trechos Sul e Leste do Rodoanel, entregou no ano passado à Secretaria Estadual de Logística e Transportes uma declaração de manifestação de interesse pela execução da obra. O documento está em fase de avaliação, etapa que não tem data para conclusão.
O projeto recebeu o nome de ViaMar e sugere traçado de aproximadamente 36 quilômetros, ligando o acesso ao futuro Rodoanel Leste – na divisa entre Ribeirão Pires e Suzano – até a porção continental de Santos, próximo aos bairros Estuário e Saboó. Para mitigar os impactos ambientais na Serra do Mar, 22 quilômetros da via passarão por dentro de um túnel (leia abaixo).
Além da rodovia com três faixas de rolamento em cada sentido, o projeto também inclui ferrovia, dutos para transporte de líquidos e duas plataformas de logística, de acordo com o diretor de Engenharia da Contern, José Carlos Britto.
As plataformas – uma no Planalto e outra na Baixada – têm como objetivo funcionar como porto seco, onde os caminhões poderão descarregar os contêineres, reabastecer e iniciar o percurso de volta. A carga, então, seria colocada em trens e enviada ao terminal marítimo. “Com isso, trazemos para o Planalto diversos serviços que hoje só são feitos em Santos. Haverá ganhos em tempo, dinheiro e espaço do porto”, explica.
Atualmente, os caminhões só podem descer a serra pela Via Anchieta, estrada que, segundo especialistas ouvidos pelo Diário (leia ao lado), está saturada. “Em alguns casos, os motoristas têm de esperar até três dias no porto para descarregar”, acrescenta Britto. A agilização desse procedimento pode refletir, inclusive, em redução de preços finais de mercadorias. Isso porque mais entregas podem ser feitas em um mesmo espaço de tempo, diminuindo o custo operacional para as empresas.
Para que o empreendimento saia do papel, o Estado precisa aprovar o projeto e lançar chamamento público para que outras empresas interessadas na construção se apresentem e, então, iniciar processo de licitação. Caso outra companhia vença a concorrência, a Contern seria ressarcida pelo valor investido nos estudos. A Secretaria Estadual de Transportes e Logística confirma que o projeto está sob análise, mas não informa prazos.
Britto acredita que é possível iniciar o certame ainda neste ano. As obras, afirma o diretor, têm prazo estimado de cinco anos. Dos R$ 14 bilhões investidos, a Contern se propõe a aplicar R$ 4 bilhões. O restante seria injetado por Estado e União.
Especialistas apontam risco de colapso na Via Anchieta
Principal acesso ao Porto de Santos, a Rodovia Anchieta não tem mais condições de atender às necessidades do maior terminal marítimo da América Latina. Especialistas ouvidos pelo Diário salientam que, caso o porto aumente o volume de cargas transportadas, o SAI (Sistema Anchieta-Imigrantes) entrará em colapso.
O arquiteto e urbanista Wagner Ferreira, especialista em navegação de portos, afirma que o terminal de Santos tem capacidade para movimentar 200 milhões de toneladas de carga ao ano. “Mas esse volume todo não tem como chegar até lá. Dizer que o SAI não está saturado é não enxergar o problema”, avalia. No ano passado, a movimentação foi de aproximadamente 114 milhões de toneladas.
Ferreira elogia o fato de o projeto permitir que parte dos serviços hoje feitos em Santos possam ser transferidos para as plataformas de logística. “Dá para trazer toda a operação para o Planalto e aumentar a capacidade do porto”, comenta. O especialista acrescenta que a economia do Grande ABC será fortalecida em razão das empresas de logística que migrarão para a região.
O engenheiro Adriano Murgel Branco, ex-secretário estadual de Transportes, aponta para a redução nos custos operacionais, além da diminuição da poluição devido ao menor número de caminhões. A previsão é que o novo complexo possa transportar 4 milhões de toneladas ao ano, entre os modais rodoviário e ferroviário.
O turismo na Baixada Santista também pode ser fortalecido, na visão de Branco. “Para os usuários comuns, o maior benefício é que o Sistema Anchieta-Imigrantes sai do risco de colapso. Os automóveis terão vias mais livres e com menor risco de acidentes.” O especialista admite que ainda é difícil mensurar valores, mas estima que os retornos financeiros comecem a surgir dez anos depois da inauguração.
Via terá maior túnel rodoviário do País
Uma das soluções encontradas para diminuir ao máximo o impacto ambiental gerado pela implantação do Projeto ViaMar é a construção de um túnel de aproximadamente 22 quilômetros. Será a maior passagem subterrânea em uma estrada brasileira. Atualmente, a mais extensa fica na Rodovia dos Imigrantes, com 3,1 quilômetros.
O diretor de Engenharia da Contern, José Carlos Britto, informa que o túnel terá 16 metros de altura e será dividido em dois andares. O pavimento superior será ocupado pela rodovia, com três faixas de rolamento em cada sentido. O andar inferior terá ferrovia e dutos para o transporte de cargas líquidas, como combustíveis e suco de laranja. O engenheiro acrescenta que a via férrea – que terá intervalo aproximado entre trens de 29 minutos – também poderá ser utilizada por passageiros. O governo estadual, inclusive, tem planos para a construção de quatro trens regionais. Um deles ligará o Grande ABC a Santos.
Após o término do trecho subterrâneo, a via passará por cima da Rodovia Cônego Domênico Rangoni, próximo ao pedágio, e terminará na parte continental de Santos, já no entorno do terminal marítimo.
A estimativa é que a descida seja feita em cerca de 30 minutos por automóveis. Já a viagem de trem deve durar em torno de uma hora.
O projeto prevê movimentação diária de 6.000 caminhões e 17 mil carros de passeio ao dia. Na Anchieta, o volume diário médio gira em torno de 22,8 mil veículos, segundo a Secretaria Estadual de Logística e Transportes.

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