Qual é o impacto da Petrobras no desenvolvimento de ciência e tecnologia entre empresas de capital nacional e centros de pesquisa universitários? Na tentativa de responder a essa pergunta a companhia brasileira encomendou ao Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea) o estudo “Petróleo em águas profundas”, que se tornou um livro produzido pelo pesquisador José Mauro Morais, participante do 42º Fórum Brasilianas, realizado em setembro, no Rio de Janeiro.
Morais explicou que a formação de redes de pesquisa e negócio faz parte da própria história do petróleo no mundo. "As empresas petroleiras, principalmente a partir da década de 50, desenvolveram seus projetos de pesquisa e desenvolvimento de sistemas de exploração por meio da interação com universidades e empresas fornecedoras, formando redes".
No Brasil, continuou Morais, a inovação no setor evoluiu a partir das necessidades da Petrobras. “Nós identificamos que cerca de oito mil pesquisadores participam atualmente das redes de pesquisa da Petrobras que estão incorporadas aos estudos desenvolvidos nas universidades em função de solicitações e de pesquisas da companhia”.
O resultado das pesquisas encomendadas e orientadas pela companhia nos últimos dez anos originou cerca de 580 inovações tecnológicas, ou seja, novos equipamentos e serviços utilizados no setor de exploração e produção.
Em vinte anos, os acordos entre Petrobras e universidades originaram cerca de quatro mil projetos de pesquisas que foram distribuídos entre 100 instituições de ensino brasileiras das quais a mais importante é a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), responsável por mil pesquisas no período de 1992 a 2009. E o custo desses contratos para a Petrobras, segundo Morais, totalizaram 3 bilhões de reais em valores correntes.
Desses investimentos resultou a série de recordes de exploração de petróleo em águas profundas batidos pela companhia de 1979 até 2012. “Nesse período, a Petrobras avança desde 189 metros abaixo do nível da lâmina d’água, no campo de Enchova, onde estabelece seu primeiro recorde mundial, até os 2.500 metros alcançados na instalação de uma unidade flutuante de produção em Cascade, no Golfo do México, em 2012”.

Gráfico ilustra os recordes mundiais que ocorreram no período de 1979 a 2012 na exploração e produção de petróleo em águas profundas. Fonte: José Mauro Morais/Ipea
Histórico
Em 1955, a Petrobras lança o Cenap (Centro de Aperfeiçoamento de Pesquisa em Petróleo), Onze anos depois, implanta o atual Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes) e, em 1976 desloca o centro para a Ilha do Fundão, dentro da Cidade Universitária da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Com a descoberta de petróleo em águas profundas no Campo de Marlin, em 1985, a companhia lança o Procap 1.000 (Programa de Capacitação Tecnológica em Águas Profundas), com o intuito de desenvolver e aperfeiçoar a exploração em até mil metros de profundidade da lâmina d’água. O programa dura até 1991, mas seu sucesso originou as edições Procap 2.000, com duração até o ano de 2000 e Procap 3.000, concluído em 2010.
A camada pré-sal de petróleo, encontrada na costa brasileira, está a mais de 2 mil metros de profundidade da lâmina d’água,
sendo agora a atual fronteira tecnológica que a Petrobras precisa transpor, pois existem dados preliminares que apontam profundidade superior a 4 mil metros. 
Morais destacou durante o evento que, para melhorar o grau de eficiência dos investimentos feitos em pesquisa e desenvolvimento, a empresa mantém hoje 50 redes temáticas com universidade e centros de pesquisa, ou seja, em áreas prioritárias para o desenvolvimento de novas tecnologias ou procedimentos, na visão da Petrobras.

José Mauro Morais, pesquisador do IPEA / Imagem: Ignacio Lemus