Revista IstoÉ
Documentos revelam que dirigente da CPTM nas gestões dos tucanos Mário Covas e Geraldo Alckmin recebeu propina de empresas do cartel da área de transportes
Alan Rodrigues, Pedro Marcondes de Moura e Sérgio PardellasACUSAÇÃO
João Roberto Zaniboni, ex-diretor de
operações da CPTM: ele teria recebido
pelo menos US$ 200 mil em propina
As investigações sobre o esquema de corrupção que operou nos trilhos paulistas avançam na direção de agentes públicos das gestões tucanas de São Paulo. Integrantes do Ministério Público e da Polícia Federal dizem que “mais de uma dezena” de executivos de estatais que passaram pelos sucessivos governos do PSDB não só foi omissa como também participou das fraudes e do superfaturamento de contratos firmados com o Metrô paulista e a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM). Documentos e depoimentos obtidos nas últimas semanas já apontam os nomes de servidores estaduais que se beneficiaram financeiramente das tramoias. É o caso de João Roberto Zaniboni, diretor de operações da CPTM entre 1999 e 2003 (gestões Mário Covas e Geraldo Alckmin). De acordo com provas enviadas por autoridades suíças, uma conta de Zaniboni na Suíça foi abastecida com US$ 836 mil, o equivalente a R$ 1,8 milhão, no período em que ele era dirigente da estatal. Ao menos US$ 200 mil foram pagos a título de propina pelas empresas do cartel em troca da obtenção da conquista de certames ou aditamentos.
Chamam a atenção do Ministério Público e da Polícia Federal a correlação entre as decisões tomadas pelo então diretor de operações da CPTM João Roberto Zaniboni e os depósitos feitos em sua conta fora do País. A dinheirama ingressava logo após ele assinar aditamentos em contratos firmados pela CPTM e empresas acusadas de integrar o cartel dos trens. Foram ao todo cinco canetadas, que representaram uma elevação de despesas de cerca de R$ 12 milhões ao erário paulista. O ex-dirigente da estatal repassou, em 2007, parte do dinheiro que recebeu para uma conta em nome da filha nos Estados Unidos. Segundo sua defesa, o valor foi recebido em troca da prestação de serviços de consultoria realizados antes de sua entrada no governo.
Um dos aditamentos autorizados por Zaniboni ocorreu em 20 de outubro de 2000. Além de alterar o prazo do contrato, a manobra ampliou em 24,8% o valor do serviço acertado com a Daimler Chrysler Rail Systems para a manutenção de trens. Em outro aditamento, realizado em 20 de dezembro, um acordo de prestação de serviço similar assinado com a Alstom foi reajustado para cima em cerca de R$ 4 milhões. Na lista das empresas beneficiadas pelos aditamentos aparecem ainda outras companhias apontadas pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) como integrantes do cartel que atuou em São Paulo.
As conexões entre João Roberto Zaniboni e a máfia dos trilhos paulistas, conforme a investigação, não param por aí. Ao rastrearem a origem dos depósitos em uma conta mantida por ele no banco Credit Suisse, que leva o nome de Milmar em uma homenagem a familiares, autoridades identificaram um depósito de US$ 103,5 mil, efetuado em 27 de abril de 2000. O valor foi transferido de outra conta do Credit Suisse. Identificada pelo código 524374 Rockhouse, a conta pertence ao lobista Arthur Teixeira, principal operador do esquema de corrupção. As remessas teriam como origem os caixas do conglomerado francês Alstom e foram efetuadas por meio de uma sofisticada engrenagem financeira, usada também pela Siemens, como revelou ISTOÉ em julho.
SANGRIA PÚBLICA
O cartel que superfaturou contratos foi criado na
gestão do ex-governador do PSDB Mário Covas
Para não deixar rastros, a multinacional francesa e sua subsidiária no Brasil firmaram um contrato de fachada de consultoria com a offshore uruguaia Gantown Consulting S/A, controlada por Arthur Teixeira. Na prática, Teixeira fazia apenas o papel de intermediário no pagamento de propina da empresa a políticos e servidores públicos. O MP e a PF ressaltam que, nos contratos acertados entre a Gantown e a Alstom, aparecem licitações sobre as quais Zaniboni deu aditamentos. Na última semana, diante das denúncias, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), declarou que “seja funcionário ou ex-funcionário haverá tolerância zero” a essas práticas criminosas.
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