15/05/2016 08:17 - Folha de SP
"Uh, é taxista! Uh, é taxista!" foram as palavras que ecoaram nas galerias da Câmara de São Paulo durante as discussões, de abril a maio deste ano, sobre o projeto que legalizaria aplicativos que ligam passageiros a motoristas particulares na cidade.
Aos gritos de "Fora Uber", os mesmos taxistas fizeram bloqueios na região central e na avenida 23 de Maio na última terça-feira (10) para protestar contra o decreto do prefeito Fernando Haddad (PT), que regulamentou o serviço de seus concorrentes.
Desde o ano passado, os motoristas de táxi mostram que exercem pressão capaz de barrar projetos que, segundo eles, ameaçam ilegalmente a categoria.
Para especialistas e políticos ouvidos pela Folha, essa pressão ocorre porque a categoria, formada por cerca de 70 mil trabalhadores (contando o dono do alvará e um preposto), tem eleitores em potencial e é alinhada a gestores conservadores que, na teoria, protegem esses profissionais.
Ao cercarem o Legislativo na semana retrasada, conseguiram impedir que vereadores aprovassem a lei para legalizar o Uber. Não evitaram que o prefeito liberasse depois o serviço por decreto, mas prometem derrubá-lo. Para isso, contam com recursos à Justiça e com aliados na Câmara.
A aproximação de taxistas com políticos ocorre ao menos desde 1969. Naquele ano, uma lei definiu as regras para os táxis na cidade, que hoje funcionam com base em cerca de 38 mil alvarás. As licenças podem ser passadas de pai para filho e, ao longo dos anos, passaram a ser negociadas numa espécie de mercado paralelo.
MALUF
Estampada na Folha em 2 de janeiro de 1993, a foto de Paulo Maluf dentro de um táxi Opala branco chegando à Câmara para discursar aos vereadores é um exemplo. No banco da frente estava Natalício Bezerra, já presidente do sindicato dos motoristas de táxi, cargo que ocupa até hoje. Foi o mesmo Maluf que criou, 23 anos antes, a lei que regulamentou o serviço.
De Jânio Quadros, a categoria obteve outras vitórias. Em 1986, o então prefeito reajustou as corridas em 36%. No ano seguinte, criou por decreto uma categoria de ambulância com taxímetro, medida polêmica pela qual um paciente usaria o táxi para as emergências de saúde. A ideia fracassou.
Marta Suplicy (2001-2004) e Luiza Erundina (1989-1992), ambas petistas, sofreram em seus mandatos protestos de taxistas. De Marta, eles exigiram mais alvarás –sorteados nos últimos anos de gestão. De Erundina, reajustes nas tarifas e o fim da padronização de cor do carro.
Para o cientista político Marco Antonio Teixeira, da Fundação Getúlio Vargas, os taxistas são mais ligados a políticos conservadores. "Esse prefeitos desenvolveram diálogo com a categoria por entender que ela é numerosa. Do ponto de vista eleitoral, tem aquela história de que taxista sempre pode influenciar passageiro", diz Teixeira.
Para o professor, a categoria tem influência a ponto de obter benefícios históricos, como a isenção de impostos na compra de carros e uso de pistas exclusivas para ônibus. O próprio Haddad, mesmo regularizando o Uber, ampliou o uso de faixas de ônibus por taxistas, numa maneira de acalmar a categoria. Não surtiu o efeito desejado. "Eles sabem jogar na cena política. Tanto que, se não há vereadores-taxistas, há interlocutores", disse Teixeira.
Atualmente, esses interlocutores são Adilson Amadeu (PTB) –que é despachante– e Salomão Pereira (PSDB), do Sindicato dos Taxistas. Ambos levantaram a bandeira contra o Uber no Legislativo. "Respeito o prefeito, mas hoje taxistas reclamam dele para cada passageiro. Jânio e Maluf nos atendiam a qualquer hora. O Haddad não atende ninguém", disse o presidente do sindicato. O petista afirma que atende.
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