Embarq Brasil
Por Priscila Pacheco e Lara Caccia
A rápida urbanização e o crescimento das cidades podem causar uma série de problemas urbanos, mas também são uma oportunidade de mudar a maneira como são planejadas e de transformá-las em lugares mais sustentáveis e voltados para as pessoas. Repensar os padrões de expansão das cidades, adotando um modelo mais compacto, de desenho urbano mais conectado, pode ampliar as oportunidades de emprego, o acesso a espaços públicos de qualidade, a oferta de transporte sustentável, o estímulo à mobilidade não motorizada e a vitalidade econômica. Hoje, vemos nossas cidades crescerem dentro um modelo de ocupação territorial 3D – distante, disperso e desconectado. A expansão sem planejamento potencializa a segregação social e territorial e leva ao aumento dos congestionamentos e da poluição, uma vez que exige das pessoas mais tempo e maiores distâncias nos deslocamentos diários. O Desenvolvimento Orientado pelo Transporte Sustentável é um modelo de planejamento que busca mudar essa lógica a partir da construção de comunidades urbanas sustentáveis: bairros compactos e de alta densidade populacional, com diversidade de usos, serviços e espaços públicos e que favoreçam a mobilidade sustentável e o desenvolvimento econômico.
Bairros compactos geram mais oportunidades de emprego e facilitam o acesso a elas. O uso misto do solo e a diversidade de atividades no nível da rua promovem o tráfego de pessoas a pé, movimentando o comércio e a economia local. Ao qualificar o desenho e o crescimento urbanos, o DOTS também promove o desenvolvimento econômico, e é sobre isso que o Nossa Cidade fala hoje.
O planejamento urbano que estimula a economia
O planejamento urbano que estimula a economia
As baixas densidades populacionais e a expansão territorial por áreas distantes e desconectadas dos centros das cidades têm como consequência o aumento dos custos com infraestrutura urbana e manutenção dos serviços, além dos prejuízos causados pelo maior tempo de deslocamento das pessoas que moram nesses locais. Em 2013, os congestionamentos registrados nas regiões metropolitanas de São Paulo e Rio de Janeiro geraram um custo de R$ 98 bilhões, o equivalente a 2% do PIB do país naquele ano. Se o cálculo levasse em conta também custos decorrentes dos acidentes de trânsito e problemas de saúde causados pela poluição, o número seria ainda maior.
Ao promover um modelo de desenvolvimento 3C – compacto, conectado e coordenado –, o DOTS exerce impacto direto na mobilidade e na economia, diminuindo os tempos de deslocamento, contribuindo para a redução de congestionamentos e emissões de poluentes; em suma, facilitando o acesso à cidade e estimulando a atividade econômica nos bairros.
Quando o transporte coletivo é estruturado em função de conexões de baixa densidade populacional e longas distâncias, o serviço muitas vezes acaba se tornando ineficiente, por conta de fatores como horários irregulares, poucos itinerários e pontos de embarque e desembarque espaçados. Tudo isso contribui para o aumento dos custos de operação do serviço e, consequentemente, da tarifa paga pelos usuários.
Em função disso, um dos princípios do DOTS é o transporte coletivo de qualidade. O transporte coletivo está diretamente relacionado com o desenvolvimento das cidades e, para funcionar de forma eficiente e acessível, depende de bairros mais bem conectados e equipados em termos de infraestrutura. As boas condições de operação do serviço contribuem para atrair novos usuários e reduzir a dependência do automóvel, gerando menos custos tanto para as pessoas quanto para as cidades.
Junto ao transporte coletivo, também são elementos do DOTS a mobilidade não motorizada e a gestão do uso do automóvel. Ao oferecer as condições necessárias para que as pessoas possam se deslocar a pé, de bicicleta ou pelos modais coletivos com conforto e segurança, as cidades ajudam a promover um uso mais racional e equilibrado do carro. Dessa forma, contribuem para diminuir o número de acidentes e mortes no trânsito, bem como o de problemas de saúde causados pela má qualidade do ar, evitando gastos significativos com saúde.
Outro aspecto pelo qual as diretrizes do DOTS beneficiam economicamente as cidades reside no uso misto do solo. Os empreendimentos habitacionais, em particular as moradias populares, muitas vezes não contemplam serviços oferecidos no meio urbano, como pontos comerciais próximos. Essa lacuna no atendimento às necessidades dos moradores implica uma série de gastos tanto para eles quanto para as incorporadoras imobiliárias e autoridades locais. Além do custo referente aos deslocamentos diários impostos aos moradores, desperdiça-se uma oportunidade de gerar renda para as famílias locais e estimular a economia. O uso misto do solo potencializa a atividade econômica porque diversifica as funções, promovendo a oferta de serviços e o acesso a eles.
Bairros sem opções de atividade urbana ou espaços públicos de qualidade obrigam as pessoas a se deslocar se quiserem ter acesso a esses locais. Os centros de bairro e pisos térreos ativos qualificam a relação do espaço público com as pessoas e o ambiente construído, criando espaços e oportunidades de interação social e reduzindo a necessidade de deslocamentos. São também uma forma criar centralidades e conferir vitalidade aos bairros e ao comércio local, que se beneficia do maior fluxo de circulação de pessoas.
Bairros mais conectados, menos tempo gasto nos deslocamentos, menos viagens diárias. Redução dos congestionamentos e das emissões de poluentes, estímulo ao transporte ativo, mais acesso à cidade e às oportunidades que ela oferece. O modelo de planejamento das cidades determina os usos que fazemos dela, como nos movimentamos e quanto tempo e dinheiro gastamos com isso. As soluções do DOTS foram desenvolvidas para criar um ambiente mais conectado e acessível, reduzindo gastos individuais e públicos e garantindo mais qualidade de vida a partir da apropriação dos espaços públicos da cidade pelas pessoas.
Edição Especial: Nossa Cidade + #CTBR2015
O projeto Nossa Cidade, do TheCityFix Brasil, explora questões importantes para a construção de cidades sustentáveis.
O Desenvolvimento Orientado pelo Transporte Sustentável – DOTS é um dos temas abordados no Congresso Internacional Cidades & Transportes. O encontro, nos dias 10 e 11 de setembro no Rio de Janeiro, reunirá gestores públicos e especialistas que desenvolvem projetos em temáticas-chave para moldar o futuro das nossas cidades – clima, mobilidade, segurança viária, governança, entre outros.
Até lá, o Nossa Cidade traz edições especiais para aprofundar o debate nestes importantes temas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário