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Há muito tempo São Paulo sofre com a falta de calçadas com qualidade, porém a conquista de ciclovias na cidade acabou gerando uma discussão mais ampla sobre a mobilidade ativa.
Assim acaba de nascer a Associação pela mobilidade a pé em São Paulo, que reúne pessoas que lutam por calçadas acessíveis a todos.
“Somos muitos os que se deslocam a pé na cidade, existem várias ações individuais na cidade, mas não tínhamos uma organização que nos representasse.” – conta a tradutora Joana Canedo, uma das idealizadoras do projeto: ” Por que os ciclistas conseguiram as ciclovias? Porque se organizaram e participaram das audiências e reuniões referentes a mobilidade urbana. Então criamos essa associação e queremos fortalecê-la com o tempo para termos voz e lutarmos por mais acessiblidade” – completa.
E a luta não é somente por calçadas. Tempo de travessia, mais faixas para pedestres, entre outros estão na pauta da associação: “O tempo de travessia nas faixas de pedestres por exemplo é calculado pra quem não tem nenhum tipo de mobilidade reduzida. Queremos pensar a cidade pra que QUALQUER PESSOA consiga chegar do ponto A ao B sem obstáculos no caminho” – explica Joana.
A produtora cultural Silvia Albertini, nascida em Milão, mora em São Paulo há 8 anos e sempre se deslocou a pé, por bicicleta ou transporte público. Depois do nascimento de sua primeira filha em 2013, percebendo a dificuldade em circular com o carrinho de bebê, criou a páginaCalçada Livre no facebook. “Eu acabo pegando o metrô e indo andar na av. Paulista, porque é onde eu consigo passear com minha filha – afirma Silvia.
Para estimular a caminhada e um contato mais próximo com a cidade , também surgiu oSampapé, promove passeios culturais a pé pela cidade.
Calçada nunca teve importância no planejamento urbano
Segundo a arquiteta e urbanista Raquel Rolnik, a cidade não é assim por falta de planejamento. “Ela é assim porque foi governada por uma política urbana que priorizou dois elementos basicamente: a cidade como um lugar para fazer negócios -pra gerar renda, emprego, riqueza – e a ideia do privado como elemento estruturador e não público.” – conta Raquel na conversa “Cultura e Espaço Público” – promovida pelo Coletivo A Batata precisa de você, no largo da Batata. E conclui: “O espaco público é basicamente um lugar para ligar pontos privados, é um lugar para circular mercadorias e pessoas. A rua é um lugar pra carros , a calçada é a mínima possível. Por exemplo: a (av. Luiz Carlos) Berrini tem uma calçada em alguns lugares de 60 cm, ou seja, não tem menor importância a calcada , é um lugar para o carro acessar uma torre, um estacionamento e acontecer tudo dentro de um espaço fechado.”
Por isso a arquiteta ressalta a importância política e na política urbana da cidade de movimentos que estão defendendo a valorização do espaço público.
Segundo pesquisa Origem Destino realizada pelo metrô, cerca de 30% da população se desloca exclusivamente a pé. Isso não inclui pessoas que caminham na hora do almoço nem as que estão caminhando para pegar o ônibus, por exemplo.
O fato é alem dos 30%, o resto da população faz alguma parte do caminho a pé, seja até pra pegar o carro no estacionamento. No fim somos todos pedestres.
Calçadas são de responsabilidade privada
Como as calçadas são de responsabilidade dos proprietários dos terrenos, é mais difícil criar meios para que sejam padronizadas. Apesar da prefeitura disponibilizar uma cartilhacom instruções e especificações das mesmas, na prática não é o que se vê.
Na cartilha as calçadas foram divididas em 3 faixas: faixa de serviço– destinada a colocação de árvores, postes de sinalização e mobiliário urbano, faixa livre – que deve ter 1,20cm e faixa de acesso – que é de apoio a propriedade. Mas é difícil encontrar uma calçada que seja adequada a esses pré-requisitos.
Nessa nova calçada ( foto abaixo), readequada depois da reurbanização da Faria Lima, além do piso liso, há espaço para postes e árvores, e as mesas do bar da esquina não atrapalham a circulação de pedestres. Mas no entorno próximo, já voltam a ser estreitas e impossíveis de andar.
“Um dos pontos que queremos levantar também são as fontes de investimentos para calçadas. Muito deve ser público, da mesma maneira que a prefeitura é responsável pelo leito carroçavel, por que não seria pelo leito ‘andável’?” – justifica Joana, que questiona as contrapartidas das obras viárias da cidade. ” Ao invés de construirmos túneis, poderíamos ter mais investimentos nas calçadas”. – completa.
Mas pensando nas novas diretrizes da cidade que agora prioriza pedestres, ciclistas e transporte público, está mais do que na hora de criarmos esses movimentos e mostramos essa demanda. Quem sabe algum dia conseguimos a cidade ideal.
Imagem do post: Travessia no Centro de SP. Foto: Rachel Schein
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