AUTOR: LUCAS CHICONI //
Quinta cidade mais populosa da nação e nona maior área urbana, com 2,5 milhões de habitantes e 193,4 km², respectivamente. Capital do estado nordestino do Ceará, se coloca como a cidade mais rica desta região e a décima no ranking nacional.
Porém, sua região metropolitana, com 3,8 milhões de habitantes, possui um PIB inferior ao das metrópoles do Recife e Salvador, caindo para a terceira posição no Nordeste e se mantendo na décima-terceira a nível nacional, com uma riqueza estimada em aproximadamente R$ 59 bilhões.
Destes, R$ 43,4 bilhões pertencem ao município de Fortaleza. Esta riqueza transparece na imponência de seus edifícios que formam um grande skyline em sua orla tropical, na sua imensa catedral, no aeroporto internacional, na Arena Castelão, no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, nos edifícios comerciais do Centro, no Porto do Mucuripe, na sua influência regional e nos seus eventos, além da farta variedade gastronômica oferecida.
E claro, as belas praias, bem variadas, que existem nos seus arredores. Contudo, aparentemente, ao projetar e construir tantas edificações não se pensou que se estava construindo uma cidade, um espaço urbano, uma metrópole. Fortaleza não é a única a cometer este erro, mas dentre as metrópoles que conheço com maior critério (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba, Campinas, Santos, Natal e Florianópolis), este me pareceu o caso mais preocupante na deficiência do planejamento urbano e, consequentemente, dos espaços públicos.
Ao desembarcar no Aeroporto Internacional Pinto Martins, vemos um bravo skyline aliado ao céu azul. Uma cidade influente, rica por natureza. Porém, ao sair do aeroporto e tomar o táxi, o olhar técnico de urbanista me desperta a começar a criticar: imensas vias expressas, mas sem notar um transporte coletivo de massa; calçadas/passeios da maior precariedade, além da ausência destes em muitos pontos; carência de prioridade ao transporte coletivo, neste caso, os ônibus que são obrigados a disputar o espaço com os automóveis particulares, motos, bicicletas e táxis.
Notei que o limite de velocidade é alto em boa parte das vias, o que nos passa uma sensação de insegurança como pedestres. Hospedado no Meireles, bairro mais nobre da cidade e detentor da maior parte dos edifícios que formam o skyline da cidade, foi uma surpresa bem negativa perceber a imensa deficiência das calçadas e da ocupação desta localidade tão privilegiada por sua localização e status social.
Calçadas esburacadas, falta de continuidade dos eixos de comércio e serviço, prioridade ao automóvel – em toda a cidade, fato – calçadão estreito e sem infraestrutura básica, como chuveiros e sanitários, além de pontos com deficiência na iluminação durante a noite;
falta de rampas de acessibilidade nas esquinas e cruzamentos, algo que me chocou e abalou muito nesta visita à Cidade Sol. Caminhar por suas ruas é mais intenso que uma malhação de pernas, visto a altura das calçadas em relação ao leito carroçável.
Praia de Iracema, um imenso aterro desértico com uma fileira de coqueiros. Visto que estamos em uma cidade de clima tropical, o paisagismo deveria projetado, principalmente, para fornecer sombra aos pedestres.
A reforma no calçadão, apenas em Iracema, é nítida pelo piso de melhor qualidade, porém, deficiente quando notamos as rampas de acessibilidade fora da norma e a descontinuidade desse espaço público ao atravessar a Avenida Beira Mar pela faixa de pedestres, pois chegando ao outro lado não temos nem se quer essa rampa. Portanto, se torna cômica, se não fosse triste, a situação do espaço público.
Acostumado a utilizar o transporte coletivo e a caminhar muito no cotidiano de São Paulo, estar refém de uma cidade tomada por carros, num calor acima dos 30°C e com o maior prejuízo nos espaços de encontro da população é algo assustador.
São em situações como essa que notamos a eficiência e potência de uma cidade através da valorização das pessoas, dos habitantes daquela cidade. Alinhado a isso, a priorização das formas de mobilidade. Quando o pedestre é colocado acima das ciclovias, dos corredores de ônibus, dos trens, do metrô e das pistas para carros, você está automaticamente proporcionando valor a todos os habitantes daquela localidade. O espaço público é um bem coletivo, de inteiração, de atração e dá cara para a cidade.
Lembrar de São Paulo é ter em mente o Centro Histórico com seus diversos calçadões tomados por gente; o Vale do Anhangabaú, o Edifício Copan, que com seu aparato comercial no térreo, proporciona que a cidade aconteça abaixo de sua mega estrutura em forma de “S” que abriga cinco mil moradores; a Avenida Paulista com suas calçadas com 9 metros de largura e todo seu conjunto comercial, cultural, de lazer e populacional – nesta avenida residem 200 mil habitantes; o Ibirapuera e seus diversos parques espalhados por todas as regiões da megalópole; No Rio de Janeiro, o Aterro do Flamengo e os bairros de Copacabana e Ipanema. Em Belo Horizonte, o Complexo Cultural da Praça da Liberdade, a Praça da Savassi e as diversas vias que cortam esta região nobre da capital mineira.
Citei no início deste texto, diversos pontos monumentais da metrópole, mas ainda falta o que estou tentando exemplificar: os espaços públicos.
As calçadas e as praças que formam os caminhos que interligam estes pontos importantes citados no início. Nem tudo são críticas construtivas negativas, pois encontrei intervenções muito interessantes e que foram um suspiro de alívio diante das surpresas negativas, como a parte revitalizada da Avenida Monsenhor Tabosa, a qual conecta o Centro ao Meireles. A via recebeu um belo tratamento, com o alargamento das calçadas, que estão no mesmo nível do espaço dos carros (menor que o dos pedestres), além de caramanchões e bancos.
Porém, aí vem mais uma crítica: Apesar do avanço, esta via se torna um dos pontos mais inseguros da cidade durante a noite: por um lado, movimentada durante todo o dia graças às suas lojas e galerias. Por outro, morta durante à noite devido à pouca mistura de usos no local. Notei apenas dois pequenos edifícios residenciais, acima de lojas, e que anunciavam kitnets à venda ou para alugar. Fortaleza é uma metrópole belíssima, privilegiada por tantos atributos. Mas deve pensar diante de toda essa potência e, sempre, colocando a sua população acima de qualquer ocasião.
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